que o silêncio te escute e no escuro você possa ver

712 108 122
                                    

Boa noite! Esse capítulo é quase como uma continuação do anterior. Espero que gostem e comentem durante a leitura, me deixa muito feliz. Vamos?

O título vem da música Noturna (Nada de novo na noite) de Marisa Monte e Silva.

—————-

POV Natália

Virava de um lado para o outro na cama de casal da casa da Serra. Não parava de pensar na noite que acabara de ter. A noção de que Carol estava ali, no quarto ao lado, me inquietava. A maneira como tinha se encaixado no meu grupo de amigas, feito todas rirem, até mesmo Helena. Seus olhos verdes que ficavam mais verdes à medida que tomava vinho durante a noite. Os cabelos que, em determinado momento, a professora tinha prendido em um coque. A franjinha que parecia ter vida própria quando Carol não estava tão preocupada colocando no lugar a cada segundo.

Ela parecia relaxada ali, como se pertencesse. Enquanto eu não poderia estar mais tensa. A presença dela era perigosa.

A câmera que tinha ganhado de presente das minhas amigas repousava na mesa de cabeceira, como se me encarasse. Trazia lembranças de um outro tempo da minha vida. Quando eu tinha gosto de registrar o que encontrava pelo caminho. Não gostava de pensar nisso, a melancolia que vinha acompanhada das memórias era inevitável.

O céu da madrugada estava limpo. Lembrei que costumava ser boa em fotos noturnas. Gostava de capturar o que normalmente se escondia durante o dia. A beleza que morava no escuro.

Peguei a câmera, a familiaridade inegável em minhas mãos e nos meus movimentos. A lua ao longe. Clique. Os lençóis bagunçados. Clique. Abri a porta do quarto silenciosamente e me calcei, indo em busca de mais paisagens na parte externa da casa. O silêncio me confortava.

Ao chegar na área da piscina, notei uma outra pessoa sentada nas espreguiçadeiras. Mesmo de costas, os cabelos ondulados que balançavam ao vento suavemente e a camiseta um tamanho maior que seu corpo não deixavam dúvida de quem se tratava. Com minha câmera, fotografei sua silhueta, os braços erguidos levando uma taça de vinho à boca. Imediatamente soube que seria uma das minhas fotos favoritas do filme que tinha acabado de inaugurar.

— Não conseguiu dormir? — me aproximei com cautela, para não assusta-la. Carol levantou o olhar e me encarou.

— Muita coisa na cabeça — respondeu, me oferecendo sua taça de vinho. Tomei um gole e devolvi, me sentando na espreguiçadeira à sua frente.

— O que você inventou pro Ulisses? — ela me lançou um olhar confuso — Pra explicar o sumiço de uma semana.

Minha pergunta escondia um interesse mais profundo. Queria saber se ela ainda falava com Ulisses. Se alguma parte dela pensava em perdoa-lo. Se o sentimento tinha falado mais alto, apagando suas mentiras. Se Carol era um território seguro para pousar.

— Eu disse pra ele que ia aproveitar minhas férias e visitar minha mãe no interior. Ele acha que estou lá desde semana passada, e que não tem sinal de celular. — bebeu mais um gole e me passou a taça novamente, o gesto formando um pingue pongue entre nós.

— Mas você nem fala com a sua mãe — comentei, mais para mim do que pra ela. Carol tinha dito em um dos nossos telefonemas que não tinha mais contato com a mãe, então ninguém estranharia sua ausência por uma semana.

— Viu? Até você lembra dessa informação e o Ulisses não. E olha que ele passou seis meses comigo — riu, amarga. Podia ver a dor em sua expressão.

Claro que eu me lembro, quis dizer. Lembro de tudo que deixou escapar sobre você meio sem querer, Ana Carolina.

— Por que você mentiu pras minhas amigas? Fez parecer que estava sendo fácil superar essa situação.

lágrimas negras // narol Onde histórias criam vida. Descubra agora