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Rubém

É tão estranho olhar para a mansão de meu avô e saber que nunca mais verei ele de novo, mesmo que nossa relação não fosse a das melhores, nos últimos meses tinha melhorado bastante, desde que a Zara entrou nas nossas vidas. Por falar nela, não me deixou sozinho nem por um momento, mesmo depois de me dizer que queria seguir caminhos separados, ainda está aqui.

A observo dormindo no sofá. Tudo poderia ter sido diferente, se não fôssemos tão imprudentes e egoístas em várias situações, tenho certeza que nosso final poderia ter sido diferente.

— Rubém. – ouço uma voz familiar que já não ouvia há muito tempo me chamar.

Me viro e vejo a senhora Carmen.

— Meus sentimentos.

Não posso acreditar, depois de deixar a filha completamente preocupada e nem sequer ligar para dizer onde estão, eu não consigo acreditar na cara de pau dela para aparecer logo agora.

— Não esperava vê-la aqui.

— Eu soube da notícia da morte do senhor Custódio, ele era um grande amigo do meu sogro, por isso aproveitei para visitá-los também. – Carmen olha para sua filha deitada no sofá e se aproxima – Como ela está?

— Se quisesse saber, teria entrado em contacto com ela antes. – digo num tom rude.

— Eu vou ignorar suas palavras nada gentis, pois está passando por um momento difícil. – Carmen toca nos cachos da Zara, fazendo-a acordar.

— Mãe? – indaga ela, surpresa.

— Como vai, minha filha? – diz senhora Carmen num tom gentil.

— A senhora realmente quer saber?

— Claro, faz tanto tempo que não a vejo.

Zara se levanta em único movimento e observa sua mãe minuciosamente.

— Pelos vistos, a senhora está muito melhor do que imaginei. E eu ainda me preocupei contigo e com o resto da família, vocês nem... Aliás, por que está aqui?

— Vim dar meus sentimentos à família enlutada, afinal de contas somos uma família.

— Não somos. – as palavras saiem de minha boca, sem que eu ao menos me dê conta delas.

Senhora Carmen faz uma expressão confusa ao ouvir minhas palavras, já Zara parece um pouco triste, mas não saberia dizer a razão. Se é pelo que aconteceu com o meu avô ou pelo que eu disse.

— Como assim? Você e minha filha são um casal, então somos família.

— Nós vamos nos divorciar, mãe. – diz Zara.

Ainda não me acostumei com a idéia de nos separarmos, dói meu peito toda vez que ouço ela pronunciar tais palavras.

— Que absurdo foi esse que acabei de ouvir? – pergunta minha mãe, se aproximando de nós ao lado de meu pai em trajes pretos.

— É a verdade, mãe. Nós decidimos que será melhor assim. – digo tentando usar as poucas forças que me restam.

— Eu não permito isso. – diz senhora Carmen.

— Muito menos eu, tirem essa idéia de vossas cabeças, não irá acontecer. – diz minha mãe.

— Não estamos pedindo permissão à vocês, é algo que só nós temos o direito de decidir. – diz Zara firme.

— Não tente discutir conosco, menina. Vocês não sabem o que é melhor para vosso futuro, já chega desse assunto. – diz meu pai.

— Já está decidido, não podem fazer nada para impedir. – digo, me retirando do ambiente, não tenho energia para discutir, apenas me tranco no meu quarto.

Alguém pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora