Capítulo 4: O Homem do Saco

114 18 203
                                    

Abro a porta do mercadinho que havia em frente à pracinha. Rodrigo e Xaiane estavam ao meu lado, e Rodrigo carregava a mochila com os itens necessários para a nossa casa. Eu estava me sentindo uma Winchester, só que as chances de dar tudo errado eram grandes.

— Com licença. Boa noite! — Cumprimento a única caixa que estava lá, e ela quase não me deu ideia. Estava assistindo reels no Instagram. — Minha cachorra desapareceu esta tarde aqui perto. Tem problema se eu dar uma olhada na câmera de segurança para ver para onde ela pode ter ido?

— Cesar! — A mulher grita, fazendo um homem sair dos fundos do mercado e se aproximar. — A cachorra dela sumiu, ela quer ver as câmeras. Pode ajudá-la?

— Claro! Venham comigo. — Ele diz gentilmente, e logo nós três o seguimos para dentro de uma sala que havia perto do depósito que ficava lá nos fundos.

Ele acende a luz e nos aponta para o computador que havia em cima de uma mesa velha. Nele, haviam oito divisões das câmeras de segurança que tinham no mercadinho.

— Quando sua cachorrinha sumiu? — Ele pergunta, puxando os arquivos recentes.

— Hoje, por volta das seis e meia ou sete da noite. Foi na pracinha. — Explico, vendo ele puxar as gravações de hoje mais cedo e dar replay na imagem.

— Você é o dono daqui? — Rodrigo pergunta para o homem, que sorri gentilmente enquanto Xaiane e eu olhávamos para o vídeo.

— Sou sim. Eu e minha esposa cuidamos deste mercado há vinte anos! — Ele diz orgulho, e Rodrigo continua puxando assunto na tentativa de distrair o homem de qualquer coisa fora do padrão que veríamos nas imagens.

Xaiane aperta algumas teclas do computador, ampliando a imagem para o momento que eu cheguei com a Shakira no parquinho. Observo as crianças no escorregador, no momento em que o homem do saco se aproxima e que eu falo com os pais delas. Logo, em questão de segundos, ele ergue o saco e cobre a menina completamente, em seguida desaparecendo no ar e deixando uma fumaça verde fraca no lugar. Este foi o momento em que percebemos o desaparecimento da menina e que as duas outras crianças no parquinho começaram a gritar.

— Agora eu acredito em você. — Xaiane diz estática, enquanto minha boca fica meio aberta, ainda tentando assimilar o que havia acontecido. — Espera.

— Ah, que legal. Eu tenho dois gatos e uma prima chamada Hanna que estuda em Goiás. Minha mãe já trabalhou em um mercado também, mas foi mandada embora porque agrediu um cliente que ficou perseguindo ela uma semana seguida. — Rodrigo diz aleatoriamente, enquanto inventava conversas para distrair Cesar, que parecia bem entretido no assunto e quase não nos notava ali.

Xaiane puxa um cabo USB da pequena bolsa de ombro transversal que carregava, logo inserindo o cabo na entrada do computador, e a outra parte no próprio celular. Em questão de segundos, ela copia o vídeo e o transfere para o celular, desfazendo todo o processo para que Cesar não notasse a invasão. Xaiane corta o vídeo do segundo em que o homem do saco apareceu até o segundo em que ele sumiu, apagando este trecho dos arquivos do mercado.

— Por que você fez isso? — Perguntei assustada e confusa, sussurrando para que só ela ouvisse.

— A polícia vai vir aqui uma hora ou outra checar as imagens. Acha que vão levar a sério quando virem o homem do saco? — Ela sussurra de volta, fazendo finalmente Cesar voltar sua atenção para nós.

— E então, menina? Achou sua cachorra?

— Eu consegui ver para onde ela foi. Muito obrigada pela ajuda, agora procurá-la pelo caminho em que ela seguiu. — Afirmo com um sorriso forçado, me levantando com pressa e puxando Xaiane e Rodrigo pelo pulso.

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora