Capítulo 1: Histórias para Boi Dormir

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Acordo de manhã cedo com o som da Shakira latindo e arranhando a porta do meu quarto. Levando furiosa da minha cama e abro a porta, vendo-a correr para o outro lado.

— Ah, sua peste! Veio só me perturbar, é?

Vejo minha mãe no corredor, ao sair do quarto dela, usando um vestido vermelho colado no corpo, com um decote que deixava bem à tona seus enormes seios, junto com um batom vermelho. Tento disfarçar minha expressão pavorosa, mas minha mãe me encara.

— Tá olhando o que? — Ela pergunta.

— Nada. — Respondo, e antes de voltar para a cama, minha mãe me para.

— Teté, você pode acompanhar a Ceci hoje na ultrassom? Tenho que ir até o centro do Rio resolver algumas documentações da antiga casa. — Ela explica, e eu olho o relógio. Eram oito e vinte e duas da manhã.

— Que horas ela vai sair? — Pergunto.

— Ela vai sair daqui às nove. Vai ser rapidinho, ela vai chamar um uber. Aproveita e vê se precisa comprar alguma coisa para sua aula amanhã. — Ela diz, invadindo meu quarto com um cheiro forte de perfume. — Beijo na mamãe.

Ela praticamente encosta sua bochecha na minha boca, obrigando-me a lhe dar um beijo na bochecha. Minha mãe segura meu rosto com uma das mãos e me devolve o beijo na bochecha, logo saindo de casa.

Antes de ir ao banheiro começar a me arrumar, vejo a Wandinha se aproximar miando desesperadamente. Ela estava mais gorda que o normal, mas vivia como se estivesse passando fome.

— Não se engane, eu acabei de colocar ração para ela. — Cecília diz já arrumada, passando ao meu lado e entrando no quarto dela e de Lucas. — Você vai comigo?

— Vou. Espera só um pouco. — Grito do banheiro, fazendo minhas necessidades básicas matinais e tomando um banho rápido da manhã.

Como hoje está quente, optei por usar uma saia jeans escura e um cropped preto. Ajeitei meu cabelo liso, o qual eu deixei crescer por anos e agora batia na minha cintura. Passei uma maquiagem leve, apenas um blush para realçar minha pele parda cor de paçoca, e um gloss labial com pigmentação vermelha.

Peguei uma bolsa da DiSantini e coloquei alguns papéis dentro, e logo fui até o andar de baixo, onde encontrei Cecília já chamando o uber. Pego um pedaço do bolo de coco que ela havia feito na tarde anterior e coloco tudo na boca, mastigando apressadamente e vendo que o uber estava virando a esquina.

— Para que essa bolsa? — Cecília pergunta.

— Vou colocar uns currículos por aí. — Respondo, e Cecília me olha desconfiada.

— Sua mãe não mandou você focar só nos estudos, mocinha?

— Eu não consigo focar nos estudos nem só estudando, que dirá focar nos estudos. — Respondo assim que saímos de casa, abrindo a porta do uber e entrando. — Além disso, um trabalho de meio período não vai me afetar em nada. Pelo menos vou estar ganhando dinheiro.

— Se você diz.

Coloco meus fones de ouvido enquanto ouço Emperor's New Clothes tocar. Não demorou nem vinte minutos até chegarmos ao centro de Três Luas, onde havia uma grande área comercial e muitas lojas próximas umas às outras.

— Obrigada. — Agradeço ao motorista enquanto descemos do carro.

Cecília e eu caminhamos até um consultório médico bem calmo, assim como o resto das coisas aqui. Três Luas parecia o lugar que só víamos na TV, uma cidadezinha acolhedora onde todo mundo parecia sempre estar feliz, onde as casas eram aconchegantes e não caixas de papel modernas como as atuais. Haviam muitas árvores e arbustos ao redor, e também muitas cores e luzes decorando o ambiente.

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora