Culpado

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Jongin

Duas semanas após o crime que Jennie e eu sofremos, os soldados que não podemos saber os seus nomes verdadeiros apenas chama-los como "soldado", nos obrigou a mentir para todos, criou uma história que me machuquei em treinamento e que ela havia se assustado tanto que passou mal, uma mentira sem total criatividade mas ninguém com coragem para questionar. Eu queria fazê-lo sofrer, mas não podia, por enquanto ali havíamos suprimentos e maior chance de sobrevivência, por pouco tempo.
- Irmão. – Euntak chama estalando seus dedos em frente ao meu rosto. – Você está bem?. – Perguntou.
- Desculpe, estava distraído. – Respondo e sinto o olhar sério de meu irmão, ele sempre sabia quando escondo algo. – Estou irritado com aquele maldito, não quero mais ficar aqui.. eu tenho uma ideia, mas precisaria de mais alguém. – Sugiro. 
- Pode contar comigo. – Afirmou. 
Assenti confiante e caminho até a área feminina, é difícil conseguir ver a minha irmã com frequência pela as divisões, antigamente ela estava por perto o tempo todo. Caminho até o local de plantações e a vejo de longe com uma expressão fechada quase agredindo o pé de tomate, não contenho o riso, despertando ela de sua luta. Soobin sorri e se aproxima, beijando minha bochecha.
- Por favor, me diga que veio me resgatar daqui. – Ela choraminga fazendo beiço. 
- Ainda não. – Respondo. – Como você está?. – Pergunto.
- Tenho certeza que melhor que você, irmãozinho.. – Ela sugere. – Tem falado com a sua "namorada"? Ela está estranha, como se tivesse sido possuída por sua irmã mais velha, sorrindo o tempo todo. – Soobin diz e encara Jennie um pouco mais distante de nós, ela encarava fixamente cada legume que recolhia. 
- Eu vou falar com ela. – Digo e faço carinho em seu braço. 
Caminho até Jennie que estranhamente solta o cesto que segurava e corre sem rumo, sigo atrás dela tentando alcançar seu ritmo surpreendente para alguém com pernas curtas. Ela se esconde atrás de um trailer e se agacha no chão, sua respiração está extremamente rápida enquanto começa a chorar, me aproximo e me abaixo a sua frente, seguro em suas mãos para que me olhe, não precisava que ela me contasse para saber o que estava sentindo, logo que meus pais foram embora, Soobin teve muitas crises de ansiedade quando pequena pelo o trauma. 
- Ei, meu pintinho, respira devagar comigo ok?. – Peço e ponho uma mão dela sobre o meu peito, respirando devagar e profundamente, fazendo ela repetir o processo comigo. – Você está indo bem. – Afirmo e faço ela repetir até se acalmar e sua respiração normalizar. 
- Ele me abusou. – Ela diz começando a chorar.
Algumas traumas são grandes demais para lidarmos com ele de imediato, nosso cérebro pode nos fazer esquecer involuntariamente o ocorrido, como um escudo de proteção, mas alguns gatilhos podem romper essa barreira e nos derrubar rapidamente, a lembrança é horrível, mas a negação pode matar. Me destrói ver ela tão machucada, por não tê-la protegido. Abraço o seu corpo e acaricio o seu cabelo enquanto ela chora em meu peito, queria que ela soubesse que estou aqui por ela e que dessa vez não seria eu que levaria a facada.
- Sempre estarei ao seu lado. – Afirmo e beijo o topo de sua cabeça. – Sempre. - reafirmo.
No final do dia, marquei com o meu irmão de nos encontrarmos ás quatro horas da manhã para podermos conversar tranquilamente. Sigo em alerta caminhando sorrateiro até atrás do trailer de hoje mais cedo, pertence ao soldado líder, mas nesse horário ele sempre está com uma garota em uma tenda escondido. Arqueio a sobrancelha quando meu irmão aparece com SeungHo ao seu lado, bato com a mão na testa em sinal de frustação. 
- O que ele faz aqui?. – Questiono. Ele parecia não se importar com o meu incomodo evidente. 
- Você queria alguém que pudesse confiar cometer algo rebelde, todos concordamos que ele é estrategista e sem noção. – Euntak responde.
- Já acabou as ofenças?. – Pergunta SeungHo com expressão de deboche. – Romeo, sua causa é nobre, mas você é certinho demais. – Ele diz. – Eu roubei de volta as nossas mochilas, estão bem guardadas, mas precisamos de um veículo para a fuga, como esse. – Conclui apontando para o trailer atrás de nós. 
- Você é bom. – Reconheço. – Vocês avisam os nossos, mantenha as mochilas próximas daqui, durante a noite, vamos sair daqui, mas durante o dia preciso que finjam que nada aconteceu, com naturalidade para que não desconfiem. – Digo.
- E como vamos sair daqui sem sermos vistos?. – Euntak pergunta. 
- Vou gastar meu réu primário. – Afirmo. 
As horas parecem triplicar a medida que queremos algo, como um inferno ao contrário, o tempo percorre lentamente. Como qualquer dia normal, realizei minhas tarefas diárias, ás 9:00hr até 11:00hr fiz a guarda da cerca, hoje estranhamente havia muitos doentes, dias após a infecção desconhecida, tínhamos apenas a certeza de que qualquer contato com sua corrente sanguínea, será um deles, apenas um corpo com fome e sem vida, eles apodrecem como cadáveres mas conseguem caminhar e correr, sentem fome por aquilo que está vivo, SeungHo os nomeou de "Zumbis" como os jogos que ele cria em sua empresa, até criou táticas de defesa, como sempre manter mais de uma camada de tecido em áreas que pudessem ser mordidas como braços, mãos, tronco, pescoço e canelas, surpreendente revelou ser útil, um soldado foi salvo por uma proteção em seu antebraço pelo o "D.C.Z" como aquele malucou nomeou, "Defesa contra zumbis". Na hora do almoço, caminho até o refeitório e sentia um olhar em cima de mim, me observando a cada movimento, olho ao redor procurando a direção da minha paranoia, estranhamente um dos sobreviventes que estava com nós está apoiado em uma mesa, segurando um copo de vidro em suas mãos me encarando com uma expressão serena e inexplicável, ele vestia uma blusa branca que arremangou as mangas com a aparência de uma regata, as calças pretas folgadas com o seu casaco preto amarrado em sua cintura, ele tem cabelos negros tão escuros como a noite, na altura de seus ombros, sua pele pálida em contraste com o tom escuro de seus fios. Desde que chegamos, cada um de nós revelou a sua profissão anteriormente, exceto ele, na verdade, acho que nunca ouvi o som da voz dele, Jieun que nos contou animadamente que ele é bombeiro e que seu nome é Woo Tak. Desvio o olhar e sigo até a fila pegando um prato, uma das sobreviventes serviam sopas para todos, caminho até uma mesa vazia, logo chega meu irmão senta no banco a minha frente e SeungHo ao meu lado, minutos seguintes Jinyoung e Eunyu se juntam a nós, Euntak havia explicado a ideia de fuga. Eunyu levaria os sobreviventes até a cerca, onde encontraria Jinyoung cuidando o ponto de encontro, SeungHo e Euntak buscariam as mochilas enquanto eu ficaria responsável de pegar o nosso veículo.
- O que estão aprontando?. – Pergunta Areum se aproximando da mesa. 
- Apenas conversando, besteira. – Meu irmão responde desconversando. – Intervalo acabou? Vou voltar com você. – Ele continua.
- Eu tenho que dar uma olhada na cicatrização do Jongin, talvez seja algum ponto aberto que atraiu tantos doentes na cerca hoje. – Ela brinca. 
- Não fique com ciúmes, irmãozinho. – Zombo. 
- Tudo bem, eu sei que seu coração é da caçula. – Ele responde me fazendo corar de imediato, enquanto todos pareciam se divertir, maldito. 
Acompanho Areum até a tenda hospitalar, retiro minha camiseta e sento na cama, ela delicadamente põe luvas descartáveis e se aproxima retirando o curativo antigo, ela analisa com cuidado e sorri com a cicatrização, a paixão dela pela a medicina é visível e encantadora, Areum abre o pacote de retirada de ponto e coloca o cabo das pinças voltadas para a borda proximal do campo, umedece a gaze e higieniza o local do ferimento, ela segura com a mão dominante o ponto, cortando-o com a mão não dominante, traciona o ponto pelo nó e corta, com a tesoura de Íris, em um dos lados junto à pele, já cortados, colocou os pontos sobre uma gaze e descartou no saco de lixo,  ela se aproxima novamente fazendo uma leve compressão na cicatriz com gaze seca, descartou o restante do material que usou e retirou suas luvas, higienizando suas mãos com álcool. 
- Prontinho. – Ela vibra e sorri. – Aqui. – Chama e retira um pirulito de seu bolso, me entregando. – Por ser um bom paciente. – Elogia. - Mas não conta para o seu irmão que tenho pirulitos, ele diz que sou viciada. – Pede rindo.
- Será um segredo nosso. – Afirmo e sorrio gentil. – Areum, tenho uma pergunta, se quiser responder é claro. – Começo. – Seu pai sempre me odiou, até mesmo no restaurante Cecil proibiu que eu atendesse a família de vocês, provavelmente vocês ouviram muito de mim de seu pai, mas você, Eunyu, Jennie e a senhora Seojung, sempre foram muito educadas comigo, nunca entendi o motivo. – Confesso.
- Meu pai tinha ciúmes de você com a amante dele, a Cecília, ele era comprometido com nós, não você e nunca soubemos o seu lado, minha mãe sempre nos ensinou escutar ambos lados antes de tirar conclusões precipitadas e você sempre nos tratou com respeito até mesmo quando nosso pai te chamava de garoto de programa. – Ela responde. – Alias, me desculpe por isso. – Lamenta.
- Não tem motivo para se desculpar. – Respondo. – Obrigada por me esclarecer. – Agradeço. – E pelo o cuidado, não apenas comigo. – Digo e visto a camiseta novamente, não precisei citar o nome de meu irmão para ela entender.
- Obrigada por cuidar dela. – Areum agradece.
Sorrio e assenti me despedindo, caminho até a minha tenda, na zona masculina, os soldados de baixa posição dividiam suas tendas com um grupo pequeno, por sorte, meus companheiros são os sobreviventes que vieram comigo. Deitamos na cama e ficamos esperando o horário para iniciar o nosso plano, minhas mãos suavam de ansiedade para sairmos dali, principalmente para retirar ela daquele inferno militar.
- Está na hora. – Avisa SeungHo que encara o seu relógio de pulso. 
- Boa sorte. – Deseja Euntak.
- Comigo não existe sorte, só mérito. – SeungHo afirma convencido, saindo da tenda acompanhado de meu irmão, Euntak. Jinyoung assente e segue para a sua posição inicial do plano. 
Estranhamente, o sobrevivente conhecido mais cedo, Woo Tak, não está na nossa tenda, espero encontrarmos ele mais tarde para seguir com a gente. Abro a fronha do meu travesseiro e pego a mesma faca que o soldado havia me atingido, essa noite devolveria para ele. Respiro fundo e caminho discretamente, agachado entre as tendas, tentando não chamar atenção, felizmente os doentes que antes cercavam a nossa zona haviam ido embora, facilmente seria notado com a presença deles. Alcanço o trailer do primeiro soldado e escondo-me atrás do veículo quando a porta do automóvel abre, saindo alguns soldados levando outra garota em seus braços, sinto meu sangue ferver com tamanha repugnância. Levanto rapidamente e ponho o pé na fresta da porta, forço a entrada e fecho a porta do trailer atrás de mim.
- Mas o que você está fazendo aqui, moloque?. – Esbraveja.
- Vim te devolver a sua faca. – Respondo.
Seguro no seu pulso e viro meu corpo de costas contra o seu, passando o seu braço por baixo do meu, imobilizando e bato na sua mão, fazendo ele derrubar a arma, me afasto e chuto seu abdômen, derrubando ele no sofá, seguro na gola de sua camiseta e jogo ele no chão, me agacho e debruço os joelhos sobre ele, dando socos em seu rosto até ele ficar tonto. Retiro suas peças de roupas, deixando ele completamente despido, seguro em sua nuca e abro a porta do trailer, Woo Tak estava parado na rua e me encarava, ele desvia o olhar para o portão da cerca aberto, assenti e caminho puxando o soldado pela a nuca, jogo ele para fora e fecho o portão, rapidamente o sangue dele exposto pelo os machucados em seu rosto atrai doentes que começam a se aproximar. Os doentes mordiam cada parte do corpo do homem que mesmo alucinado, soltava gritos roucos, logo os seus capangas escutam seus gritos de tortura e disparam contra os doentes, tentando inutilmente manter eles afastados, mas o corpo daquele verme já estava condenado, assim como a sua alma e agora a minha também.
Os soldados correm até o portão e abrem saindo para fora da cerca, na tentativa de salvarem seu líder, Woo Tak fecha o portão e retira uma corrente de sua mochila que antes não havia notado estar com ele, o bombeiro passa a corrente com calma na cerca e tranca com o cadeado, quando os soldados percebem o que aconteceu, tentam quebrar o cadeado com tiros, mas os doentes os atacam, os presenteando com o mesmo destino de seu líder. 
- Seus amigos estão nos esperando. – A primeira vez que ouvi a voz dele.
- Obrigada por ajudar. – Agradeço.
- Odeio estupradores. – Ele diz por fim. 
Concordamos e Woo Tak me entrega uma mochila, a mesma que carreguei comigo até ali da casa de SeungHo. Retornamos até o trailer onde não apenas os nossos companheiros mas todos os sobreviventes nos aguardavam por ali, os soldados que restaram soltam suas armas no chão, em sinal de agradecimento pela a sua liberdade da cruel liderança. 
- Por uma sociedade justa. – Digo a eles. 
Um soldado se aproxima e me entrega uma chave, apontando para um ônibus militar, agradeço e sigo com os meus companheiros até o veículo, após todos se acomodarem em seus lugares, Woo Tak sentado no banco do motorista liga o ônibus, liga os faróis enquanto os moradores da Zona de Sobreviventes abrem o portão, dando início a nossa próxima parada no apocalipse.

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