Entre Dois Reinos

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A água estava a uma temperatura agradável e tão límpida que o fundo arenoso era visível. O jovem príncipe tirava suas vestes, mas não completamente, preferiu não se mostrar completamente, tendo conhecimento que o rei de Eldoria o observava atentamente.

A mente de Jimin estava tumultuada após um encontro mal sucedido com seu irmão. Ele havia se atrevido a confrontar a mãe de Taehyung para revelar a verdadeira origem dele, mas seu meio irmão escutou a conversa e descobriu da pior forma possível. Isso desencadeou uma discussão sem sentido, levando o príncipe a sair sem rumo até um cortiço qualquer, em busca de qualquer sensação que não fosse a frustração constante. Acabou adormecendo em meio ao álcool e à colônia barata da moça com quem compartilhou a cama.

Jungkook sentou-se na grama próxima à beira do lago, observando o príncipe entrar na água. Não havia guardas por perto, apenas os dois. Ele poderia facilmente fugir diante dos olhos de Park Jimin; era uma oportunidade perfeita.

Silenciosamente, Jeon deslocou-se em passos cautelosos, mantendo seus sentidos aguçados. Quando ouviu o príncipe debater-se na água, pensou ser alguma brincadeira para impedir sua fuga. Mas em poucos segundos, percebeu que não era uma brincadeira. Jimin já não se movia sob a água. O rei de Eldoria, sem hesitar, pulou no lago em direção ao príncipe, segurando firmemente seu corpo e o carregando para a grama.

- Príncipe! - Jungkook o balançava.

Sem alternativa, Jeon começou a respirar na boca de Jimin, desesperado. Ele esqueceu completamente da ideia de fugir, focando apenas em Jimin. Esqueceu as rivalidades entre os reinos, sua sede de vingança e até mesmo as falsas acusações.

Aos poucos, o príncipe tossiu, expulsando a água de seus pulmões. Com a visão turva e a respiração afetada pelo ocorrido, ele via apenas Jungkook e ouvia sua voz abafada chamando-o.

Jungkook desabou ao lado de Jimin, sentindo-se aliviado por o pior não ter acontecido.

- Você está bem? O que aconteceu? Pensei que soubesse nadar.

O príncipe tinha as palavras presas na garganta e não conseguiu responder.

Jungkook recolheu as vestimentas e ajudou-o a se vestir, pois Jimin estava tão frágil que nem parecia o príncipe birrento da noite anterior. Jimin tinha várias faces escondidas, que o rei Jeon começava a conhecer em um processo conturbado.

A volta para o castelo foi silenciosa, nos braços do rei. O príncipe se agarrava a ele em um ato vazio. Jimin estava perdido em seus pensamentos, questionando-se se aquele homem realmente fora capaz de matar seu pai. Se fosse verdade, por que ele o salvaria?

Os serviçais circulavam pelo castelo, assustados ao ver o príncipe sendo carregado pelo suposto assassino. A rainha, com uma expressão confusa, seguiu os passos do rapaz que carregava seu filho.

- O que fez com meu filho!? - Em meio aos passos apressados pelo corredor vazio, a rainha o questionou.

Ao ouvir a voz de sua mãe, o príncipe afastou um pouco a cabeça do ombro de Jungkook para olhá-la.

- Ele não fez nada comigo. — Sua voz era baixa demais para ser ouvida.

- O príncipe se afogou no lago. Posso levá-lo aos seus aposentos?

- Sim, deve.

A rainha os acompanhou, observando o cuidado que Jungkook tinha com seu filho. Apesar desse cuidado, ela mantinha um olhar duro para Jungkook. Sabendo agora que ele era o rei do reino inimigo, não apreciava aquela proximidade.

Jimin foi acomodado na cama com a ajuda de Jungkook. O silêncio pairava no ambiente, só os olhares eram trocados, com um misto de desconfiança e afeto.

