Capítulo 34: Comadre Fulozinha

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Após o fim do enterro, voltamos para a casa da dona Nilza. Os irmãos de Jonathan e tia Sônia foram para a casa da tia Sônia da época em que ela era casada. A casa ficava mais perto da cidade, mas como não quisemos deixar dona Nilza sozinha, apenas Rodrigo, Xaiane, Hanna e eu a acompanhamos.

Olho para meu celular e vejo que ainda estava sem internet. Já estava anoitecendo, e confesso que eu me sentia bastante cansada.

— E então, como estão as coisas lá em Três Luas? — Hanna pergunta para nós assim que entramos no quarto, vendo a ordem de quem tomaria banho primeiro.

— Um pouco difíceis, você sabe. — Xaiane diz, abrindo o armário e pegando seu pijama.

— Ah, claro. Lenda urbana e tudo mais. — Hanna contextualiza e eu levanto uma das sobrancelhas.

— Ela sabe que caçamos lendas? — Pergunto confusa e Rodrigo confirma com a cabeça.

— Sabe, ela acompanha o podcast. — Ele respondeu. — Bom, quem vai tomar banho primeiro?

— Eu. — Xaiane diz, caminhando até a porta e saindo do quarto.

— Vou ver se a vó Nilza precisa de ajuda com alguma coisa. — Rodrigo diz, se retirando do quarto, fazendo-me ficar sozinha com Hanna.

Vou até o armário e começo a procurar minha roupa para dormir. Vejo Hanna deitar em uma das camas e pegar o celular, suspirando frustrada logo em seguida.

— Fiquei tão desacostumada com aqui que esqueci que os dados móveis não funcionam direito. — Ela diz, preferindo se sentar na cama.

— É, aqui é bem coisa do interior mesmo. — Respondo sem saber muito bem como puxar assunto.

— Soube que você se mudou para Três Luas há pouco tempo. O que está achando de lá? — Hanna pergunta, parecendo interessada na minha vida, e eu dou de ombros.

— Melhor que o Méier. — Pego minha toalha e junto minhas coisas na minha cama, esperando apenas Xaiane sair do banho. — E você? Como é a vida em Goiás?

— Bem agitada. Comecei a faculdade há pouco tempo, além de trabalhar na loja de roupa com a minha mãe. — Hanna responde né olhando.

— Que legal. Achei que você estivesse na escola como nós. — Comento curiosa. — Quantos anos você tem? E faz faculdade de que?

— Fiz dezoito no início do ano. Faço engenharia civil. — Encaro a garota um pouco surpresa, pois ela não parecia muito uma engenheira, mas quem sou eu para julgar? — E você? Pretende fazer faculdade?

— Ah, eu não sei ainda. Acho que me contentar com um uma vaga na prefeitura. — Dou de ombros, me sentindo mal comigo mesma por não saber pensar no meu futuro. — Mas estou gostando muito de investigar esses casos sobrenaturais, sabe?

— Você pode atuar em uma área que te dê passe livre para continuar as investigações. Tipo, hmm, necropsia. Você estaria diretamente com os mortos e saberia se estivessem envolvidos com o paranormal. Ou até mesmo investigação forense e perícia criminal, o que acha?

— São boas opções. — Confesso ainda um pouco perdida.

Nossa conversa é interrompida quando ouço um som vindo lá de fora. Já havia anoitecido e eu sentia o cheiro da janta sendo preparada. Me perguntei como dona Nilza tinha forças para cozinhar depois de ir ao enterro do marido, mas a única resposta que veio na minha cabeça era que cozinhar ajudava a se distrair. Olho pela janela e vejo tudo muito escuro, pois não havia postes de iluminação, apenas as fracas luzes que vinham das frestas das janelas. As árvores balançavam com força, o que indicava que estava ventando. Ouço o som bem distante de um cavalo relinchando, e me viro para Hanna.

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora