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Zara

Depois de receber a notícia de terem adiantado o casamento, minha mãe achou que seria uma óptima ideia ver algumas de lojas de vestido de noiva.

— Algum te encantou? – pergunta minha mãe.

— Nenhum até agora, talvez seja melhor mandar fazer um, eu posso desenhar.

— Sei que pode idealizar o vestido perfeito, mas gostaria que esse fosse meu presente de casamento, então eu desenharei um para você. – diz ela com a expressão alegre.

Fico surpresa com sua atitude, sempre soube que ela tem talento para estilista, mas nunca fez nada assim por mim.

— Você nunca desenhou uma roupa pra mim, por que quer fazer isso agora?

— Esse casamento é um momento especial na sua vida, quero que saiba que estou muito feliz com isso e quero tornar esse momento mais especial.

— Você sabe que não estou casando por amor, até porque ele não sente isso por mim, é quase como se fosse assinar um contrato de trabalho.

— Eu tenho certeza que será feliz com ele.

Queria ter a mesma certeza, de que tudo vai ficar bem e que ele não vai me odeiar.

...

Para fugir um pouco dos preparativos do casamento, aceitei o convite da Tamara, irmã do amigo do Rubém, para passar um final de semana na praia com ela, o Rubém e o Davi.

Apesar de não a conhecer muito bem, nos demos muito bem e foi bom saber que alguém próximo do Rubém, além de seus pais, me aceita.

Logo no primeiro dia, tivemos uma agenda agitada com passeios e festas de casais. Lembro de como o evento me permitiu chegar perto do Rubém, sentir, ouvir como seu coração bate rápido perto de mim.

Isso me deixou feliz por algum momento, até nossa conversa na beira do mar sobre o passado e tive a impressão de que ainda sente algo por ela.

Eu queria contar a verdade pra ele, deixar ele ir ou até mesmo dizer que o amo, mas sou covarde demais para isso. Talvez egoísta.

— Mil rosas pelos seus pensamentos. – diz Davi, ao sentar ao meu lado no sofá.

— Eles não valem tanto assim.

— Sabe que quando algo te incomodar, pode desabafar comigo, não sabe? – ele toca minha mão.

— Eu sei, sou grata por ter você na minha vida. – coloco a outra sobre a mão que toca minha outra mão e sorrio.

Davi é como brisa fresca num dia de sol, sempre lá para me fazer sentir melhor e me dar forças para seguir.

— Zara. – me chama Rubém e percebo que seus olhos estão fixos em nossas mãos, então as separo – Atrapalho alguma coisa?

A expressão do Rubém demonstra que está irritado com algo, com o quê exactamente, eu não sei.

— Você sempre atrapalha, vou tomar um pouco de ar fresco. – diz Davi e sai.

— Vocês estão sempre próximos desde que chegamos, tem algo acontecendo entre vocês? – pergunta Rubém.

— Nós somos amigos, é claro que somos próximos, ele sempre esteve na minha vida.

— E o que você sente por ele?

Eu não consigo entender essa atitude do Rubém, por que está fazendo esse tipo de pergunta?

— O que aconteceu contigo hoje? Você parece muito mal humorado e por nada.

— Por nada? Eu tenho motivos para estar assim.

— Quais?

— Isso não importa agora.

— Tanto faz, vou deixar você com seu mau humor, sozinho. – ele segura minha, me impedindo de sair.

— Você pode não ficar tão perto do Davi?

— Por quê? Eu não estou entendendo. – digo confusa.

— Porque eu não gosto de ver você tão perto dele.

— Isso não é motivo para me afastar do meu amigo de anos, aquele que sempre esteve ao meu lado e nunca me deixou sozinha.

— Eu sei que durante todo esse tempo, ele esteve lá pra ti e nunca te deixou sozinha, mas eu quero ser aquele que estará lá por ti daqui pra frente, que ficará ao seu lado e jamais sairá do seu lado.

Ouvir suas palavras me deixa feliz, mas ao mesmo tempo confusa. O que ele quer dizer com tudo isso?

— O que está tentando me dizer?

— Que estou com ciúmes de você.

Fico surpresa ao ouvir sua confissão, ele sente ciúmes de mim, assim como eu dele, isso significa que... Não, eu estou imaginando coisas. Ele não sente o mesmo por mim.

— Eu trouxe nossa comida, pessoal! – diz Tamara animada.

A conversa com o Rubém morreu por ali.

...

Tamara nos convidou para passar a última noite com um grupo de jovens em volta da fogueira, cantando, conversando e dançando. Rubém tem me evitado depois da conversa que tivemos, acho que assim como eu, não sabe o que dizer ou como agir.

— Me empresta sua viola? – pede Davi.

— Claro. – diz o dono da viola.

— Grato. Eu vou cantar uma música que gosto bastante e fala sobre como me sinto. Essa música se chama all you never say da Birdy, espero que gostem.

Davi começa a tocar nas cordas da viola, uma melodia que me mantém pensativa, desde o início e sua voz entra completando o sentimento de amor que quebra o coração.

You've been searching
Have you found many things?
Time for learning
Why have I not learnt a thing?

Words with no meaning
Have kept me dreaming
But they don't tell me anything

And all you never say is that you love me so
All I'll never know is if  you want me oh
If only I could look into your mind
Maybe then I'd  find a sign
Of all I want to hear you say to me
To me

Are you uncertain?
Or just scared to drop your guard?
Have you been broken?
Are you afraid to show your heart?

Life can be unkind
But only sometimes
You're giving up before you start

And all you never say is that you love me so
All I'll never know is if  you want me oh
If only I could look into your mind
Maybe then I'd  find a sign
Of all I want to hear you say to me

Enquanto Davi cantava, percebi que Rubém olhava para mim e meu olhar foi de encontro ao seu, era como se tentasse em silêncio, com o som da viola e da voz do Davi, me dizer algo que seus lábios se recusam dizer.

Nunca me senti tão confusa na minha vida, as vezes sinto que tem um futuro para mim com o Rubém, mas as vezes sinto que não há espaço para mim na sua vida.

Assim como diz a letra da música “tudo o que eu nunca soube é se você também me quer” e no meu caso, talvez eu nunca vá saber, pois pode ser algo impossível de acontecer.

Alguém pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora