Após o Fim - Duskwood

Capítulo 107

Eu rotulei aquela semana como sendo intensa demais, estressante demais. Além do meu trabalho que estava exigindo o dobro de mim, pela minha distância... O julgamento se aproximando, ainda tinha o delegado para completar a lista. Alan estava todos os dias enviando alguma coisa para o apartamento de Jessy, já não tinha mais lugar para colocar tantas flores e Agnes não queria mais os chocolates. Resolvi pegar tudo e pedir para o vizinho adolescente da Jessy fazer uma entrega até a casa do delegado. O garoto magricela e com uma franja descolorida caída nos olhos, não gostou inicialmente da ideia, mas após eu dizer que ele seria pago para devolver todas aquelas coisas para o delegado, o menino topou. As mensagens eram insistentes, as ligações também e já tinha somente naquela semana bloqueado mais de cinco números diferentes que ele entrou em contato comigo. Eu pensei em chamá-lo para conversar e tentar colocar na cabeça dele que tinha acabado, não existia mais nós. Jessy disse para eu denunciá-lo por importunação e assédio, mas para quem? Como chegaria na delegacia para denunciar o delegado? E fora que eu não queria chegar a este ponto.

"Por que você não sai desfilando com algum gato bem na hora que ele estiver saindo da delegacia? Aí ele vai ver que você está em outra." Agnes sugeriu.

"É uma péssima ideia."

"Não é não, se ele te ver com alguém pode ser que dê certo mesmo." Jessy disse animada.

"Chame o Phil para fazer o papel desta peça." Agnes falou me provocando.

"Ou o Jake." Jessy falou.

Olhei para duas à minha frente que pareciam realmente acreditar naquela ideia maluca.

"Vocês ainda se dizem minhas amigas? Vocês não podem estar falando sério."

"S/N, é sério. Acho que realmente, você deveria começar a sair com alguém. Ok, você não quer mais nada com o delegado e concordo de você ter terminado com ele. Mas isso não quer dizer que você tenha que desistir de encontrar alguém."

"Agnes, eu não estou com cabeça para relacionamentos. É tudo complicado demais e ainda mais agora. Quero colocar a minha vida de volta nos trilhos."

"Ok, mas ficar na seca também não, né amiga?"

"E quem disse que estou nessa situação, Agnes?"

Jessy segurava o riso.

"Só acho que sair de vez em quando e se divertir, não faz mal a ninguém."

"Estou bem sozinha."

As duas se entreolharam trocando um sorriso e as ignorei, voltando para o trabalho.

***

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No sábado de manhã, o céu amanheceu escuro. Tudo indicava que choveria, mas ao longo do dia o tempo abriu e me vi saindo para caminhar um pouco, Jessy faria horas extras no café e Agnes estava atarefada com as atividades do hotel em Colville. Não queria importunar o Phil, o bar estava sempre cheio e ele e os demais funcionários estavam encontrando dificuldades em dar conta de todo o serviço. Então, pretendia passar o meu sábado sozinha e aproveitar para colocar minha mente no lugar. O julgamento seria na próxima terça-feira e toda vez que me lembrava sentia um mal estar. Mas o quanto antes isso se resolvesse seria melhor, era a minha carta de liberdade para voltar para casa.

A mudança de tempo foi de repente, estava próxima da trilha quando uma chuva grossa começou a cair, os relâmpagos cortavam o céu e me vi desprotegida e encharcada em questão de segundos. Entrar na trilha seria um erro com todas aquelas árvores, por isso resolvi correr de volta para a cidade. Enquanto corria pelas calçadas de Duskwood, senti um choque doloroso no ombro e um tombo com uma montanha de tecidos negros caindo em cima de mim. Por um instante fiquei parada apenas absorvendo toda aquela dor e peso, fora a chuva que caia sem nenhuma piedade. Então, vi um sorriso surgindo naqueles lábios esculpidos.

"Poxa, docinho. Essa doeu."

"Phil, você está me esmagando." Disse fazendo uma careta.

Ele se levantou e estendeu a mão me ajudando a levantar.

"Está machucada?"

"Não, tudo b..." Não tive tempo para responder, o barman me pegou no colo e seguiu andando em meio a chuva até parar ao lado do carro. "Phil, o que está fazendo?"

"Te levando para minha casa, Jessy disse que você ia passar o dia sozinha hoje. Resolvi as coisas no bar e fui te ver, mas não a encontrei. Então decidi parar aqui antes de ir para casa, para deixar uma encomenda de Whisky para um cliente meu. Mas e você, o que está fazendo aqui?"

"Fui caminhar." Respondi colocando o cinto.

"Nessa chuva?"

"Começou do nada, Phil."

Minha mão estava ardendo, dei uma olhada e havia um corte.

"Merda, você se machucou."

"Não é pra tanto, é só um corte."

O barman não quis discutir, ligou o carro e em minutos estava estacionando o carro em frente a casa dele.

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Estávamos com toalhas enroladas em nossos cabelos, sentados no sofá assistindo a um filme de terror antigo. Minha mão estava enfaixada devido ao corte e Phil tinha me emprestado algumas roupas, enquanto as minhas secavam. O barman comia pipoca e os olhos estavam vidrados na TV, de repente ele inclinou a cabeça na minha direção e deu aquela piscadela que derretia os corações das mulheres.

"Que foi, docinho? Sua mão ainda está doendo?"

"Não, está tudo bem. Nem precisava enfaixar Phil."

"Claro que precisava. Quer mais pipoca? Eu posso..."

"Não, pode ficar aí. Só estou..."

"Me admirando?"

"Nada modesto você."

"Só estou falando os fatos. Mas não me importo nadinha de você ficar me olhando, pelo contrário."

Dei um sorriso e voltei minha atenção ao filme novamente.

***

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"Aquele filme me deu uma ideia."

Phil me levou ao apartamento de Jessy e depois seguiria para o bar.

"Nossa, tô curiosa para saber. Como um filme de terror te inspirou?"

O barman parou o carro próximo a calçada, e se virou dizendo.

"Vou fazer uma festa à fantasia no Aurora."

"Vai bombar. Mas tenha em mente que você vai precisar contratar mais gente."

"É, já estava pensando nisso. Sam é o que mais reclama de falta de pessoal."

"E quando você vai fazer essa festa?"

"No próximo final de semana..."

"Nossa, mas já?"

"Eu sei que você pretende partir assim que o julgamento passar, então pensei que será um jeito de você ter a chance de ir embora com uma lembrança boa de Duskwood."

Phil colocou uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha e sorriu.

Eu não soube nem o que dizer, o barman vinha me deixando sem palavras ultimamente.

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