Após o fim do enterro, voltamos para a casa da dona Nilza. Os irmãos de Jonathan e tia Sônia foram para a casa da tia Sônia da época em que ela era casada. A casa ficava mais perto da cidade, mas como não quisemos deixar dona Nilza sozinha, apenas Rodrigo, Xaiane, Hanna e eu a acompanhamos.
Olho para meu celular e vejo que ainda estava sem internet. Já estava anoitecendo, e confesso que eu me sentia bastante cansada.
— E então, como estão as coisas lá em Três Luas? — Hanna pergunta para nós assim que entramos no quarto, vendo a ordem de quem tomaria banho primeiro.
— Um pouco difíceis, você sabe. — Xaiane diz, abrindo o armário e pegando seu pijama.
— Ah, claro. Lenda urbana e tudo mais. — Hanna contextualiza e eu levanto uma das sobrancelhas.
— Ela sabe que caçamos lendas? — Pergunto confusa e Rodrigo confirma com a cabeça.
— Sabe, ela acompanha o podcast. — Ele respondeu. — Bom, quem vai tomar banho primeiro?
— Eu. — Xaiane diz, caminhando até a porta e saindo do quarto.
— Vou ver se a vó Nilza precisa de ajuda com alguma coisa. — Rodrigo diz, se retirando do quarto, fazendo-me ficar sozinha com Hanna.
Vou até o armário e começo a procurar minha roupa para dormir. Vejo Hanna deitar em uma das camas e pegar o celular, suspirando frustrada logo em seguida.
— Fiquei tão desacostumada com aqui que esqueci que os dados móveis não funcionam direito. — Ela diz, preferindo se sentar na cama.
— É, aqui é bem coisa do interior mesmo. — Respondo sem saber muito bem como puxar assunto.
— Soube que você se mudou para Três Luas há pouco tempo. O que está achando de lá? — Hanna pergunta, parecendo interessada na minha vida, e eu dou de ombros.
— Melhor que o Méier. — Pego minha toalha e junto minhas coisas na minha cama, esperando apenas Xaiane sair do banho. — E você? Como é a vida em Goiás?
— Bem agitada. Comecei a faculdade há pouco tempo, além de trabalhar na loja de roupa com a minha mãe. — Hanna responde né olhando.
— Que legal. Achei que você estivesse na escola como nós. — Comento curiosa. — Quantos anos você tem? E faz faculdade de que?
— Fiz dezoito no início do ano. Faço engenharia civil. — Encaro a garota um pouco surpresa, pois ela não parecia muito uma engenheira, mas quem sou eu para julgar? — E você? Pretende fazer faculdade?
— Ah, eu não sei ainda. Acho que me contentar com um uma vaga na prefeitura. — Dou de ombros, me sentindo mal comigo mesma por não saber pensar no meu futuro. — Mas estou gostando muito de investigar esses casos sobrenaturais, sabe?
— Você pode atuar em uma área que te dê passe livre para continuar as investigações. Tipo, hmm, necropsia. Você estaria diretamente com os mortos e saberia se estivessem envolvidos com o paranormal. Ou até mesmo investigação forense e perícia criminal, o que acha?
— São boas opções. — Confesso ainda um pouco perdida.
Nossa conversa é interrompida quando ouço um som vindo lá de fora. Já havia anoitecido e eu sentia o cheiro da janta sendo preparada. Me perguntei como dona Nilza tinha forças para cozinhar depois de ir ao enterro do marido, mas a única resposta que veio na minha cabeça era que cozinhar ajudava a se distrair. Olho pela janela e vejo tudo muito escuro, pois não havia postes de iluminação, apenas as fracas luzes que vinham das frestas das janelas. As árvores balançavam com força, o que indicava que estava ventando. Ouço o som bem distante de um cavalo relinchando, e me viro para Hanna.
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Coração de Lobo, Alma de Bruxa
FantasyStefany Lobos é uma adolescente que se vê obrigada a mudar de cidade e viver em Três Luas junto com a família. Porém, as coisas se tornam estranhas quando as lendas urbanas começam a se tornar realidade e o medo se instala na cidade. Em meio às inve...