Após o Fim - Duskwood

Capítulo 83

Os dias passaram e com isso o final de semana estava chegando, na sexta-feira tinha ido ao café Rainbow pela manhã, Jessy estava tão atarefada que apenas acenou para mim indo para cozinha carregando um monte de bandejas. Um dos atendentes veio pegar o meu pedido e nisso a porta do café se abriu e Ellie entrou acompanhada de nada mais nada menos que Alan Bloomgate. Isso só podia ser brincadeira, os dois sentaram do outro lado do café e sequer me viram, já que eu estava bem ao fundo e o café estava bem cheio.

O delegado estava sério e de braços cruzados, enquanto Ellie sorria abertamente e estava inclinada na mesa.

Enquanto tomava meu suco de laranja, observava os dois conversando, era nítido o interesse dela, ela havia aparecido por um motivo e aquele olhar cheio de segundas intenções e o sorriso para o delegado, não deixava nenhuma dúvida.

Não pretendia ir lá fazer um barraco, queria ver até onde aquilo iria. Além do mais, Alan aparentava um descontentamento por estar ali, poucas vezes eu vi o delegado tão fechado quanto estava. Jessy saiu da cozinha e foi em direção a mesa dos dois com o caderninho pegar os pedidos, ela nem soube esconder a surpresa e não hesitou em olhar para mim. Ela anotou e saiu em disparada para o balcão e logo voltou trazendo duas xícaras de café. Alan a cumprimentou e perguntou algo e a ruiva só assentiu voltando para cozinha.

Por fim, o delegado tomou o seu café, se levantou e foi embora deixando Ellie para trás.

Terminei meu suco e dei uma mordida no meu cheesecake, e a vi pegar o celular logo em seguida e fazer uma ligação. Não perdi mais tempo ali, fui embora do café e me sentei em um banco no parque. Fechei os olhos aproveitando aquele silêncio e a brisa tão característica de Duskwood e me permiti por um instante limpar minha mente e não pensar ou sentir mais nada... Parecia ser o que eu precisava, porém não durou por muito tempo, senti um peso no banco ao meu lado e alguém pigarreando, chamando atenção.

Abri os olhos e era Ellie.

***

"Oi."

"Oi." Respondi. Era azar demais.

"Vi você no café."

"E?"

"Pensei que fosse nos cumprimentar."

"Não queria estragar o meu café da manhã." Ela deu um sorriso torto. "Que tal pararmos a conversa fiada e você ir direto ao ponto?"

"Ok. Estou me mudando para Duskwood daqui três semanas."

"Por que será que isso não me surpreende? Não me diga que vai ser na mesma rua da casa do Alan?"

Ela deu risada.

"Você deveria jogar na loteria, sabia? A vizinha de frente com a casa dele, decidiu vender a casa, já que ninguém teve interesse em alugar."

"Por que agora, Ellie? Depois de todo esse tempo, depois de tirar tudo dele, até os cães. Acha normal aparecer assim?"

Ela olhou para frente observando as árvores, um vento forte começou a balançar as copas.

"Eu sei que vocês estão juntos."

"Sério? Nossa, eu pensei que você não tinha percebido. E isso não responde a pergunta que te fiz."

"Interprete como quiser. Se me permite um conselho de quem realmente conhece o Alan... É só uma questão de tempo até ele te decepcionar e te garanto que isso vai acontecer, porque é assim que ele é."

Ellie se levantou e foi embora em meio a ventania. Senti um calafrio percorrendo meu corpo e eu sabia que não era só por conta da mudança brusca de tempo.

***

Odiava aquela sensação, odiava me sentir impotente. Eu poderia fazer duas coisas, fingir que aquela maldita conversa nunca aconteceu ou levar comigo o conselho. Me levantei sentindo meu peito acelerar e por um instante só queria sumir e foi o que fiz, seguindo caminho por entre as trilhas até chegar ao lago Blackwater, me sentei em um tronco caído no chão e fitei a água. Apesar da ventania e as folhas caindo no lago, a água estava calma, o tipo de calmaria que eu queria na minha mente tão turbulenta.

***

O céu estava começando a escurecer quando achei melhor voltar para casa. O caminho estava silencioso e uma chuva parecia que iria cair a qualquer momento. Estava já na metade do caminho para chegar na estrada, quando ouvi folhas secas serem esmagadas, olhei na direção do som e não havia nada para meu alívio ou melhor desespero, já que o som começou a ficar mais perto e mais alto. Eu não sabia de onde exatamente aquilo estava vindo. Comecei a correr assustada e um galho com espinhos grudou no meu braço e pela forma brusca como puxei, acabou rasgando minha blusa. Continuei correndo desesperada e não era coisa da minha cabeça, porque havia passos vindo atrás de mim na mesma velocidade, olhei novamente e não havia nada, então tropecei e caí no chão sentindo meu joelho arder.

Quem quer que fosse... Iria conseguir me pegar.

***

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