Capítulo 45: Ascenção de Altharion

24 5 47
                                    

As cordas firmes queimavam meus pulsos. O cheiro metálico do meu sangue ainda percorria pelo o ar, e o chão ao meu redor estava marcado pelo símbolo que eles desenharam, sugando o pouco de magia que eu ainda sentia dentro de mim. Tentei me esforçar para sair, mas o maldito ritual de anulação bloqueava cada tentativa. O silêncio da floresta era angustiante. Eu sabia o que eles iam fazer. Sabia que, neste exato momento, corriam atrás dele... do meu sobrinho.

Os cultistas haviam desaparecido, deixando apenas o medo pairar pela floresta, e era isso o que eu estava sentindo mais que nunca: medo deles machucarem o Isaque. Eles sabiam que não podiam me usar mais, então agora eu era inútil para o que precisavam. Sinto o desespero crescendo em meu peito. O bebê acabou de nascer, e agora ele é o alvo. Eu tinha que agir, tinha que correr.

— MERDA! — Gritei, sentindo meu corpo tenso de frustração e medo. Minha respiração acelerada foi interrompida pelo som das folhas atrás de mim se mexendo. Um vulto surgiu rapidamente entre as árvores.

— Fica quieta! — Diz Gustavo baixo, cortando as cordas com certa facilidade, provavelmente pela sua força de lobisomem. — Eles foram atrás do bebê, né?

— Como você sabe? — Pergunto confusa, sentindo meu corpo livre das cordas, e logo me levantando do chão.

— Minha mãe teve uma visão. Bom, não temos tempo. — Ele diz, mas não havia tempo para explicações. Cada segundo que passava era uma chance a mais para eles alcançarem meu sobrinho. As palavras sacrifício e sangue jovem ecoavam na minha mente como uma sentença de morte. Gustavo deu um passo ao meu lado, já em movimento, com seus olhos se voltando para mim por um breve momento, o qual reconheci tipicamente o sinal da família de lobos.

Gustavo rapidamente vira um enorme lobo, e mesmo sendo um adolescente, ainda conseguia ser muito maior que eu. Subo nas suas costas como um cavalo, por mais que aquilo ainda fosse estranho para mim, mas rapidamente ele começa a correr pela floresta. A maternidade não estava longe, mas parecia uma eternidade distante com o pânico apertando meu peito. Não podia deixar eles chegarem primeiro. Não podia perder minha família.

Meu corpo estava repleto de adrenalina, e finalmente vi a maternidade de longe enquanto Gustavo me carregava. Antes de sairmos totalmente da floresta, desço do lobo e o garoto volta a se tornar apenas um adolescente. Gustavo me seguiu em silêncio, mas sua forma humana mal conseguiu esconder o cansaço e a tensão. Quando chegamos à entrada da maternidade, arrombei as portas com força, ignorando os olhares assustados das enfermeiras no balcão.

— Onde está a Cecília? Uma moça de vinte anos, branca, cabelo liso e ondulado.

Tento descrever Cecília para os funcionários da maternidade, que tentavam me acalmar e entender o que estava acontecendo. Eu estava entrando em pânico, prestes a vasculhar cada canto desse lugar, quando vi Rafaela, minha irmã mais velha,  parada no corredor, com o rosto pálido e as mãos trêmulas. Ela tinha um olhar que eu conhecia bem, aquele que tentava manter a calma mesmo quando o mundo ao redor estava desmoronando.

— Rafaela! — Minha voz falhou ao dizer o nome dela. — Onde está a Cecília? Onde está o bebê?

— Stefany! — Rafaela deu um passo na minha direção, e o toque suave em meu braço foi mais doloroso do que qualquer resposta que ela pudesse me dar. — Eles levaram ela... e o Isaque.

Por um momento, o chão pareceu sumir sob meus pés. Tudo o que eu temia estava acontecendo. Eu sabia que eles não se contentariam com um simples sequestro. O sangue jovem da minha linhagem era tudo o que eles precisavam para completar o ritual, e agora eles tinham Isaque. Talvez houvesse chance de eu sobreviver caso tivessem usado meu sangue, mas o de Isaque... ele é apenas um bebê que acabou de nascer!

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora