Capítulo 23: Et Bilu

34 6 43
                                    

Eu não lembro exatamente o que aconteceu depois que entrei na nave, porém, apenas perdi a consciência. Quando ela voltou, abri meus olhos aos poucos e me vi em cima de uma maca de alumínio, com as mãos e os pés presos. Olho ao redor e vejo que estava sozinha em uma espécie de cabine, cujas paredes eram totalmente de aço.

Tento me soltar, porém não consigo. Era óbvio. Meus poderes também estavam inúteis, como eu bem calculei. Vejo uma porta ser aberta, e logo Clarissa passa por ela como se nada tivesse acontecido. Ela caminha até mim e arranca as algemas super fortes, com a maior facilidade do mundo.

— Teve bons sonhos, princesa? — Clarissa pergunta com deboche, enquanto eu levantava da maca.

— Será que os Calcinha Preta acreditaram naquele papo? — Pergunto pensativa, caminhando até a saída e olhando atentamente.

— Ste, eu não posso perder você também! — Clarissa diz com uma voz tosca, soltando uma risada fraca. — Rodrigo é bom em planos, mas péssimo em scripts.

— Larga de ser ridícula, você teria ficado toda preocupada se fosse verdade. — Respondo em sussurro.

— Ia nada.

— Ia sim.

— Ia nada. — Ela insiste.

— Ia si... — Antes de eu continuar o debate, Clarissa tampa minha boca.

Vejo um ser esquisito passar pela porta. Era literalmente um extraterrestre bem similar aos que as mídias inventaram: tinham cerca de dois metros de altura, sua pele era verde clara e ele tinha um cabeção e olhos pretos grandes bem separados um dos outros. Não tinha nariz, mas tinha uma boca bem fininha.

Haviam outros extraterrestres como ele, e eles se comunicavam não em idioma, mas sim em sons trêmulos e agudos. Não fazia o mínimo sentido, mas era tudo tão estranho e bizarro. Assim que eles saem daquela parte da nave, Clarissa me puxa para fora, e nós caminhamos em passos leves para não fazer nenhum barulho.

— Estamos aqui. — Sussurro para o transmissor que havia comigo, e ele não parecia pegar muito bem, mas dava para ouvir Rodrigo do outro lado.

Perfeito, estou acompanhando vocês. — Ele responde, mas o som estava chiando. — Estão no leste de Três Luas, sobrevoando por cima das nuvens.

Nosso plano consistia basicamente em virmos para a nave espacial, enquanto Rodrigo e Vanessa ficariam lá embaixo para nos trazer de volta em segurança. Sabíamos que na parede paranormal não encontraríamos nada, mas Vanessa nos alertou com antecedência que os seus pais estariam lá para um ritual de fortalecimento do culto, enquanto a lenda urbana dos extraterrestres estivesse em andamento. Planejei um embate direto com os cultistas do medo, pois eu precisava fazê-los acreditar que venceriam uma luta para termos uma vantagem. Manipular o manipulador, esse é o jogo.

— Vamos encontrar logo os abduzidos e esperar a próxima abdução para desembarcarmos em segurança. — Relembro para Clarissa, que apenas concorda com a cabeça.

Ando lentamente até uma parte da nave, e logo vejo várias vacas reunidas. Olho para Clarissa, que retribui o olhar confuso. Eu já ouvi dizer várias vezes que extraterrestres abduziam vacas e outros animais de fazendas, mas achei que isso não faria tanto sentido aqui. Bom, aparentemente eu estava errada. Dou de ombros e continuo andando, vendo uma enorme porta mais a frente. Empurro ela e vejo um corredor com várias cabines.

Caminho até uma das portas com uma pequena janela de vidro, e lá vejo uma vaca deitada em uma cama, com o corpo aberto enquanto os extraterrestres mexiam nela, analisando e estudando. Um deles imediatamente vira o rosto na direção da porta, e em fração de segundos, Clarissa me puxa para o lado. Em silêncio, continuamos andando pelo corredor, onde a maioria das cabines era com os extraterrestres estudando as vacas e os seres humanos; estes, por sua vez, estavam vivos, apenas inconscientes. Passo os olhos atentamente em cada um na esperança de ver Xaiane ou Felipe, mas eram apenas desconhecidos.

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora