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Bateram na minha porta e abriram, enquanto uma figura enorme entrava no meu quarto.

Declan.

Ele parou ao me ver sentada no canto, encarando a porta.

- Está na hora. - Falou. - Você dormiu, sequer?

Levantei e me aproximei dele, encarabdo. - Não é necessário. Vamos?

Ele se preparava para argumentar contra mim, mas deve ter percebido que nada do que pudesse dizer iria mudar o facto de eu ter passado a noite toda acordada.

Segui Declan por um extenso corredor e depois parámos diante de uma porta solitária. O Capitão me olhou, colocando a sua mão na porta.

- Não morre, por favor. - Pediu.

Ergui o queixo, sentindo o peso da espada presa na minha cintura, e encarando a porta.

- Não faço promessas.

Senti seu dedo no meu queixo, me fazendo olhá-lo.

- Por favor, Nyra.

Olhando aqueles olhos dele, minha máscara que eu tão minuciosamente construira durante a noite estava prestes a desabar.

Assenti. - Vou ver o que posso fazer.

Declan abriu a porta e eu atravessei ela, entrando em uma ruela estreita, fria, com paredes de pedra de ambos os lados. A porta se fechou e eu olhei em frente, esperando, mas nada veio na minha direção.

Franzi o cenho, observando tudo em meu redor. Sabia que teria de esperar a ordem para o início das Provas e isso me permitia analisar o espaço onde me encontrava. Á primeira vista parecia uma aldeia dos tempos antigos, com vários edifícios em ruínas, chão de pedra e terra.

Então, a voz do Rei chegou até mim, ampliada pelo sistema de som.

- Bem vindos às Décimas Provas de Sangue. Para ser declarado vencedor desse ano, o concorrente terá de ser o único sobrevivente. Boa sorte a todos.

A voz dele deu lugar ao silêncio e olhei em redor e depois corri, entrando em uma das velhas casas e subindo o tanto que me era possível. Cheguei no topo e olhei em volta.

Era sem dúvida uma aldeia antiga, várias casas, ou o que restava delas, ruas estreitas e um amplo espaço bem no meio. Olhei o céu, onde o sol nascia, tocando as ruinas com a sua luz quente.

Olhei minhas roupas. Negras. Calça, botas, camisa de manga comprida, colete protetor, cinto, luvas... Eu iria morrer de calor, mas sabia que eram roupas que poderiam me ajudar a me manter o menos ferida possível. Pelo menos dei graças a Deus por meu cabelo estar apanhado, longe do meu rosto.

Pulei no chão, descendo de novo, até chegar na rua e comecei a descer ela, visto que era a única direção possível.

Nem dois metros avançara quando ele surgiu na minha frente.

Parei olhando o rapaz na minha frente. Me preparei para ele, para qualquer que fosse o seu poder, mas depois reconheci ele como sendo um dos Naturais.

Ele deve ter percebido minha avaliação, porque correu para mim, ignorando quando eu ergui o escudo. Assim que embateu nele, o rapaz caiu no chão, batendo com a cabeça nas pedras.

Fiquei olhando ele, enquanto ele tocava na cabeça, seus dedos sujos de sangue. Ele me olhou e sorriu.

- Tinha de tentar.

Franzi o cenho. - O quê?

- Não tenho qualquer chance. Acaba com isso antes que um Mute pior me encontre. - Pediu.

Aquilo me pegou de surpresa, me fazendo regressar nas provas do ano anterior, onde um Natural me pediu que o matasse. O último Natural.

- Acaba com isso, Nyra. - Disse o rapaz.

Respirei fundo e tirei a espada do cinto, rodando ela e me aproximando do rapaz que continuava deitado no chão. Abaixei, colocando um joelho no chão, e aproximei o meu rosto do dele.

- Desculpa. - Falei, apenas para ele escutar.

Ele sorriu e assentiu, me falando no mesmo tom. - Obrigado.

Levantei, ergui a espada e abaixei ela, com força, de encontro ao peito dele, abrindo caminho até ao seu coração.

O rapaz abriu muito os olhos, sangue escorrendo pelo canto da sua boca, depois, devagar, me olhou e sua vida abandonou o seu corpo.

Retirei a espada, sacudi o sangue e segurei ela.

Passei por cima do corpo do rapaz e avancei pela rua.

- Bem vinda à décima edição das Provas de Sangue, Nyra. - Falei, sozinha, rodando a espada na minha mão.

Passei o que me pareceram horas sem encontrar ninguém. Nem Mute e nem Natural. Então me dediquei á árdua tarefa de achar comida e água, porque eu sabia que o Rei não nos deixava sem nada, o objetivo não era morrermos de fome.

Pelo canto do olho percebi algo brilhando, perfeitamente escondido em uma das paredes, e percebi ser uma das câmaras que gravavam e transmitiam as imagens para todo o Reino. Revirei os olhos e resisti á vontade de erguer o dedo do meio.

E de repente, me fazendo parar, senti o chão estremecendo. Olhei em volta, aquilo só poderia ser obra de um Mute. O Mute que controlava os elementos.

E depois lembrei de Jace. E, feito idiota, comecei a correr.

Entrei numa rua, onde duas figuras se encontravam frente a frente. Uma delas era o controlador de elementos e a outra era um rapaz que eu não conhecia. Ele tentava pular, visto que seu poder o permitia mover com bastante rapidez, mas suas pernas estavam presas por fortes plantas, cheias de espinhos, que brotavam do chão de pedra, o impedindo de pular.

Eu já decidira deixá-los em paz, mas quando girei, vi algo na minha frente. Um ser enorme, que se estendia por metros, estava no chão, a parte da frente do seu corpo levantada, seus olhos enormes me olhando e ele abriu a boca, suas presas enormes na direção da minha cabeça.

Me afastei daquela cobra impossívelmente grande e ela girou sua enorme cabeça na minha direção, parecendo sorrir, e foi quando mudou de forma.

Seu corpo começou a mudar de forma estranha, sacudindo, e pernas animalescas surgiram fazendo ela se erguer, e num passo de mágica, eu tinha uma pantera na minha frente.

Retirei a espada e ergui ela, assim como o escudo, e foi quando ela pulou na minha direção. Ergui a espada e a lâmina passou sobre uma das suas pernas, fazendo ela rosnar de dor, e me afastei, deixando ela aterrar do outro lado.

Um grito de dor surgiu atrás de mim, mas ignorei, me mantendo atenta ao animal que me atacava, percebendo que talvez o Mute tivesse sido morto pelo controlador de elementos.

Aproveitando minha distração mental, a pantera avançou para mim, me fazendo cair e soltar a espada.

Senti o ar me abandonando quando minhas costas bateram no chão e a pantera se colocou sobre mim, atacando minha garganta, mas seus dentes batiam no escudo a cada tentativa.

Ergui as mãos e segurei seu maxilar, escutando seus dentes batendo no ar, feito hiena, enquanto tentava se libertar. Sua cabeça era enorme e continuava fazendo força na minha direção. Segurei com mais força, deixando a força da noite anterior ser libertada, e torci, de forma rápida e forte, sentindo o corpo enorme dela caindo sobre o meu.

Respirei fundo e foi quando o seu corpo mudou novamente. Empurrei ela para longe de mim e levantei, olhando o corpo de uma garota, completamente imóvel no chão, seu pescoço num ângulo estranho.

Peguei a espada e foi quando uma voz chegou até mim.

- Bom trabalho, escudo.

Girei devagar, sentindo o sangue congelar nas minhas veias. Esquecera completamente da sua presença, e ele era o único que eu não queria enfrentar.

Na minha frente, me olhando e sorrindo, estava o controlador de elementos.

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