Boa noite! Estou muito nervosa com esse capítulo, ele me quebrou um pouco escrevendo. Ainda estão por aí? Já cansaram das duas? Continuem comentando o que estão achando, por favor, é muito importante pra mim (:
Vamos pra cabeça da Carol, boa leitura!
A música do título é Pessoa - Marina Lima
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POV Carol
— Isso tem alguma coisa a ver com a história com sua mãe?
Silêncio. Verdade. Transparência. Eu andava por aí carregando uma marca tão grande de abandono que dava pra ver ao se aproximar?
De qualquer maneira, isso significava uma coisa que me aterrorizava: Natália estava perto demais.
Perto do meu corpo, quando me beijava e me abraçava como se fosse nossa rotina de anos. Perto de mim, quando me percebia nas entrelinhas.
— Como você sabe? — perguntei, ainda sem olhar para ela.
— Você mesma disse naquele dia da casa da Serra. Eu te vejo — sua mão fazia um carinho no meu cabelo. Me virei em seu abraço, de maneira que ficasse com a cabeça encostada em seu peito.
Encarei o teto. Esperei as palavras virem. Há tanto tempo não pensava nisso, que dar espaço para que o assunto surgisse também requeria um momento à parte.
— Minha relação com minha mãe sempre foi complicada, acho que você percebeu — comecei, com os olhos fixos no teto. Seu carinho no meu cabelo me passava segurança — Nunca conheci meu pai, sempre fomos nós duas. Ester e eu. Ela foi mãe muito cedo, fazia o que podia, mas não podia muito sabe? Ela se atrasava pra me buscar na escola, não me ajudava com as tarefas, sempre tive que aprender a viver sozinha.
— Acho que você fez um trabalho muito bom em aprender a viver — Natália falou baixinho e deixou um beijo na minha cabeça.
— Isso foi até eu ter uns 14 anos, mais ou menos. Aí ela arrumou um namorado. Tomás, o nome dele. Ele até me dava uns presentes, tentava falar comigo. Perguntava do que eu gostava, eu lembro de dizer que amava filme de herói e ele me dar um monte de HQ da Marvel. Fiquei tão feliz que mal saí do quarto por uma semana, lendo. Minha mãe ficou mais feliz também. E eu pensei: então deve ser isso que é ter uma família. Hoje eu vejo que de família não tinha nada, os sinais foram começando a aparecer. Ele nunca ficava tempo demais lá em casa. Nunca passava a noite. Eu saía do quarto e via ele falando baixinho no celular. Foi nesse dia que eu descobri que o namorado da minha mãe era casado.
Fiquei em silêncio por um momento, as diversas cenas que passei voltando. Contei tudo para Natália, que me escutava atentamente enquanto acariciava meu cabelo. Não tinha coragem de encara-la. Seu silêncio era um convite para a minha história.
Contei sobre tudo que eu via. Minha mãe chorando quando ele não aparecia por alguma emergência familiar. Tomás pedindo silêncio no meio de um filme que estávamos vendo para falar com a mulher. Eu e minha mãe passeando na rua e tendo que trocar de calçada quando ele passava do outro lado com a família. Ele já tendo uma família. A nossa se tornando algo que girava em torno da atenção dele, porque sem ele minha mãe não brilhava. As histórias que eu, escondida, ouvia minha mãe contar para as amigas.
— Eu lembro muito bem do dia em que escutei minha mãe no telefone contando para uma amiga que teve que se esconder na casa do Tomás porque a esposa chegou de surpresa. E eu lembro de me encostar na parede e pensar: é isso que minha mãe é? Alguém que se presta a esse papel?
As lágrimas desciam pelas minhas bochechas livremente a esse ponto. A dor de perder a minha mãe enquanto um referencial. E, mais tarde, a dor de perder minha mãe.
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lágrimas negras // narol
FanfictionApós descobrirem que estão sendo enganadas pelo mesmo homem, Carol e Natália decidem se juntar para planejar uma vingança contra Ulisses. O que começou com um triângulo amoroso pode unir duas retas que jamais se cruzariam, fazendo questões antigas d...