"Eles podem Timóteo, você não".
Nasci em um lar de brigas. Meu pai bebia muito e ganhava dinheiro fazendo mal para as pessoas. Muito dinheiro.
— Aqui — ele jogou dinheiro na minha cama.
— O que é isso?
— Queria comprar um computador, não é? Faça isso.
— Eu disse que estava me esforçando para comprar.
— Não precisa, está aí o dinheiro.
— Não quero.
— Qual é o problema?
— O problema é a maneira que você ganha esse dinheiro.
— Isso não tem nada haver com você.
— Tem razão, então tira esse dinheiro daqui.
— Você é ingrato — desde que me entendo por gente sempre fui contra as coisas que meu pai fazia, talvez pelo fato de eu ter visto com os meus próprio olhos uma família ser destruída por causa dele. Mesmo sem conhecer a graça de Cristo, algo dentro de mim me impedia de estar adaptado a esse mundo.
— Já falei que o senhor deveria parar com isso.
— Não se intrometa nos meus assuntos.
— Nem quero — arrumei minha mochila pronto para ir a biblioteca.
— Aonde você vai?
— Estudar.
— Por que tem que ser assim?
— Eu não quero nada, não se para isso você tenha que tirar dos outros.
— Jackson! Sabe o que seria de você se eu o deixasse com a sua mãe?! Teria morrido de fome, por que não consegue ser como todo mundo!
— Deveria ter deixado— apertei os punhos — deveria ter me deixado de uma vez só. Seria menos peso para mim.
Parece uma história ruim não é? Mas depois que conheci Maxwell, percebi que não era tão ruim quanto a dele.
Bom, eu entrei na faculdade de medicina com um objetivo, mas a faculdade é uma brecha para jovens que "acham" que conhecem o mundo como realmente é.
Sai da casa do meu pai e não consegui manter o aluguel, foi assim que pirei e fui influenciado por alunos alcoólatras.
— Mais uma por favor — falei para o cara do balcão.
— E aí? Vai para o baile amanhã? Vai ter só gente louca — meu colega já estava bêbado quando falou isso.
— Com certeza — sorri. Olhei para o lado. Maxwell?? O que o cara mais crente da faculdade está fazendo em um bar?
— Spencer! Você não era crente? — Ele olhou sério para mim.
— Eu sou.
— E o que faz aqui?
— O que você faz aqui?
— O que qualquer um faz quando entra em um bar — falei bebendo um gole das bebidas misturadas.
— Está feliz? — o que ele quer dizer com isso?
— Óbvio.
— Alguém que está feliz com o mundo não dobra o joelho no chão pedindo por misericórdia — (se tem uma coisa que admirei naquele dia e até os dias de hoje, é a intimidade que ele tem com Deus).
— Quem você pensa que é? — meus colegas se aproximaram.
— Qual é cara? Vai andar com o nerd? — Maxwell se levantou e todos recuaram um passo. Que nem aquele velho ditado, cachorro que late não morde.
— Jackson, Deus te ouve. Mas você está tão misturado no meio do joio, que não consegue ouvir quando Ele te responde — ele falou aquilo baixo impedindo que os demais ouvissem — Ele ouviu tudo, viu tudo e te deu todas as respostas. Mas e você, o que tem feito?
— O que ele está falando? Jackson, vamos sair daqui — sempre me perguntei por que esses caras tinham medo de Maxwell.
— Escuta — ele segurou no meu ombro — trigo não se mistura com joio, então não venha querer intimidar outras pessoas, fingindo ser quem você não é. Antes andar com um só amigo chamado Jesus Cristo, do que ser rodeado de pessoas falsas.
Então entendi, as pessoas não tem medo de Maxwell e sim do que ele carrega.
Ele saiu do bar como se nunca tivesse entrado nele e eu cai no chão aos prantos como um bebê que acaba de nascer. Depois daquele dia eu procurei por ele na faculdade.
— Oi — falei enquanto ele estava fazendo uma anotações.
— Oi Jackson.
— Eu queria te pedir desculpas pela arrogância daquele dia, eu estava bêbado e tals.
— Certo. Cadê seus comparsas? — Ele imitou o nosso jeito de falar.
— Deve estar todo mundo de ressaca.
— Ah.
— Aí Maxwell, vai para igreja amanhã? Disseram que é dia de ajudar a montar as cestas — um homem de cabelo castanho falou.
— Vou sim.
— Te encontro lá então — o homem sorriu e saiu da sala de aula.
— Por que fica aqui mesmo depois que acaba a aula?
— Para estudar o que o professor passou.
— Você é mesmo nerd.
— Agradeço o elogio — ele se levantou antes de dizer:
— Quer ir na igreja também? Vamos montar cestas básicas para levar a pessoas necessitadas.
— Pode ser — nesse momento lembrei no meu pai. Eu vou fazer algo diferente dele, vou ajudar as pessoas.
— Aliás, estou procurando por um amigo que possa dividir comigo o aluguel, assim não preciso gastar tanto com casa, se quiser...
— Não consigo pagar a metade agora— senti que ele sabia que eu estava prestes a morar na rua por não pagar o aluguel.
— Pode se mudar amanhã. Te mando o endereço e você começa a pagar só no próximo mês.
— Sério?
— Eu raramente estou em casa então, sim.
Ao longo do tempo, Maxwell conseguiu evangelizar tanto que ficar um dia sem ouvir a palavra de Deus virou uma tortura. E nos tornamos amigos a ponto de confiarmos um no outro no nível que ele contou sobre sua triste história de adolescência.
— Então Catarina se esqueceu que vocês passaram uma boa parte da adolescência juntos?
— Sim.
— Por que não contou para ela?
— Eu...só desejo que ela tenha um final feliz.
— Com outro cara?
— Eu estaria mentindo se dissesse que sim.
— Então?
— Simplismente sem o sentimento de culpa.
— Por que ela se culparia?
— Porque ela é assim. Olha para os outros e se esquece de si mesma.
— Nunca vai falar com ela?
— Vou. No tempo certo.
E eu vou ser a torcida pelos dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FOI NO FIM QUE TUDO COMEÇOU
Romansa"Tudo que começa tem um fim, ciclos, guerras e até mesmo o choro". Catarina é uma mulher determinada e objetiva. Até que se encontra em um cenário contraditório de sua vida. Com um passado que nem mesmo ela conhece por ter perdido a memória em um ac...