Capítulo 14 - PERCEPÇÃO

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Joaquim estava respirando como se estivesse seguindo em direção a sala de parto, pra tentar se acalmar, quando o disparo atingiu a janela traseira do carro.

— O carro é blindado? — ele gritou, porque a primeira coisa que passou por sua mente naquele momento foi a falta de cacos de vidro voando pra todo lado.

— O melhor blindado que o dinheiro pode comprar — Felipe respondeu, sem parar de acelerar e olhar para o retrovisor. — Pega a arma no porta-luvas pra mim!

Ele ficou paralisado por um segundo, mas um tiro estourou o vidro do retrovisor do seu lado e logo suas mãos estavam abrindo o porta-luvas e pegando uma arma escura, meio quadrada e um pouco pesada.

— Seu tio carrega uma arma casualmente por aí?

A pergunta escapou de sua boca antes que ele se lembrasse que minutos antes Felipe havia sacado uma arma do paletó.

— Medida de segurança — Felipe pegou a arma da mão dele. — Todos os nossos carros têm uma dessa. Segura pra mim!

Joaquim voou para o volante quando Felipe se inclinou para fora da janela, virado para trás, e começou a atirar. O padeiro se esforçou para não deixar o carro subir em calçadas ou bater nos veículos estacionados pelas ruas.

De repente, quando se aproximavam de uma encruzilhada, um carro escuro surgiu, virando na rua que estavam, mas seguindo o lado inverso. Logo dois outros carros seguiam o primeiro. Joaquim viu quando um cara subiu pelo teto solar, um dos braços presos em uma tipoia. Era Samuel.

O segurança sacou uma arma e começou a atirar em direção as motos que seguiam Felipe e Joaquim.

— E aí, chefinho! — Samuel gritou ao passar por eles.

No mesmo momento Felipe voltou a se sentar e tomou o controle do volante, permitindo que Joaquim voltasse a se sentar no banco, os braços caídos sobre as pernas.

— Agora eles vão cuidar disso! — Ainda sem desacelerar, Felipe seguiu dirigindo, focado na rua.

— O que foi tudo isso? — Joaquim falou de repente, tentando encaixar as peças na cabeça. — Sua família realmente faz parte da máfia?

— Máfia? — ele soltou um risinho. — Ainda usam essa palavra?

Os dois seguiram em silêncio até chegarem à empresa. Felipe estacionou o carro na entrada de cargas e logo alguns seguranças apareceram para pegar as caixas. Joaquim desceu do carro, as pernas ainda bambas e com uma tremenda vontade de ir ao banheiro.

— Preciso ir resolver isso — foi tudo o que Felipe disse, antes de entrar na empresa apressado.

Joaquim parou próximo a carroceria do carro, vendo que apenas umas duas caixas haviam se estourado com os disparos. De repente lembranças invadiram sua mente, as discussões que tivera com Felipe, o molho de pimenta que colocara em sua bebida, as alfinetadas...

— Droga! — disse para si mesmo e então entrou correndo para ir ao banheiro.

*

Felipe subiu até o último andar, mas esperou até entrar no corredor vazio da sala da presidência pra pegar o telefone e discar o número do irmão. O telefone deu o primeiro toque quando ele abriu a porta da sala e deu de cara com Aleksei em pé, do outro lado da mesa, olhando para a rua pela parede de vidro temperado.

— Eu te vi chegando — ele disse, se virando para Felipe que parara em frente à mesa. — Conseguimos a prova que precisávamos!

— Como?

O barulho de passos fez Felipe se virar quando a porta voltou a se abrir. Ele assistiu quatro seguranças entrarem, um deles trazendo tio Grigori algemado. Pela cara fechada e o cabelo bagunçado, o rapaz imaginava que ele não aceitara ser capturado de bom grado.

— Oi, tio — Aleksei disse, naquele tom sério e sombrio que sempre fazia os pelos da nuca de Felipe se arrepiarem.

Era quando o irmão falava assim que Felipe sabia o quanto ele estava com raiva.

— O que está acontecendo aqui? — Grigori perguntou, olhando de um sobrinho para o outro. — Aleksei? Quando você voltou?

Felipe respirou fundo, se sentindo paralisado. Queria que fosse mentira, queria que Aleksei dissesse naquele momento que havia confirmado que Grigori não era um traidor e que os guardas seriam responsabilizados por trata-lo daquela forma.

Particularmente Felipe nunca vira o tio como uma pessoa especial, era somente o irmão de seu pai, nunca buscara estar mais próximo dos sobrinhos além da convivência ou ser amigo deles. Mas, de qualquer forma, ainda era um Kravtsov. O mesmo sangue que escorria do corpo de Felipe e Aleksei quando se feriam, corria pelas veias de Grigori.

Como ele seria capaz de traí-los? Por quê?

Aleksei deu a volta na mesa, parando ao lado de Felipe e tirou do bolso um dispositivo pequeno, do tamanho de um controle remoto e apertou um botão. A voz de Grigori saiu em alto e bom som:

— Ele acabou de sair daqui, está indo para a Adega Central. Acabe com ele de uma vez por todas!

Quando a gravação parou, o silêncio se estendeu pela sala por uns segundos. Os três Kravtsov se encaravam, parecendo tecer pelo olhar as implicações da existência daquele áudio. Os guardas permaneceram quietos, como se estivessem tensos demais até para respirar.

— Você grampeou o meu telefone? — Grigori disse, e Felipe se sentiu indignado, era tudo o que ele tinha para dizer depois de ter sido desmascarado?

— Medidas extremas são necessárias em tempos de tensão — Aleksei respondeu, então se virou para os guardas. — Levem-no para casa e o deixem sob vigia. Conversaremos no fim da noite.

— O quê? — Felipe questionou, sem entender. O irmão queria postergar aquela situação?

Aleksei se virou de costas para a porta enquanto os homens levavam Grigori embora. Ele colocou a mão sobre o ombro de Felipe e o encarou.

— A vida dos Kravtsov não deve parar apenas porque encontramos uma fruta podre!

Felipe não disse nada, não sabia como argumentar. Durante todo o tempo que Aleksei esteve fora, ele aguardou ansiosamente o momento em que poderia abandonar os deveres de chefe de família, e agora esse momento finalmente havia chegado. Agora Aleksei voltava a dar as ordens, e ele o ouviria o irmão mais velho. Como todo irmão mais novo deve fazer.

KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)Onde histórias criam vida. Descubra agora