Conforme os dias passavam a cidade só sabia falar sobre um assunto, o julgamento de Hannah, era na TV, eram nas ruas e quando as pessoas me viam faziam questão de ficar cochichando, o que estava me incomodando e me fez ficar mais no apartamento de Jessy, por sorte tinha um projeto para trabalhar o que acabou ocupando minha mente.
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"S/N, ficar presa aqui não é nada saudável." Disse Phil que tinha vindo tomar café da manhã conosco.
"Eu falei isso para ela." Jessy falou enquanto tomava uma xícara de café.
"Eu estou bem, pessoal. Não se preocupem comigo."
Os irmãos trocaram um olhar cúmplice.
"Que tal sairmos para caminhar? O dia está ótimo, difícil Duskwood ter um dia com céu limpo desse jeito." O barman propôs.
"É uma ótima ideia. Vocês me acompanharão até o café e depois vão andar um pouco."
Olhei para os dois e sabia que aquela luta estava perdida.
"Ok. Me convenceram."
Uma coisa boa tinha que admitir de tudo isso, Jessy e Phil estavam mais próximos. As picuinhas ainda existiam, mas os dois conseguiam ter conversas longas sem proferirem um único xingamento. Era bacana ver o relacionamento dos dois progredindo, isso me fez pensar em Victor... E uma tristeza me abateu repentinamente. A verdade era que eu estava evitando pensar nele... Que no fim ele queria resolver as nossas diferenças... Observava Jessy sorrindo para Phil e meus olhos se encheram de lágrimas. Precisei disfarçar bem e engolir o choro para não preocupá-los.
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Jessy ficou no Rainbow e Phil olhou para mim segurando minha mão.
"Você parece triste, docinho."
"Eu..."
"Você sabe que pode confiar em mim, então se abra comigo."
Dei um suspiro e sorri.
"Obrigada, Phil. Não consigo sequer imaginar como recompensar você por tudo. Principalmente pelo apoio nesse momento."
Ele apertou minha mão delicadamente enquanto caminhávamos.
"Você não precisa fazer nada, S/N. Você sabe porque faço o que faço e não quero nada em troca. Só quero que você fique bem, docinho."
Caminhamos mais um pouco até pararmos no parque e nos sentamos um pouco. Era um dia diferente mesmo, o céu estava azul com algumas nuvens e o vento agitava as copas das árvores.
Algumas pessoas passaram fazendo caminhada e não hesitaram em olhar para o barman e eu. Phil ignorou completamente.
"Phil, você se importaria de me levar até o cemitério de Duskwood? Não precisa me esperar, depois eu dou um jeito de voltar e..."
"Claro que levo você, S/N. Meu carro está em frente ao Aurora."
"O cemitério fica muito longe?"
"É um pouco afastado sim... Quer passar na floricultura antes?" Perguntou gentilmente.
"Sim, por favor."
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Observava a paisagem pela janela do carro. Havia comprado um buquê de rosas brancas que jazia no meu colo, Phil tinha ligado o rádio e uma música melancólica com alguns acordes de guitarra começou nos envolver.
O acidente de carro saiu nos jornais na época, nas minhas buscas pela internet encontrei uma foto preto e branco do carro destruído na estrada.
Victor foi enterrado com o caixão lacrado, assim como o taxista. Ambos foram identificados pelos documentos encontrados nos bolsos em meio às ferragens... E todo esse tempo eu pensando que ele estava provavelmente casado e com filhos, morando em algum lugar desse mundo...
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Havia uma árvore que fornecia um pouco de sombra no túmulo de Victor. O local estava limpo e tinha algumas flores murchas, no qual retirei. Imaginei se teria sido Hannah que as trouxe... Phil ficou um pouco afastado me dando uma certa privacidade e coloquei as flores frescas que havia levado. As lágrimas vieram sem aviso e só senti meu rosto molhado pelo meu choro silencioso. Fechei os olhos tentando me lembrar de algum momento feliz que passamos juntos... Nem sempre brigamos, nem sempre fomos guiados pela raiva sem sentido... Então me vi com seis anos de novo chorando depois de levar um tombo com a bicicleta nova que tinha ganhado.
Minha mãe estava longe conversando com alguém, e então Victor apareceu e me ajudou a levantar. Passou as mãos pela minha face chorosa e deu um sorriso, me ajudando a subir novamente na bicicleta, e desta vez ele me guiou até que eu consegui andar sozinha...
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Phil não disse uma única palavra no caminho de volta, o barman me deu um abraço quando me aproximei dele para irmos embora e as lágrimas que tinha parado, voltaram e ficamos um tempo abraçados, sentindo ele me confortando. Me senti grata mais uma vez por tê-lo por perto. O barman me conhecia tão bem, era tão atento a detalhes... Ele olhou para mim enquanto dirigia e me flagrou o observando.
"Obrigada, Phil."
"Conte comigo sempre, docinho."
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O promotor Gilbert Keith havia chegado em Duskwood, Alan havia me mandando mensagem avisando. Como o delegado havia conseguido meu número? Não fazia ideia. Não respondi, apenas li e voltei a trabalhar no projeto. Mas não consegui me concentrar o suficiente, e me vi abrindo uma nova guia no meu notebook e pesquisando sobre o promotor. Era um senhor calvo e robusto, usava óculos de armação simples, o homem era conhecido por ser um terror nos tribunais e tinha algumas notícias sobre os casos no qual ele esteve presente. Meu celular apitou mais uma vez e era mais uma mensagem do delegado.
"Consegue vir na delegacia hoje a tarde?"
"Não, Alan. E agradeceria se parasse de me enviar mensagens. Quem te passou o meu número?"
"O julgamento será na próxima semana e como você vai testemunhar, se quiser conversar... Estarei aqui, S/N."
É claro que me sentia nervosa com a situação. Nunca, nem nos meus sonhos mais loucos me imaginei passando por isso. Ficar cara a cara com Hannah novamente, um monte de pessoas ao redor me ouvindo falar sobre aquele episódio traumático. Claro que minha cabeça estava um caos... Mas não procuraria suporte em Alan. De jeito nenhum, estava ignorando todas as suas investidas. As flores enviadas para o apartamento de Jessy, as caixas de chocolates que Agnes fez questão de comer. Se eu precisasse desabafar, faria isso com os meus amigos.
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""Não se esqueçam de votar e até o próximo capítulo. ;)""
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Após o Fim - Duskwood
FanfictionApós a resolução do desaparecimento de Hannah Donfort, a relação com o grupo parece estranha e ninguém mais responde as mensagens ou demonstra querer manter contato. S/N resolve enfim voltar para sua própria realidade que até então foi deixada de l...