vento no litoral

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Boa noite! Perdoem qualquer erro e boa leitura <3

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POV Carol

Amante.

A palavra parecia pesada entre nós. Junto com tantas mais ali no meio, insinuadas por Natália.

Mentirosa. Enganadora. Perversa.

Todos os pejorativos possíveis estavam implicados no termo amante, para mim. Fechei meus olhos com força, tentando organizar meus pensamentos. Aquilo não podia estar acontecendo. Não no meu local de trabalho, onde sempre mantive minha vida perfeitamente organizada. Não com minha chance de ter algo real pela primeira vez em tanto tempo. Não na minha vez. Não era justo.

— Ficou muda, Carol? — seu tom era de deboche.

Ela queria que eu falasse algo. Confessasse um crime que não cometi.

— Natália, isso só pode ser um mal-entendido. Sim, Ulisses é o meu namorado, mas ele não é...

— Casado? Faça-me o favor, Carolina! — ela esfregava a testa com os dedos — Você disse nas flores que estavam fazendo 6 meses de namoro. É impossível que você não soubesse que ele era casado! Que ele tinha uma mulher idiota que esperava ele em casa todos os dias enquanto vocês estavam se engraçando sabe-se lá onde — seu lábio inferior tremia, não sabia se era de raiva ou se estava prestes a chorar na minha frente.

Nátalia não me parecia do tipo que chorava. Mas, por outro lado, eu não sabia nada sobre aquela mulher. Seus medos, sua história. Só sabia que aparentemente era casada com meu namorado.

Pensei no quão menos justa ainda a situação era para a outra mulher. Ela parecia estar sem chão para apoiar seus pés. Desolada.

— Eu não sabia, eu juro! — estendi minha mão e tentei tocar seu braço, mas ela recuou um passo para trás para evitar meu toque — Por que eu teria mandado flores para a casa de vocês se eu soubesse que ele era casado, Natália? Eu teria feito escondido!

Precisava que ela acreditasse em mim. Subitamente tive a necessidade de me provar para Natália. Ela tinha que entender que eu estava tão machucada quanto ela.

— Nossa, então você foi mais burra que eu, Carol. Eu achava que iria encontrar uma estudante de 20 anos iludida esperando que ele largasse a mulher para assumir um namoro inconsequente. Mas você, você não parece ser uma aluna — estreitou os olhos para mim.

Apesar de machucada com as palavras dela, confirmei:

— Sou professora e lidero uma pesquisa aqui no laboratório. Me mudei há mais ou menos seis meses.

— E já chegou se enganando com qualquer coisa que Ulisses te disse? O que ele te prometeu? Uma casa? Filhos? Porque ele acha crianças uma perda de tempo.

Droga. Não pude impedir as lembranças de surgirem. Ulisses dizendo que nunca tinha sentido aquilo com ninguém. Que queria formar uma família comigo. Mas, ao mesmo tempo, nunca dormindo no meu apartamento porque tinha que preparar as aulas do dia seguinte. A minha compreensão cega, que também tinha aulas a planejar. A falsa sensação de que tinha achado alguém que entendesse minha dedicação ao trabalho. Tudo mentira. Era para Natália que ele voltava todas as noites. Para a família dele.

— Me ofender não vai mudar a situação, Natália. O fato é que eu fui enganada também. Eu juro que não sabia — até onde eu teria que me humilhar diante daquela mulher que tinha tudo que eu queria?

— Eu... ele... como ele teve... — ela falava e não fazia sentido algum.

E, quando me dei conta, Natália não estava mais no laboratório. Fiquei sozinha com meus pensamentos. Ulisses. Meu namorado. Casado. Esposa. Repeti em voz alta a pergunta que achava que Natália estava tentando elaborar antes de ir embora:

lágrimas negras // narol Onde histórias criam vida. Descubra agora