Nasceu! Vamos?
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POV Natália
Descobri que meu marido estava me traindo às 15:00 de uma sexta-feira de julho.
Estava em casa, como sempre. Pedrinho tomava banho de piscina e eu supervisionava, lendo meu livro. Sorria para meu sobrinho que estava aprendendo a nadar na escolinha e praticava quando podia. Luísa se aproximou de mim com um buquê de flores em mãos. Ulisses havia contratado a senhora de seus 50 anos para ajudar em casa, apesar de eu ter sido completamente contra. Adorava meu espaço e era completamente capaz de cuidar de tudo sozinha. No entanto, não consegui convencê-lo, e agora ela era quase da família.
— Dona Natália — olhei feio para ela assim que ouvi o pronome de tratamento — Desculpa, Natália.
— Muito melhor, Lu. Que flores são essas? Arrumou um namorado?
— Claro que não, Natália, onde já se viu? Já disse que depois que meu marido faleceu não quero mais conversa com homem nenhum, não. Essas flores são pro doutor Ulisses, não entendi nada quando deixaram.
Estranhei imediatamente. Ulisses era um professor universitário renomado, participava de um projeto de pesquisa de neuroreabilitação e sempre tinha três ou quatro alunos grudados nele querendo uma vaga no projeto ou orientação para estágio e trabalho de conclusão de curso. Já estava acostumada com os jantares de trabalho que duravam até tarde e as alunas que ligavam durante o fim de semana com dúvidas. Mas nunca tinha visto meu marido receber flores. Agradeci a Luísa e recebi o buquê de rosas, abrindo o cartão para ler e tentar entender quem poderia estar por trás do gesto.
Dizem que existem momentos que nos paralisam. Que separam o antes do depois, cortando a linha do tempo com sua importância. Com certeza um dos meus foi a leitura daquela dedicatória.
Para comemorarmos nossos 6 meses de namoro. Espero que não se importe, peguei seu endereço nos registros do projeto. Obrigada por me fazer tão feliz. Até mais tarde.
Sua,
Carol.Meu corpo gelou. Mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Em 10 anos de casamento, nunca me passou pela cabeça a possibilidade de ser traída por Ulisses. Me senti uma imbecil. Quantos dos jantares a trabalho eram com a finalidade de encontrar sua amante? Quantos telefonemas eram assuntos românticos, em vez de profissionais? Como os dois tinham arquitetado essa teia de segredos da qual eu era a piada central?
A esposa enganada. Me senti reduzida a um nada. Que belo papel para se prestar aos 40 anos, Natália, pensei comigo mesma e dei uma risada sem graça. Não podia deixar aquilo ficar assim. Pedi para Luísa olhar Pedrinho até que minha cunhada Taís viesse busca-lo e fui trocar de roupa em meu quarto.
POV Carol
Seis meses. Não sei precisar quanto tempo é muito ou pouco para estar em um relacionamento, mas esse é o meu máximo. Sempre tive a cabeça muito focada no meu trabalho, atrapalhando o desenvolvimento de qualquer coisa mais profunda. Até conhecer Ulisses.
Assim que fui transferida para o corpo docente da UFRJ, procurei me inserir no laboratório que trabalhava com o tema das minhas pesquisas de mestrado e doutorado. Foi dessa maneira que conheci meu namorado, que também participava do mesmo projeto. Logo ficamos próximos e cedi às suas investidas incessantes, que levaram a um relacionamento tranquilo e sem muitas cobranças.
Pensei comigo mesma se tinha feito a coisa certa em mandar rosas para a sua casa. Nunca tinha ido lá. Já que eu morava mais próximo da universidade, geralmente ficávamos no meu apartamento. O Leblon, onde ele tinha uma casa, representava uma vida à qual nunca tive acesso. Preferia manter minha distância segura diante do desconhecido, como sempre fiz.
Cantarolava sozinha, anotando alguns dados dos voluntários do começo da tarde e pensando no jantar que teria com Ulisses mais tarde para comemorar nosso aniversário de namoro. Planejava algo simples e em casa, como ele geralmente optava.
Até que escutei a porta do laboratório se abrir de repente, fazendo um barulho alto. Vi uma mulher mais ou menos da minha idade, usando um vestido longo e azul entrar na sala. Linda e elegante. E parecendo extremamente atordoada.
— Boa tarde, você tá procurando alguém? Sou só eu trabalhando agora à tarde, então talvez tenha se enganado.
Ela me olhou como se tentasse me entender naquele ambiente, como se eu fosse um grande ponto de interrogação.
— É o seguinte — falou, ainda me olhando — Meu marido está tendo um caso com alguma vagabunda de 20 anos e eu preciso saber quem é. Você pode me ajudar?
Ela não parecia ter problema algum em falar nenhuma daquelas palavras. Direta. Desbocada. Estranhamente cativante.
— Calma, quem você está procurando? É algum voluntário do projeto?
Ainda tentava entender como aquilo poderia ser resolvido no meu laboratório. Conhecia a maioria dos voluntários e dos alunos que passavam diariamente pelo espaço, e não lembrava de nenhuma esposa ser mencionada. Talvez justamente por estarem traindo a dita esposa, pensei comigo mesma.
— Não sei, você conhece alguma Carol?
Arregalei os olhos e tirei meus óculos, pendurando-os na cordinha vermelha que usava no pescoço. Só podia ser alguma coincidência muito torta, uma porta errada, um engano.
— Eu me chamo Carol — parei em sua frente, incerta — E você é...?
O olhar que a mulher me lançou poderia ter me congelado ali mesmo. Sua postura, antes segura, virou defensiva. Vi seu corpo estremecer diante de mim. Pude jurar que seus lábios formavam quase que um sorriso irônico, me fitando da cabeça aos pés. Já passei por provas de seleção para todas as bolsas que tive na universidade, mas não me lembrava de ter sentido a sensação de ser tão avaliada por alguém antes.
— Ele nunca sequer te mostrou uma foto da mulher que vocês dois estavam enganando esse tempo todo? — seu olhar se transformou em um divertimento quase descrente. A sentia distante, três degraus acima de mim em uma escada imaginária que ditava nossas posições. Eu estava lá embaixo, observando-a triunfar com seu jeito superior de falar — Natália Cardoso, esposa do Ulisses. E você é a amante dele, não é?
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Boa noite! Como estamos? Esse foi um plot que veio na minha cabeça e instantaneamente soube que gritava Natália e Carol. Há algum tempo li um livro chamado "The Love Conspiracy" da autora JJ Arias que inclusive gostei bastante e tem uma temática similar. Alguns pontos de enredo, além da ideia geral são livremente inspirados na história do livro, mas os acontecimentos e personalidades são completamente fruto da minha cabeça. Fora isso, costumo dizer que sou uma junção de tudo que já li e ouvi na vida, então talvez tenha alguma inspiração que nem eu saiba porque ficou comigo de algo que consumi e me tocou. Espero que gostem dessa versão de narol tanto quanto eu, porque já são minhas protegidas <3
Comentem para eu saber o que estão achando, por favorzinho. Qualquer coisa estou no @hugostjamws no twitter, e também tenho outra história narol publicada por aqui, uma one-shot. Obrigada por lerem e embarcarem em mais uma comigo. Nos vemos nos próximos!
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lágrimas negras // narol
FanfictionApós descobrirem que estão sendo enganadas pelo mesmo homem, Carol e Natália decidem se juntar para planejar uma vingança contra Ulisses. O que começou com um triângulo amoroso pode unir duas retas que jamais se cruzariam, fazendo questões antigas d...