Capítulo 38

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Nisso, a atenção de todos começou a se concentrar em nós.

"Ele disse S/N?"

Lilly indagou se aproximando da irmã. Todos pareciam chocados e mesmo sobre toda aquela pressão, percebi o desconforto nítido de Hannah. Ela sequer piscava.

Eu não sabia o que era pior, encontrar o Jake ou ele me desmascarar na frente de todo mundo.

Dan soltou um palavrão e Jake se aproximou querendo me tocar, eu me afastei sentindo enjoou, como se fosse passar mal a qualquer momento.

"A gente precisa conversar S/N."

"Eu não tenho nada para falar com você."

Respondi com a voz fraca. Eu ia passar mal, sentia o suor frio e pegajoso descendo pela minha têmpora. Jake se aproximou de novo e eu disse quase em um sussurro que precisava sair dali. Para meu alívio, Phil interviu.

"Qual parte você ainda não entendeu, hacker? Ela não quer falar com você."

O barman entrou na frente e empurrou Jake para trás. O hacker não gostou nada do contato e avançou contra Phil.

"Fica longe disso!"

Os dois iam brigar, ninguém fazia nada, apenas me olhavam com incredulidade.

"Phil, me leva embora daqui. Eu não estou me sentindo bem."

Era a mais pura verdade, eu não conseguia sequer respirar aquele ar pesado. A ânsia de vômito ia e voltava, minhas pernas estavam fracas e minha pressão estava cada vez mais baixa. Eu devia estar verde, porque quando Phil olhou para mim, se afastou rapidamente de Jake e segurou minha mão. Sob todos os protestos dos demais, ele me conduziu até a saída e em segundos eu estava me sentando no banco do seu carro. Jamais vou me esquecer da forma como ele cuidou de mim naquela tarde.

"Phil, pare o carro."

Só tive tempo de abrir a porta e me inclinar para fora. Minha cabeça doía, uma dor pulsante e nauseante... Em todos meus pensamentos jamais imaginei que se um dia encontrasse com Jake, seria tão caótico.

Phil me levou para casa dele, eu protestei de início. Queria voltar para Colville, mas ele não quis sequer argumentar.

"Você não está em condições de ficar sozinha."

Me sentei no sofá e encostei a cabeça no apoio. Enfim pude respirar fundo e sentir meus pulmões relaxarem.

O barman me deu um copo de água gelada que bebi na mesma hora.

Ele se sentou do meu lado e passou a mão no meu cabelo.

"Você vai dormir aqui. Amanhã volta para Colville. Vou preparar uma sopa para você."

"Phil, não quero comer nada. É sério."

"Mais tarde você pode sentir fome. Vou deixar ela pronta."

Não sei em que momento ao certo aconteceu, mas eu adormeci sentada no sofá, o estresse havia sido tão grande que minha mente não aguentou.

Quando acordei, estava escuro. E não me encontrava mais na sala e sim deitada em uma cama. Me sentei e olhei em volta. Devia ser o quarto de Phil. O chamei por ele, mas não tive resposta. Acendi a luz e abri a porta. A casa estava em completo silêncio e no escuro. Fui até a sala e na mesinha havia um recado.

"Oi, docinho.

Fui para o bar, deixei sua sopa em cima do fogão, coma um pouco, vai te fazer bem. Se sentir mal de novo ou qualquer outra coisa, me ligue.

Sinta se à vontade na minha casa :)

Nos vemos pela manhã.

Galã de Duskwood ;)"

Só Phil mesmo para me fazer sorrir naquele momento.

***

Eram 23h30min, o som dos ponteiros preenchia meus ouvidos de forma irritante, enquanto eu o observava fixamente. Fazia horas que estava sentada à bancada da cozinha, meu estômago vazio começou a protestar e fui em busca da cheirosa sopa do barman... E desde então, me concentrava em manter minha mente ocupada com o relógio em formato de disco de vinil, pendurado na parede branca. Qualquer coisa era melhor do que pensar no evento desastroso daquela tarde.

Ainda não tinha olhado meu celular, não tinha cabeça para isso. Sabia que devia estar repleto de mensagens e ligações perdidas... O escutei vibrar, até que decidi desligar.

Jake...

Por que agora? Por que justo agora?

Ele devia estar planejando tudo desde o início... E aquele encontro no corredor de manhã, devia ter pego ele de surpresa a julgar por sua reação... Mas o resto... Se hospedar no mesmo hotel, no mesmo andar que o meu... E sua entrada triunfal no churrasco... Tudo tinha sido calculado.

Era impressionante a minha capacidade de atrair o caos! Era só eu fechar os olhos para ser transportada... Ele... Ali, parado na minha frente... Alto, bem mais alto do que eu imaginava, robusto, os cabelos castanho escuro, beirando ao preto... Liso. Os olhos azuis, o óculos de armação prata que só destacava mais aqueles olhar profundo...

Dei um longo suspiro, sentindo um frio na espinha subir, aquele olhar... Que um dia tanto desejei, agora me assombrava.

***

Após o Fim - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora