Capítulo 15: Cabra Cabriola

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Corro com a bicicleta pelas ruas, seguindo o caminho até a escola.

Eu estava atrasada, meu cabelo estava todo embolado e eu só percebi que coloquei a blusa ao avesso depois que saí de casa.

— SEU MÁRCIO, ME DEIXA ENTRAAAR! — Digo berrando no portão da entrada da escola, e o porteiro olha o seu relógio de pulso.

— Quarenta minutos atrasada? — Ele pergunta, e eu olho para ele igual o Gato de Botas se fazendo de coitado. — Entra, mas vai direto para a sala, entendeu?

Concordo com a cabeça e o vejo abrir o portão. Levo a bicicleta até o bicicletário e prendo ela lá, logo correndo desesperadamente pelos corredores. Meu despertador não tocou, quem me acordou foi minha mãe após perceber que eu havia perdido o horário. Pensei seriamente em faltar, mas lembrei da ameaça do policial.

Ouço meu telefone tocar e tiro ele do bolso, enquanto ainda corria. Vejo o número desconhecido e um recado de "Spam Suspeito", então rejeito a ligação. Achei que era algo sério, mas é apenas algum presidiário tentando aplicar golpes.

— Ai! — Sinto meu corpo colidir com o de outra pessoa, fazendo nós duas cairmos no chão.

— Me desculpe. Você está bem? — Ela pergunta, se levantando do chão e estendendo a mão para mim.

Se a Vanessa estivesse por perto, iria jurar que ela jogou um feitiço em mim. Era a típica cena de dorama, sabe? Aquelas em que duas pessoas se esbarram e tudo começa a ficar em câmera lenta, pétalas rosas caindo pela tela e uma música romântica, enquanto os personagens se encaram por longos segundos.

— Estou bem. — Digo saindo do transe e segurando sua mão, me apoiando para levantar do chão. — E você?

— Ah, não foi nada. — Ela sorri, dando de ombros. — Sua blusa está ao contrário?

Olho para baixo e percebo o quão ridícula eu estava. Já a garota na minha frente era linda. Ela tinha cabelos longos, ondulados e castanhos, bem hidratados por sinal. Seus olhos eram castanhos claros e ela não tinha nenhuma imperfeição no rosto. Suas maçãs do rosto eram bem marcadas, e eu pude perceber alguns brincos nas suas orelhas.

— Ah... eu... — Tento falar alguma coisa, mas nada sai da minha boca. — Eu preciso ir.

Me viro e saio correndo pelo corredor, envergonhada e provavelmente corada. Se eu não me lembrasse do que Vitória me falou na leitura do tarô, diria que me apaixonei à primeira vista. Isso já tinha acontecido algumas vezes antes, tipo no fundamental, depois no final do fundamental, em um acampamento de férias, também na igreja, e também com um amigo do Lucas, e também com o noivo da minha prima Mariana antes deles namorarem.

Mas dessa vez foi diferente. Talvez porque eu soubesse que era o pior momento para me envolver com alguém, com as ameaças iminentes em Três Luas. Ai, Stefany. Para com isso! Você só esbarrou com ela e ela foi gentil, só isso!

Eu provavelmente nunca vi essa garota no colégio antes, então presumi que ou ela era aluna nova ou que ela não veio ao colégio antes do recesso de carnaval.

Assim que chego na sala, bato na porta e vejo Ricardo abrir confuso. Provavelmente ele percebe meu estado, porque não questiona nada, apenas dá espaço para eu entrar. Ando rapidamente até as cadeiras do fundo, onde encontrei Rodrigo e Xaiane.

• • •

— Aí eles pararam o carro do lado da gente, mas acho que não me viram, e começaram a falar com a Vanessa. Aí a mãe dela falou que ficou preocupada e ela falou "Vocês nem se importaram comigo", aí o pai dela deu um esculacho nela e ela falou tipo "Ah, mas não sei que lá, vocês só precisam de mim porque sou a única que nasceu com poderes, e não sei que lá dos seus rituais para se sentirem alguma coisa". Aí eu fiquei chocada, e não sei o que aconteceu depois porque a Clarissa me puxou para trás de um caminhão.

Coração de Lobo, Alma de BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora