tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar

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Boa noite gente, como estamos? Hora de nos despedirmos da era narol em São Paulo, foi bom enquanto durou... Espero que gostem do capítulo. Comentem muito por favor, quero saber o que acharam.

A música do título é Não Sei Dançar - Marina Lima (dobradinha de capítulos dela, porque amo muito)

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POV Natália

O nosso último dia em São Paulo amanheceu chuvoso.

O clima estava diferente, o ar pesado. Já abri os olhos pensando na despedida iminente que nos aguardava. Carol dormindo enroscada em mim pelo frio. Os detalhes que eu sentiria falta: seus óculos na cabeceira, a quantidade de café que eu fazia para duas xícaras, os pés que sempre estavam gelados e o hálito quente. Tudo que acabaria em um dia.

Sabia que a Carol que foi dormir ontem, agradecendo e sorrindo por causa do nosso jantar, não era a mesma do dia anterior. A verdade sobre seu passado agora também pairava entre nós. Era bom poder dar uma justificativa a muitas de suas ações, agora sob a luz do que ela tinha me confiado. Nossos traumas dividiam a cama conosco, lado a lado.

Gostaria de passar o dia admirando o semblante tranquilo da outra mulher, mas assim que vi o horário me assustei com o quanto tínhamos dormido. Logo eu, que raramente tinha boas noites de sono, aqui perdia a hora. Infelizmente, tinha chegado o dia de acabar com tudo e falar com a amante de Ulisses.

— Estamos atrasadas, dorminhoca — falei perto do rosto de Carol, enquanto beijava seu rosto.

— Só mais um pouquinho e eu levanto — ela falou, ainda de olhos fechados.

Levantei para ir arrumando tudo, coloquei a cafeteira no fogo e separei algumas últimas frutas que restavam na geladeira. Enquanto o café não ficava pronto, fui arrumando minha mala para nosso retorno no dia seguinte. Revisitei vários momentos da viagem que já viraram lembranças. Minha jaqueta preta, que usava no dia que eu e Carol nos beijamos pela primeira vez. A roupa preta de couro que ela não me deixou usar. Minha calça jeans toda suja de terra de quando fomos ao parque. A certeza de que também não era a mesma Natália que voltaria ao Rio de Janeiro. No topo de todas as roupas e calçados, coloquei meu boné vermelho, que já era tempo de aposentar. Fechei tudo.

Puxei Carol para fora da cama sob diversos protestos. Me impressionava com como ela podia ser manhosa quando queria.

— Nossa, você já fechou a mala — ela disse, olhando tudo consideravelmente limpo sem minha bagunça.

— Alguém resolveu dormir até a hora do almoço — comentei, dando um empurrão leve em seu ombro.

— Alguém me encheu de comida italiana e vinho no dia anterior — deu de ombros, sorrindo.

Sentiria falta das nossas trocas. No começo, realmente era uma implicância. Em algum momento no meio do caminho viramos nós.

— Pronta pra enfrentar a fera? — perguntei quando nos vestíamos, me referindo à Maria Clara, amante de Ulisses.

— Achei que a fera fosse você — ela falou e respondi com um peteleco em seu braço — E parece que domei essa fera direitinho.

— Não me provoca, Ana Carolina — disse, me aproximando e deixando um beijo em seu pescoço enquanto ela passava perfume no corpo — Cheirosa.

— E você vai fazer o que se eu provocar? — ela me perguntou, sorrindo convidativa.

De alguma forma, aquele era o início de uma cena que se tornou comum entre nós duas. A provocação, a voz mais baixa, o sorriso diferente. Eu e Carol havíamos montado o nosso próprio jogo. No entanto, tínhamos algo mais importante a fazer, que dizia respeito a todo o motivo por trás da nossa viagem. A vingança contra Ulisses. Centrei meus pensamentos nisso e apenas ri, balançando a cabeça negativamente e terminando de abotoar minha blusa azul.

lágrimas negras // narol Onde histórias criam vida. Descubra agora