Capítulo 103

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Hannah havia confessado que me atacou pois agiu em legítima defesa. Ela chegou em sua casa e viu uma pessoa em meio a escuridão do escritório. Quando me acertou e viu sangue entrou em desespero e me sequestrou. Eu estava na delegacia, especificamente na sala do delegado dando meu depoimento. Alan havia me intimado a comparecer pessoalmente e não aceitou a videochamada. Estava estressada com tudo aquilo.

"Ela disse que você ficou dois dias desacordada. Podemos usar isso contra ela. Não é a primeira vez que ela negligencia alguém em situações extremas."

Ouvia Alan falando que haveria um julgamento sobre o caso de Jennifer Hanson e sobre o sequestro, a defesa de Hannah estava apelando que ela foi coagida a agir da forma como agiu. Que o desespero a levou a tomar essa atitude de me sequestrar.

"Adianto que eles vão fazer de tudo para que ela pegue a pena mínima, mas temos tudo a nosso favor, S/N."

"Quando vai ser tudo isso, esse julgamento?"

Ele se aproximou e tentou pegar minha mão por cima da mesa, mas tirei a tempo.

"Levará algumas semanas. Haverá um promotor que virá de Grove Springs."

Eu não tinha todo esse tempo, minhas férias terminariam em 3 dias. Dei um suspiro.

"Eu preciso voltar para casa..."

Alan pigarreou.

"Você precisa estar presente no dia."

"Eu entendi, delegado... vocês são o tipo de pessoas que não usufrui da tecnologia para as coisas que fazem sentido. O fato de eu estar aqui já diz isso."

" Somos uma cidade pequena e..."

"Não precisa se explicar, darei um jeito com o meu trabalho."

Alan assentiu e ficou em silêncio me observando. Era hora de eu ir embora.

"Bom, eu preciso ir." Levantei e ele fez o mesmo vindo na minha direção.

"Podemos almoçar juntos? Já está no horário e pensei..."

"Não, obrigada." Falei interrompendo.

"S/N, precisamos conversar."

"Já conversamos, Alan."

Disse evitando olhar para ele, estávamos próximos demais e sentia sua respiração na minha pele.

"O que eu preciso fazer para você voltar para mim? Eu faço qualquer coisa." Havia desespero em sua voz e isso me assustou um pouco.

"Nada, você não precisa fazer nada... Agora, por favor. Eu preciso ir."

Fitei seus olhos que sequer piscavam olhando para mim.

"Está difícil ficar sem você, não tem uma noite que eu não sinta saudades de dormir com você nos meus braços." Disse tocando a minha face com o polegar. "De acordar de manhã e poder te abraçar e sentir seu aroma doce... De te beijar e ouvir seus suspiros e gemidos enquanto eu toco em você."

Eu não conseguia abrir a porta, não conseguia me mover e sequer respirar direito com o delegado me prensando contra a parede.

Suas mãos desceram pelo meu corpo e pararam na minha cintura. Ele se inclinou escondendo a face no meu pescoço e logo comecei a sentir seus beijos molhados.

Por um minuto eu acabei cedendo e suas mãos subiram apalpando meus seios, Alan fazia uma trilha de beijos até que chegou nos meus lábios. Sua língua quente pediu passagem e começaram a bater na porta.

O mesmo policial da outra vez, pediu desculpas assim que viu o olhar enfurecido do delegado.

"Senhor Hendel está aqui."

Não ouvi mais nada, apenas aproveitei a deixa e saí daquela sala sentindo meus batimentos acelerados. Eu não poderia ceder as artimanhas do Alan, ele era um manipulador de carteirinha. Pensei zangada comigo mesma. Cheguei na recepção e o Louis Hendel estava com o mesmo terno preto digitando algo no celular, assim que me viu deu um sorriso vindo me cumprimentar.

"S/N, como está?"

"Bem, na medida do possível."

"Eu imagino. Mas o fim está próximo, com o julgamento logo tudo será resolvido, querida."

Apenas assenti, ele era um homem intrigante, observando com atenção era possível perceber que Hendel era sagaz, o tipo de pessoa que pegava as coisas no ar. Me lembrei de algo que me chamou a atenção, na noite que eu o encontrei pela primeira vez, ele agiu como se conhece o Jake... De onde eles se conheciam? O fitei por alguns segundos e imaginei se esse homem não seria do FBI, mas fazia algum sentido o FBI está aqui em Duskwood?

O policial retornou para recepção e disse que Alan estava aguardando o na sala. Louis assentiu e após se despedir seguiu corredor adentro.

 Assim que saí da delegacia fui abordada por uma moça, tinha cabelos loiros cacheados presos em um rabo de cavalo, vestia um terninho branco e tinha em mãos uma caixinha preta que só percebi do que se tratava quando ela se aproximou o suficiente, era um gravador.

"Boa tarde. Senhorita, S/N. Me chamo Katherine e sou do jornal de Duskwood, teria interesse em gravar uma entrevista conosco? Contar seu lado da história, sobre o que passou no sequestro? Temos informações que a senhorita invadiu a casa da Hannah Donfort e ela agiu em legítima defesa..."

"Senhorita, Katherine. Boa tarde. Não, não tenho interesse em falar sobre o caso. Com licença."

Era só o que me faltava agora para completar a lista... Legítima defesa? Era o cúmulo do absurdo isso. Sabia muito bem que poderia me encrencar feio por ter invadido a casa dela, mas ela achava mesmo que poderia se safar depois de me deixar desacordada por dois dias com a cabeça sangrando e me sequestrar, com essa desculpa? Hannah realmente tinha perdido totalmente o juízo.

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Havia acabado de mandar um e-mail para empresa onde trabalho e expliquei que precisaria ficar mais algum tempo em Duskwood. Temia ser mandada embora com a sorte que estava tendo nos últimos dias. Mas eles foram compreensíveis e propuseram que eu fizesse o trabalho de forma remota até que tudo se resolvesse.

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Após o Fim - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora