1
O sol da manhã infiltrou-se pelas janelas da casa de Elisabeth, lançando padrões dourados sobre as paredes. Josephine, sentada em uma poltrona confortável, olhava pensativamente para a xícara de chá em suas mãos. Elisabeth, percebendo a inquietação de sua amiga, quebrou o silêncio.
- Josephine, você está mais silenciosa do que o habitual. Algo lhe preocupa? - perguntou Elisabeth, sua voz suave e cheia de preocupação.
- É sobre o príncipe - respondeu, levantando os olhos para encontrar os de Elisabeth - Ele recentemente veio até mim, falou sobre seus sentimentos. Creio que em busca de respostas sobre suas questões pessoais.
- E então, o que houve?
- Me disse que seus sentimentos iam um pouco além de admiração e respeito, sentia que poderia ser algo mais…profundo.
- E você lhe deu uma resposta premeditada.
- Sim, uma forma de ganhar tempo. Sendo sincera, estou confusa assim como ele - disse Josephine, fixando sua atenção ao seu chá.
Elisabeth suspirou, inclinou-se para frente, os olhos cheios de compreensão.
- Entendo, Josephine. Mas talvez seja hora de permitir que novas emoções floresçam. Você passou por tantas coisas, sempre focada em seus objetivos e sobrevivência. Talvez seja hora ou uma chance de descobrir uma nova parte de si mesma.
2
Mais tarde, ao caminhar pelo jardim de Elisabeth, Josephine se viu presa em seus pensamentos. Seus objetivos originais, as palavras de seu avô, tudo isso antes de se aliar ao príncipe começavam a pesar novamente em sua mente. Lembrou-se de seu passado, daquele calor, o desespero misturado com cheiro de sangue e morte. Forçando-a a fugir para terras desconhecidas, para anos tempos enfrentar novos horrores e perdas.
Quase inexistente, uma vagulha de raiva. Josephine parou em frente a uma pequena fonte, a água cristalina refletindo seu rosto. As memórias vieram à tona, vividas e dolorosas. Ela se viu novamente naquela noite fatídica, sua casa em chamas, gritos ecoando ao seu redor enquanto corria por sua vida. O pânico gravado nos olhos de sua mãe que segurava sua mão com rigidez enquanto corriam para o barco.
Josephine virou-se rapidamente, retirando sua atenção de seu reflexo. Dirigiu-se novamente para a casa de Elisabeth que estava esperando na sala de estar.
3
- Liz, há coisas sobre meu passado na qual não posso me desapegar - começou Josephine, a voz carregada de raiva e tristeza - Minha família foi atacada pelo império, fugimos para cá. Encontramos refúgio em novas terras, crescemos novamente, nos escondemos, tentando fugir do passado, mas a paz não durou. Aqueles reinos, esses reis, aquele tirano fez de tudo para nos impedir de viver. Restou apenas eu.
Elisabeth segurou a mão de Josephine, oferecendo conforto silencioso.
- Eu sei que passou por dificuldades. Fico feliz em poder ver que colocou essa dor para fora. Mas, por favor, não se apague ao ódio.
- Eu tento esconder em meio aos meus pensamentos. Mas quando olho para ele, sinto uma pequena raiva crescer silenciosamente em mim. Uma lado meu pode querer sentir algo mais profundo por ele, mas não posso ignorar o fato dele ser filho daquele homem.
- Não pode culpá-lo pelas ações de seu pai. Até mesmo ele quer resolver os erros, consertar o passado.
Josephine sentou-se em umas das cadeiras próximas. Sua mente em um confronto contra si mesma, buscando uma resposta, uma palavra para acalmar toda aquela imensa bola de neve de emoções. Quando sentiu um calor repentino, Marta com olhos preocupados segurava sua mão.
- Tudo bem, tia Josephine? - perguntou ela, sua voz baixa e suave.
- Sim, estou bem. Desculpe te preocupar minha pequena - respondeu ela, dando um pequeno beijo na cabeça de Marta.
- Quando estiver triste de novo, é só me chamar. Veio correndo de abraçar - disse Marta com um sorriso caloroso no rosto.
Elisabeth sorriu tranquilamente vendo sua amiga semana novamente.
Por um instante sua mente brilhante encontrou-se em colapso. Mas Josephine sabia que com o tempo poderia responder suas dúvidas, e reencontrar seu objetivo original.
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A Morte veste Vermelho
FantasyUm reino dividido entre neve e intrigas políticas, liderados por uma mão de ferro. Uma figura enigmática surgiu, moldado pela guerra. Uma mulher, em que adormecia em seu interior, um desejo de justiça e vingança. O príncipe, movido pelo sofrimento d...