- Pode se retirar, preciso conversar com meu filho.

O rei de Eldoria hesitou por um breve momento, mas, como um mero prisioneiro em Valência, não viu outra opção a não ser retirar-se.

A porta foi fechada, trazendo uma tensão familiar. A rainha sentou-se na cama, alisando os cabelos negros de Jimin.

- Como está? Sente dor? Posso pedir que preparem um chá quente.

-  Estou bem, não há necessidade de se preocupar.

- Tem certeza? Ainda gosta daquele rapaz?

-  Por que tantas perguntas? Não, eu não gosto dele, nunca gostei. Foi apenas uma confusão que não sei explicar, talvez curiosidade pelo seu jeito misterioso.

- Se você diz. Jimin, eu, sua mãe e rainha de Valência, tenho que comunicar que sua coroação será em alguns dias. Ficarei aqui até vê-lo tornar-se rei, e logo partirei, pois sua tia adoeceu mais uma vez.

- Não, não pode ir, não quero me tornar rei. O que farei sem a senhora?

- Não se preocupe, temos pessoas de confiança que irão ajudá-lo. Tente descansar.

O príncipe já não tinha argumentos, pois estava fadado à coroa. Taehyung nunca aceitaria Valência como seu reino, suas palavras eram claras.

- Nunca aceitaria ser rei, sou um camponês e sempre serei. Não me importo com o rei Park e nem com o sangue real que corre em minhas veias! Ele nunca me quis como filho quando em vida, Jimin, ele não é meu pai e você nunca será meu irmão legítimo!!

Os gritos de Taehyung faziam um zumbido na cabeça de Jimin, ressoando até mesmo quando estava se afogando. A raiva que Taehyung carregava era tão forte que Jimin temia não apenas a coroa, mas também perder a amizade de seu irmão.

A porta se abriu mais uma vez, e Jungkook entrou, formulando algum diálogo, pois não sabia o que fazer, não pertencia àquele lugar.

- Se sente melhor? - O rei deixou as palavras no ar, não recebendo resposta do príncipe. - Mereço saber ao menos se está bem depois de tê-lo salvo.

- Apenas não sei como me sinto.

- Isso é incomum, mas te entendo.

-  Não, você não entende. Minha vida virou de cabeça para baixo por sua culpa e por culpa da sua vingança estúpida.

- Ainda acredita que eu realmente matei seu pai? Está perdendo tempo. O verdadeiro assassino está à solta, enquanto brinca de senhor e servo comigo.

- Eu queria muito acreditar que é inocente, mas como irei acreditar se apenas mentiu desde que chegou a Valência?

- Mas eu o salvei, desisti de fugir apenas para salvá-lo.

- E o que quer, uma medalha por isso? Rei Jeon, não me peça coisas impossíveis. - Jimin suspirou fortemente. - Saia do meu quarto, quero ficar sozinho.

- Onde eu irei? Sou seu escravo, não tenho aposentos ou tarefas a não ser ficar ao seu lado.

- Fale com os serviçais, sempre há trabalho sobrando. Volte apenas no final do dia, irei arrumar um lugar para que chame de seu.

- Meu lugar é Eldoria, nunca terei nada aqui.

- Isso não importa para mim.

- Por que é tão arrogante, príncipe? Isto é irritante, não pode baixar a guarda por um momento?

- O QUE VOCÊ TANTO QUER, REI DE ELDORIA!? Já o mandei sair.

Jimin levantou-se, alterado, desejando apenas ficar só, mas Jungkook era seu empecilho.

Na tentativa de expulsar Jungkook, Jimin tropeçou em seus próprios pés, ainda fraco, mas foi amparado por quem queria manter distante.

Jungkook não soltou o príncipe de seu aperto, perdendo-se em seu olhar profundo por mais uma vez.

Sangue Real - A saga de Eldoria e Valência Onde histórias criam vida. Descubra agora