1
O sopro gélido do entardecer acariciava o rosto do cocheiro enquanto ele guiava a carruagem pelo caminho coberto de neve. Árvores nuas, esqueléticas, formavam sombras sinistras sob o céu acinzentado. Dentro da carruagem, Josephine ajustava o manto ao redor de si, tentando afastar o frio que parecia penetrar até os seus ossos.
Relutava sobre ter aceitado o pedido de seu amigo, um nobre, dono de terras próximas à suas. Suas palavras ainda ecoavam sobre sua mente, prometendo alianças e suporte, mas também alertando sobre a recepção que poderia esperar. Já imaginava o peso da desconfiança que teria que enfrentar, além dos olhares sorrateiros e murmurações sobre o seu respeito. Seus olhos escuros como a meia-noite observavam a paisagem coberta pela neve, uma tela branca que refletia sua própria incerteza.
Tal inquietude era notada por seu mordomo. Um homem de meia idade, de olhos gentis, tocou gentilmente as mãos da moça.
- Tudo ficará bem, minha senhora - murmurou ele com um sorriso meigo.
Josephine apertou levemente a mão dele, agradecendo silenciosamente pelo conforto. As rodas rangiam contra a neve comprida, cada sacolejo aumentava a ansiedade da jovem. Lembranças dolorosas passavam por sua cabeça, cicatrizes invisíveis feitas por um império brutal, momentos de sua fuga até esse novo continente. Dores impertinentes, todavia, necessárias para manter sua cabeça erguida.
Ao desacelerar da carruagem, Josephine pode ver grandes paredes cinzentas, torres que se destacavam em meio a neblina. Quando a carruagem cessou seu trajeto, a jovem com um suspiro profundo, afastou as dúvidas, ajustou seu manto novamente e se preparou para o que viria a seguir.
Quando a carruagem parou, o cocheiro desceu rapidamente e abriu a porta. Josephine saiu com elegância, seus cabelos escuros balançando levemente ao vento. Os olhares dos guardas e versos que se reuniam ao redor eram de curiosidade e cautela.
- Senhorita Josephine - anunciou um servo com um leve aceno de cabeça - O senhor Victor está à sua espera.
Ela assentiu, seus olhos capturando cada detalhe ao seu redor. Este é apenas o começo, pensou, enquanto seguia os servos na companhia de seu mordomo.
O grande salão estava iluminado por uma luz cintilante e suave, que entrava em contraste com a tensão palpável que estava presente no ambiente. Victor, um jovem de expressão séria e olhar perspicaz, estava de pé no centro, cercado de outros nobres e alguns conselheiros. Quando ele a viu, seu olhar fixou-se nela, mudando seu semblante completamente.- Senhorita Josephine - sua voz ecoando pelo salão - Seja bem vinda a minha casa, esta meus caros, é a mulher cuja as habilidades são extraordinárias.
Josephine sorriu ligeiramente, um brilho enigmático em seus olhos escuros.
- Espero não decepcionar, estou aqui para ajudar, como prometi.
O jovem inclinou a cabeça em um gesto de cortesia.
- Precisamos de toda a ajuda possível nestes tempos difíceis.
Ela assentiu, mantendo o sorriso enquanto suas engrenagens mentais giravam. Estava fazendo seus primeiros movimentos, o jogo havia começado.
2
O salão estava repleto de luz e som, com música e risadas dos convidados ecoando pelas paredes decoradas com tapeçarias e candelabros de cristais. Josephine estava sentada em um canto do salão, com os olhos escuros e atentos observando tudo ao redor. Apesar da postura elegante, estava cansada dos olhares sorrateiros e pequenas insinuações murmuradas a respeito de sua presença. Seu mordomo mantém-se firme, uma presença tranquilizadora em meio ao tumulto.
Victor com uma taça de vinho em mãos se aproximava. Com uma expressão séria, um contraste com a atmosfera festiva e também com seu semblante anterior. Ele se inclinou ligeiramente ao chegar, oferecendo a taça a Josephine com um sorriso cordial.
- Minha cara, espero que esteja aproveitando a festa - começou com uma voz baixa e confidencial - apesar de...certa hostilidade.
- A festa está encantadora Victor, agradeço pelo convite.
Victor assentiu, mas seus olhos rapidamente varreram o salão certificando-se de que ele não estava sendo ouvido.
- Tenho informações importantes para compartilhar. Os reinos estão começando a entrar em pequenos conflitos. Há rumores que invasões e revoluções estão sendo arquitetadas em segredo, por ordens do príncipe, longe dos olhos do pai.
Josephine inclinou ligeiramente para frente, atenção completa às palavras de Victor.
- E essas informações são confiáveis? - perguntou ela, com a voz baixa e controlada.
- Sim, meus informantes são de confiança. As tensões estão crescendo, e se não forem contidas poderão explodir em algo muito maior - dizia saudando com a taça um nobre.
- Isso confirma algumas suspeitas que tinha - murmurou ela - Temos que ser cautelosos, e preparados para o que vier.
Uma mão sobre seu ombro, um gesto de apoio vinda do seu mordomo. Josephine sorriu para ele antes de voltar sua atenção a Victor.
- Precisamos manter essa informação entre nós por enquanto. Não podemos deixar que outros saibam, ou que nossos inimigos saibam que estamos cientes de seus planos.
- Claro, farei o possível para obter mais informações e lhe manter informada.
Notando os olhares curiosos e as conversas sussurradas. Josephine pegava uma taça e tomava um gole, seus pensamentos a mil.
- A festa está começando - disse ela erguendo a taça em um brinde discreto - Mas o verdadeiro jogo está começando nos bastidores.
Com isso Victor se afastou, misturando-se em meio a multidão, enquanto Josephine permanecia sentada, uma figura enigmática em meio ao brilho e glamour do salão. Estava entrando em uma intriga perigosa que precisava ser calculada cuidadosamente
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Morte veste Vermelho
FantasyUm reino dividido entre neve e intrigas políticas, liderados por uma mão de ferro. Uma figura enigmática surgiu, moldado pela guerra. Uma mulher, em que adormecia em seu interior, um desejo de justiça e vingança. O príncipe, movido pelo sofrimento d...