Dois dias se passaram quando finalmente pude visitar a Clarissa. Meu coração batia acelerado conforme eu andava pelo corredor branco e gelado do hospital, e eu quase parei de respirar quando me vi em frente ao seu quarto. Bato levemente duas vezes na porta e a abro, vendo imediatamente a visão da garota na maca, enquanto uma enfermeira a acompanhava. Clarissa já não estava com aqueles hematomas todos, graças ao seu processo de cura. Me questionei como ela acordou pouco depois de uma parada cardiorrespiratória, mas acredito que a resposta esteja longe da minha compreensão.
— Como você está? — Pergunto ao entrar na sala, sem saber ao certo o que falar naquela situação.
— Stefany! — Clarissa diz quase que melancólica, tentando se levantar da cama, mas a enfermeira a impede.
— Vou deixá-las sozinhas, mas qualquer coisa, só apertar esse botão. — Ela diz mostrando um pequeno botão ao lado da maca. — Não a deixe levantar. Apesar de ter sido um milagre, e ela estar aparentemente bem, é melhor que ela não faça esforços.
— Vou garantir isso. — Digo, ainda em êxtase por finalmente estar vendo Clarissa acordada.
Foi quase um mês, três semanas e alguns dias, o qual parte de mim ficou com Clarissa quando ela ficou em coma. Uma queda daquela certamente teria matado uma pessoa normal, mas o sobrenatural a salvou. Sorrio fraco, me aproximando cuidadosamente e a abraçando. A maior das coincidências era que há quatro dias foi o aniversário da Clarissa, mas o clima estava mais de enterro do que de comemoração. Era hora de recuperar o tempo perdido, e de agora em diante, apenas com boas memórias.
Eu sabia que seus pais e Felipe já tinham a visitado, mas vê-la pessoalmente com meus próprios olhos era totalmente diferente. Eu coloquei toda minha fé na recuperação da Clarissa.
— Como você está? — Ela pergunta primeiro, e eu solto uma risada fraca.
— Como você está se sentindo? — Pergunto, me sentando ao seu lado.
— Meio estranho tudo. Ainda estou confusa, não lembro de quase nada, e meu corpo ainda dói bastante. — Ela responde e eu faço um leve carinho no seu rosto.
— A gente conseguiu, Clarissa. Os caçadores não vão mais ser uma ameaça. — Afirmo, e Clarissa me olha confusa.
— Você os matou?
— Não. É uma longa história, mas nós os prendemos. — Respondo, tirando do bolso uma pulseira que eu mesma fiz, com sua base preta e com amarras, junto à três pingentes prateados: um com uma pata de lobo, no meio uma lua cheia e o último um chapéu de bruxa. — Feliz aniversário atrasado, Bela Adormecida.
Coloco a pulseira no pulso dela e a vejo observar com um sorriso fraco no rosto. Após mais alguns minutos com ela, meu horário de visita acabou e eu tive que ir embora, com uma grande dor no coração por deixá-la. Se Clarissa continuasse reagindo bem, logo logo ela teria alta e já iniciaria a fisioterapia. Eu sabia que ia dar tudo certo, minha namorada é a garota mais forte que eu conheço. Dou um beijo na sua testa, antes de sair do quarto e chamar um uber direto para casa. Ele demora um pouco para aceitar, mas logo o carro chega e vai em direção à minha casa.
Chego em casa alguns minutos depois, onde Rodrigo e Xaiane já me esperavam. Subo até o quarto e vejo Rodrigo ajeitando a câmera, pois nosso plano contra os Calcinha Preta ia muito além. Era uma possibilidade arriscada, e todos ao meu redor me chamaram de louca, até mesmo a Vanessa.
— E se não der certo? — Rodrigo pergunta apreensivo.
— E se atrairmos os outros caçadores que a polícia ainda não encontrou? — Xaiane levanta a hipótese, mas eu ignoro o medo dos dois.

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Coração de Lobo, Alma de Bruxa
Viễn tưởngStefany Lobos é uma adolescente que se vê obrigada a mudar de cidade e viver em Três Luas junto com a família. Porém, as coisas se tornam estranhas quando as lendas urbanas começam a se tornar realidade e o medo se instala na cidade. Em meio às inve...