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Rubém

Uma última vez debaixo dos céus que nos uniram, onde criamos uma conexão que nos permitiu amar um ao outro, que curou todas feridas abertas, que transformou toda nossa história.

Voltar para a vila como despedida de toda nossa história, é o passo mais doloroso para seguir em frente, porém necessário.

Neste lugar vivi as melhores e as piores partes da minha vida. Aprendi a perder, a dizer adeus e recomeçar. Tantas coisas aconteceram em um só ano, quantas emoções pude experimentar e pensar que saí daqui ao lado da pessoa que é a razão de ter voltado aqui, a Zara.

Dizem que as memórias que criamos são carregadas no coração, talvez seja por isso que vim até este jardim, coletar cada pedaço de nós dois e levar comigo para bem longe, onde as estrelas não são tão brilhantes quando os olhos da Zara.

Lembro de cada milésimo e instante que estivemos juntos, como se fosse agora. Posso até sentir seu cheiro, ouvir sua voz no vento que sopra, trazendo cada parte essencial das memórias que criamos.

— Acho que a raposa tinha razão. – disse Zara em uma das muitas noites em que contemplavamos o céu estrelado.

— Em quê? – perguntei.

— O tempo que passamos com as coisas ou pessoas que cativamos tornam elas importantes.

— Então sou importante para ti? – perguntei com um sorriso.

— Eu não disse isso, só que talvez, só um pouquinho, mas bem pouquinho mesmo. – ela riu – Você esteja começando a ser.

— Você também.

Alguns momentos deviam ser eternizados, o tempo devia parar de se mover e deixar nós dois ali, dois admiradores do céu, para sempre. Sem palavras que pudessem nos separar, apenas o céu estrelado, o silêncio e a companhia um do outro.

...

— Tem certeza que é isso que quer fazer? – pergunta minha mãe.

— Sim, mãe. Eu preciso de um tempo para me descobrir e saber o que quero para mim.

— Essa não é mais uma desculpa para viajar por aí e iniciar outro romance? – indaga ela me fazendo rir.

Como se eu pudesse amar outra moça depois da Zara na minha vida, é como se de todas pessoas que já estiveram em meu coração, ela foi aquela que tirou ele do meu peito e guardou para si, me deixando sem a opção de amar alguém como amo ela.

— Não se preocupe, desta vez não haverá nenhuma surpresa, fique tranquila.

— Fico mais tranquila. É uma pena que a Zara se saiu uma grande decepção, gostava tanto dela.

A última coisa que quero ouvir é minha reclamando da Zara ou a ofendendo como vem fazendo ocasionalmente.

— Mãe, preciso de um tempo sozinho para organizar tudo com calma, a senhora poderia me deixar só? – peço.

— Claro.

Minha mãe sai.

Nunca imaginei que me casaria e tudo acabasse tão rápido quanto começou, quebrando meu coração.

Fecho a mala assim que termino de colocar as roupas nela, suspirando pesadamente enquanto me deito de costas, me perguntando se esse é o certo a se fazer.

Alguém bate na porta.

Me levanto e vou até ela a abrir.
Os dois irmãos vieram me ver, suas expressões mostram que estão preocupados comigo.

Alguém pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora