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Zara

Passei a noite acordada pensando numa solução para o problema de nossa empresa, entre leituras e pesquisas, consegui esboçar uma ideia que poderia ajudar a chamar mais hóspedes para nossos hotéis e desta forma, dar um passo para sair da falência.

Seguro no envelope na minha mão confiante de que poderei ajudar minha família.

— Onde está indo? – pergunta minha mãe, quando estava prestes a bater na porta do escritório de meu pai.

— Falar com o pai, tive uma ideia que pode ajudar na empresa.

— Eu já conversei contigo sobre isso, não se meta nesses assuntos. – minha mãe arranca o envelope da minha mão.

— Mas mãe...

— A única coisa que quero de ti é que se case, essa é a única forma de ajudar sua família. – ela rasga o envelope bem diante dos meus olhos e joga no chão.

— Eu posso ser mais do que só uma esposa, por que não me dá uma chance? – pergunto com tristeza, olhando para meu trabalho distruído no chão.

— Você sabe que foi criada para se casar com um homem do seu nível, não é a toa que investimos em ti.

Não posso acreditar no que ouço, minha própria mãe, diz que o único propósito pelo qual tive os melhores professores é casar-me com alguém e nada além disso.

— Não sei para quê, se no final não me deixam usar minhas habilidades. Eu sou bem mais eficiente que meus irmãos juntos, apesar de não ser homem.

— Como pode dizer algo assim? Seus irmãos são muito capazes.

Sorrio irônica.

— Tanto é que faliu a empresa. Será que não percebe? Os únicos que levam os negócios a sério, são o pai e eu.

— Você acha que sabe tudo sobre a vida, mas não faz a mínima ideia de como é a vida de verdade.

— Tudo o que sei é que não quero ser como a senhora. – sinto minha bochecha esquentar pelo impacto da mão de minha mãe no meu rosto.

— O que está acontecendo aqui? – pergunta meu pai.

— Sua filha perdeu o respeito por mim.

Seguro a vontade de chorar, me abaixo para pegar os pedaços de papel.

Ouço as vozes de meu pai e de meus irmãos também, mas não percebo o que falam, eu apenas sofro em silêncio pelo meu trabalho distruído pela minha própria mãe.

Essa é a pior sensação, depois da vez que Artur roubou meu esboço de projecto para quando entrasse na faculdade, apesar de que na época faltava muito para isso. Vi ele receber os elogios pelo meu esforço, mas o que podia fazer, sou apenas uma mulher nesta família.

— Zara, eu disse para pedir desculpa para sua mãe. – ordena meu pai.

Me levanto com os pedaços de papel no chão.

— Desculpa.

Me viro e sigo para meu quarto.

— Eu quero que se prepare para o jantar hoje, irá conhecer alguém importante para seu futuro. – diz minha mãe.

Ao chegar no meu quarto, coloco os pedaços de papel sobre a penteadeira e deixo as lágrimas caírem de meus olhos.

Será que é tão errado assim querer ser uma mulher forte e independente?

Olho para meu reflexo no espelho, vejo as lágrimas molharem meu rosto maquiado e ao mesmo tempo me julgando.

...

Alguém pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora