Entre tantas luzes na sala, Ohm observava cada movimento do amigo à beira do divórcio, enquanto Perth detalhava no quadro o processo da investigação. Ohm adorava trabalhar de madrugada, pois nada o satisfazia mais naqueles momentos, contudo, ao ver Perth com olheiras profundas, sentia-se com vontade de dormir.
— “Vamos dormir” — disse Ohm, levantando-se.
— “Não, não” — Perth respondeu rapidamente, parecendo ansioso para continuar. Ohm observou o rosto bonito do amigo, notando algo incomum se formando.
— “Tudo bem… certo… continue” — Ohm concedeu, e o amigo retomou a escrita com total concentração. Ohm estava incerto se deveria se animar com o celular vibrando a essa hora, Perth parou de falar e sentou-se no sofá para atender, enquanto Ohm inclinava a cabeça para trás, respirando fundo.
— “Ohm e eu estamos disponíveis, senhor” — disse Perth, desligando o celular e olhando para o amigo incrédulo. — “Pronto para o trabalho, garotão?” — brincou ele, com um sorriso animado.
— “Não me chame assim” — Ohm retrucou, atirando uma almofada em Perth.
— “Um novo corpo, uma direção diferente” — disse Perth, e Ohm sorriu. — “Não é que eu esteja feliz com a morte de alguém” — Perth se apressou em explicar, pedindo desculpas mentalmente à pessoa falecida. Ohm riu da aflição do amigo.
— “Está tudo bem, eu entendi, garotão” — Ohm confortou, dando tapinhas no ombro de Perth, que lhe retribuiu o sorriso. Ambos entraram no carro, Perth programou o GPS para o destino e se acomodou, lançando um último olhar para sua casa pelo espelho retrovisor.
— “Você precisa ajustar o retrovisor” — Perth avisou, suspirando e se apoiando na janela. Ohm checou, mas estava exatamente como ele havia deixado, então olhou para o amigo melancólico e decidiu por dirigir em silêncio.
Após quase duas horas de viagem para chegar ao destino, Ohm se espreguiçou e observou o ambiente, memorizando os rostos dos poucos curiosos e identificando alguns jornalistas. Perth o chamou, e Ohm dirigiu seu olhar para Leng, que o fitava intensamente. — “Se ele fosse uma arma, já estaríamos mortos” — comentou Ohm, arrancando uma risada do amigo.
— “Algo engraçado?” — perguntou Leng, aproximando-se do corpo antes de receber uma resposta. — “Lina Morgan, quarenta e sete anos, encontramos a carteira dela.” — Leng pegou o pequeno saco transparente e o ofereceu aos detetives. — “Notei no seu relatório algo sobre tatuagens.” — comentou Leng, observando Ohm que apenas confirmou com um gesto enquanto registrava com a mente a cena do crime.
— “A tatuagem no pescoço foi removida” — disse Ohm, observando a foto da mulher e notando a ausência da tatuagem. — “Por que estamos aqui?” — perguntou Ohm, seguindo o amigo que se aproximava do corpo.
— “Não posso estar aqui?” — Leng perguntou defensivamente, notando a mudança no tom de voz de Ohm.
— “Eu não disse isso” — respondeu Ohm, lançando um olhar breve a Leng, mais por cortesia do que por desejo de ver sua expressão irritada, ou assim era o que achava.
— “Encontramos três quilos de drogas e um crachá ao lado” — disse Love, emergindo de algum lugar. — “Katniss Everdeen” — entregou a Perth, que suspeitava ter ouvido esse nome antes.
— “Isso é de um filme” — Ohm comentou, notando que seu amigo parecia reflexivo ao observar o nome.
— “Eu sei, idiota” — Perth sussurrou, olhando ao redor para verificar se os chefes estavam por perto. Ao ver que eles estavam ocupados conversando entre si, ele voltou a atenção para o amigo. — “Não é esse o nome que o Joong mencionou ser de uma garota da cafeteria?” — Ele compartilhou sua incerteza com o amigo, que rapidamente se recordou.
