Alguém pra mim

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Rubém

Cada vez que fico perto da Zara, só alimento sentimentos que não devia alimentar, pois sei que é algo que só eu tenho em meu coração. Isso é o que me faz evitar ela sempre que posso e falar coisas que quebram meu coração, sempre que vejo tristeza em seus olhos.

Quando ela disse que ia embora, eu queria ter dito que não queria que fosse embora e não consigo sentir raiva da pessoa que tanto amo. Mas a única coisa que consegui dizer é “tenha uma viagem segura ” e agora me sinto como um grande idiota por ter deixado ela ir.

Olho para cada canto e lembro de como era mais alegre quando ela estava aqui, agora parece tudo tão vazio, o piano na sala parece um móvel qualquer sem ela aqui.
O jardim parecia tão cinza, o sol parece uma bola minúscula sem brilho e eu me sinto sem alma.

— Por que não vai atrás dela? – pergunta meu avô.

— Não é como se não fosse vê-la novamente.

Meu avô suspira.

— É isso mesmo que você quer, fazer ela infeliz?

— Ela não vai ficar infeliz só porque não tem minha amizade e não fala comigo.

— Pensei que tivesse dificuldades para entender coisas da escola, mas nem algo tão simples consegue entender.

— Do que está falando?

— A Zara te ama, está nos olhos dela, na forma de agir contigo e inclusive em como ela se preocupa contigo.

— Você não a conhece.

— E você? Conhece ela?

Essa é uma boa pergunta. Eu estive um bom tempo perto dela, sei quase tudo sobre ela, como fica quando está triste e feliz, que quando fica tímida ou sem jeito, usa a implicância para disfarçar e que esteve ao meu lado sempre que precisei, que não consigo parar de pensar nela mesmo que não queira.

— Avô, eu lembrei que tenho que fazer algo, preciso voltar para minha cidade.

...

Ainda não tive coragem de falar com a Zara, pensei que era só voltar, conversar com ela e esclarecer tudo, mas não sei como chegar nela e começar a falar. Depois de como tratei ela por esse tempo todo, me sinto meio sem jeito de puxar ela pra conversar.

— Fico feliz que voltou, como vão as coisas com a Zara? – pergunta minha mãe.

— Ainda não resolvemos as coisas entre nós.

— E o que está esperando?

— Uma oportunidade para resolver tudo e esclarecer nossa situação.

— Esperar não adianta, você tem que criar uma oportunidade.

— Eu não sei como, acho que a machuquei bastante com o meu comportamento.

— Vai ao baile com ela. – diz Tamara ao surgir de repente na sala.

— De onde surgiu? – pergunto.

— Eu acabei de chegar. Olá, tia Benedeti. – diz Tamara sorridente e se senta no sofá ao meu lado.

— Oi, querida. De que baile é esse que está falando? – pergunta minha mãe.

— Bom, eu descobri que no colégio que a Zara e o Rubém estudam vai acontecer um baile de finalistas, como a romântica que sou, vim contar para o Rubém e convencer ele a ir com ela.

— É uma boa oportunidade, filho.

— Eu já sabia do baile, mas não pretendia ir.

— Bom, ainda bem que falou no passado. Agora vamos resolver esse problema de meu casal preferido.

Espero que seja mesmo uma boa ideia, tentar resolver nossos problemas nesse baile.

...

Antes de toda essa história do baile, tive que passar a noite inteira estudando para o exame final do colégio, contei com a ajuda de minha mãe e acho que no final me saí bem.

— Pronto para viver seu próprio clichê? – pergunta Adélio.

Estou de frente para o espelho, me vendo totalmente arrumado e nervoso com o que estou prestes a fazer. Não era suposto ficar tão nervoso assim, não é como se eu fosse me declarar pra ela pela primeira vez.

— Eu acho que sim.

— Espero que tenha mais sorte que eu no amor. – diz Adélio com um sorriso singelo.

Faz alguns dias que seu namoro com a Mary terminou, ela disse estar apaixonada por outro e que não podia mais mentir para si mesma. Apesar de estar passando por um momento tão difícil na minha vida, ele está aqui pra me apoiar.

— Meu Deus, você está perfeito! Vamos logo, antes que nos atrasemos. – diz Tamara.

— Vocês vão comigo?

— Minha irmã não perderia a chance de ver uma cena romântica e eu não vou deixar essa mocinha sozinha.

— Confessa logo que quer ver o mesmo que eu, maninho.

— De qualquer forma, eu agradeço pelo apoio.

...

Ao chegar no baile, aqueles dois irmãos resolveram ir pegar algo pra beber, enquanto eu fui procurar a Zara. Talvez devesse ter chamado ela para vir como meu par, talvez tenha vindo com outra pessoa, como o Davi ou algum colega.

É esperar demais que ela mesmo sem saber que estou aqui, que esteja me esperando?

Caminhando no meio de tantas pessoas, esbarro naquela que estava procurando e ela está perfeita como sempre.

— Te encontrei. – digo com um sorriso, porém não parece feliz ao me ver.

— Eu não sabia que estava aqui, se soubesse não viria, para te deixar mais confortável. – ela se vira para ir embora, porém seguro sua mão para impedir ela.

Zara olha para mim surpresa com minha atitude.

— Você acha mesmo que me sinto confortável quando está longe?

— Você me mostrou que fica desconfortável e não quero te obrigar a ficar perto de mim.

— Não é uma obrigação ficar perto de você, é o melhor lugar que já estive, perto de ti.

— Então, por que age como se me odeiasse?

— Porque eu tenho medo de ser o único que sente, então tentei te afastar de mim e te odeiar.

— O que te faz pensar que é o único que sente? – Zara toca no meu rosto – Consegue sentir minha mão? Ver meu olhar? Algo aqui não parece real?

— Eu consigo sentir, ver seus olhos e é tudo real. – toco no seu rosto com delicadeza e ela sorri.

— Ouve com a atenção o que vou te dizer, só vou dizer uma vez. Rubém, eu te amo.

Esperei tanto tempo para ouvir essas palavras saírem de sua boca, que não consigo acreditar que realmente acabou de dizer isso pra mim.

Sorrio feito bobo, feliz por ter ouvido suas palavras.

— Eu também, te amo, Zara. – a beijo.

É como se voltassemos para o campo, rodeados de plantas e iluminados pelas estrelas do céu, enquanto o mundo inteiro ao nosso redor desaparece. Somos só nós dois contra o universo, nosso amor contra qualquer obstáculo e uma promessa para eternidade. De amor, amizade, confiança e companheirismo.

Eu serei o céu o escuro de noite, ela a estrela que traz beleza a escuridão. Nada nesse mundo pode nos separar outra vez, seremos um só.