Capítulo 19

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Ao raiar do dia, do outro lado da espaçosa delegacia, a equipe de Mile assistia uma palestra extremamente tediosa. Ohm lutava para não adormecer enquanto Perth, ao seu lado, o beliscava sempre que percebia o amigo prestes a cair no sono. Os demais pareciam atentos, mas era a imaginação fértil que fazia seus olhos brilharem.

— “Estou começando a virar adubo” — comentou o colega atrás, provocando risadas abafadas nos demais, que cessaram ao perceberem o olhar sombrio do chefe.

Todos concordavam que aquelas haviam sido as três horas mais longas de suas vidas, ansiosos por finalmente escaparem da harmonia horrenda que o ambiente emanava. Apressavam-se em direção à luz no fim do túnel. — “Fiquem” — a voz do chefe ecoou, imponente, e ele aguardou pacientemente que seus garotos se reunissem.

— “Esta é a chefe da Narcóticos e seu segundo em comando, vocês trabalharão com eles até nova ordem” — disse Mile, gesticulando para demonstrarem respeito, o que fizeram imediatamente.

— “Meu nome é Pattranite, mas podem me chamar de Patt ou Love. Não sou exigente com nomenclaturas, só espero que saibam trabalhar em equipe.” — declarou a mulher. Apesar de sua baixa estatura, possuía uma aura tão imponente quanto a de Mile, o que causou arrepios nos detetives.

— “Me chamo Leng” — disse o homem brevemente, exibindo uma superioridade que se equiparava à dos outros dois, mesmo com tão poucas palavras.   

— “Deixo-os nas suas mãos” — disse Mile, estendendo a mão cordialmente para ambos e saindo em seguida. Ohm e Perth observavam as costas incrivelmente perfeitas, como se fossem filhos abandonados ou filhotinhos deixados à beira de uma estrada.

— “Nos encontraremos às quatro horas para repassar as informações com detalhes” — informou Love, virando-se para partir. Leng se despediu em silêncio e seguiu a colega.

— “É melhor pedir demissão” — Ohm comentou, pressentindo que algo estava prestes a acontecer. Perth riu e conduziu o jovem para fora, ansioso para ver seu marido e ser alimentado.

— “Você está bem?” — Perth indagou enquanto caminhavam pelo corredor.

— “Por que a pergunta? Estou bem” — respondeu Ohm, confuso, mas sentindo que, de alguma forma, estava dizendo a verdade. Embora houvesse muitas decisões das quais se arrependia, parecia que finalmente estava no caminho certo.

— “Não sente a necessidade de enlouquecer?” — Perth questiona, encarando o outro, enquanto Ohm contém a vontade de revirar os olhos.

— “Não, Perth, estou bem” — responde Ohm, retomando a caminhada, agora mais rápido, e ignorando o amigo que o chamava.

No trabalho, Gemini estava sentado em sua cadeira, contendo o impulso de suspirar a cada segundo, enquanto observava seu parceiro comer sem preocupações. Ele se arrependia de poucas coisas na vida, mas tinha certeza de que não gostava do seu passado com aquele homem.

— “Você está preparado?” — perguntou o roteirista, tocando no ombro de Gemini e assustando o jovem absorto em seus pensamentos. — “Desculpe, não foi minha intenção assustá-lo” — disse ele, colocando uma cadeira ao lado de Gemini e sentando-se.

— “Algum problema?” — Gemini perguntou, percebendo a expressão estranha do outro.

— “Não… não temos” — apesar da hesitação nas palavras, Gemini não queria interrogar mais profundamente, então apenas concordou e manteve o silêncio. 

O desconforto diante daquela situação começou a aguçar a desconfiança de Gemini, que observava o homem ao seu lado segurando papéis. — “Você precisa de algo, ou…?” — perguntou Gemini, suavizando a voz para não parecer rude, enquanto aguardava a resposta do rapaz que parecia estar se preparando.

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