Nyra
Olhei pela janela, Declan e Jace riam alto nos Campos de Treino, os dois lutando entre si.
Neguei com a cabeça. Segundos antes, os dois estavam gritando um com o outro.
Fechei o livro que segurava, e olhei as minhas mãos, protegidas com as mesmas luvas finas, e suspirei. Sentia falta do idiota do Benji, mesmo que tivesse passado pouco tempo com ele.
Nesse momento, escutei passos e ergui a cabeça, vendo a Rainha se aproximando. Ela parecia nervosa, mas mantinha seu porte firme, e me sorriu, sentando do meu lado.
Franzi o cenho. Algo estava... errado. Mas esperei que ela dissesse algo.
- Preciso falar com você. - Disse a Rainha, por fim.
Assenti. - Claro.
Ela olhou as janelas e depois para mim.
- Não temos muito tempo, Leonard saiu e não posso deixar que ele escute isso.
Franzi o cenho. Nada fazia sentido.
A Rainha segurou as minhas mãos.
- Preciso da sua ajuda.
Ergui as sobrancelhas. - O quê? Como?
Ela suspirou, parecendo triste e depois me olhou.
- Odeio dizer isso mas... Eu não confio no meu filho mais velho. Mas não posso partilhar isso com o Jace, porque se ele soubesse o que penso, acho que mataria o irmão.
- Eu... Não entendo. Como assim? E como mantém seus pensamentos longe do Jace? - Me sentia perdida.
A Rainha sorriu. - Minha querida, é fácil pensar em coisas idiotas quando se tem tempo para isso. Só não é fácil esconder nossos pensamentos de um leitor de mentes, mas até agora acho que consegui.
Mordi o lábio, me sentia nervosa, mas me obriguei a permanecer calma.
Ela sorriu e depois fechou os olhos, abrindo minutos depois.
- Leonard ficou estranho desde essas Provas. Não... Não parece o meu filho. Não antes de vocês regressarem, e você viu isso, quando ele e Jace discutiram por causa da sua habilidade.
Assenti, de cenho franzido. - E como posso ajudar?
A Rainha mordeu o lábio.
- Jace não entra na sua mente, logo não sabe o que você pensa, e Leonard não é tão forte quanto você e... Isso pode ser útil.
Neguei com a cabeça. - O que aconteceu durante as Provas?
A Rainha ficou me olhando durante uma eternidade e depois baixou o tom de voz.
- Eu acho que o meu filho é o assassino do meu marido.
Senti meus olhos se abrirem de espanto, nunca esperaria aquilo. Leonard teria coragem para matar o próprio pai?
E depois lembrei. O Rei não usara sua habilidade para impedir o ataque... porque ele nunca iria imaginar que o próprio filho matasse ele. Por isso fora tão fácil matá-lo.
Neguei com a cabeça. Não. Leonard não o faria. Olhei a Rainha.
- Creio que Leonard não mataria o pai.
A Rainha assentiu. - Também não queria acreditar mas... Jace invadiu a mente de cada pessoa nesse palácio, e fora também, o assassino não está entre nós. Não da forma que seria esperada. O único que esteve com o Rei, nesse dia, pouco tempo antes de acharem o corpo dele, foi o Leonard. Tentando convencer o pai a deixar que dois Mutes vencessem as Provas desse ano.
Olhei o chão, minha mente num turbilhão de ideias. Eu não conhecia o príncipe antes desse ano, então não saberia dizer qual seu comportamento normal. Mas a Rainha criara ele, ela conhecia o seu filho melhor do que ninguém.
Olhei ela. - Leonard mataria o próprio pai?
A Rainha suspirou. - Quero acreditar que não, que estou errada e que ele apenas está perturbado com a morte dele, como todos nós. Mas... Tem dias que o olhar dele... A forma como fala...
Assenti. - Entendi. O que eu posso fazer?
- Leonard gosta de você. Me ajuda a ter certeza, Nyra.
Dei de ombros. - Como?
- Não tem nenhuma habiliade que possa usar?
Eu ri, parando no mesmo instante. - O leitor de Mentes é o Jace, não eu, e eu não consigo roubar o poder dele.
A Rainha segurou as minhas mãos novamente. - Não fala para ele! Jace mataria o irmão e só depois perguntaria se era verdade. Por favor. Não posso perder mais ninguém.
Suspirei. O que eu iria fazer? Mas a Rainha parecia realmente perturbada com tudo aquilo e, sendo verdade, Leonard era perigoso.
Assenti, sabendo que iria me arrepender da decisão.
- Deixa comigo. Eu encontro forma de saber.
A Rainha me deu um sorriso triste, mas aliviado. - Obrigada, Nyra. E mil perdões por isso.
Assenti. - Não se preocupe. - Sorri.
Nesse momento, Leonard entrou na sala onde nos encontrávamos e se aproximou, beijando o topo da cabeça da mãe e sorrindo, um sorriso triste.
Não pude deixar de perceber que, agora, eu prestava atenção em cada movimento que ele fazia, cada expressão.
- O que vocês duas estão fazendo aqui? - Perguntou.
A Rainha me olhou e sorriu. - Assuntos de mulheres, Leonard. Eu preciso... - Balançou a mão. - Me distrair.
Leonard assentiu. - Concordo. - Suspirou e passou a mão pelo cabelo. - Fui na cidade.
A Rainha assentiu. - Foi um gesto gentil da sua parte.
Franzi o cenho e a Rainha percebeu.
- Leonard foi entregar o corpo do Benji.
Minha cabeça girou na direção do Rei. - O quê?!
Leonard assentiu. - Ele salvou você e o meu irmão. - Deu de ombros. - Era o mínimo que poderia fazer. Mandei preparar o corpo, deixá-lo... apresentável, e fui pessoalmente entregá-lo para a família dele.
Abaixei o olhar. A dor que eles deveriam estar sentindo. O facto do seu filho ter sido enviado para morrer.
Depois olhei Leonard novamente e assenti.
A Rainha levantou, se despedindo e me deixou sozinha com o seu filho, que se manteve no mesmo lugar, parecendo perdido em pensamentos.
Fiquei admirando ele, cada traço. Leonard não parecia um assassino, nem por fora e nem por dentro. Que monstro iria entregar o corpo do rapaz que me salvara, que salvara o seu irmão, para a família?
- Você está bem? - Arrisquei perguntar.
Leonard ergueu a cabeça e me sorriu, negando com a cabeça. - Não. - Suspirou e sentou do meu lado.
Foquei olhando ele, esperando, e depois ele deu de ombros.
- Pensei que estivesse lá fora, com aqueles dois. - Falou.
Olhei pela janela, a tempo de ver Declan jogando Jace no chão, com força, e o principe mais novo fazendo careta de dor. Aquilo chamou minha atenção mas eu queria acreditar que Declan não iria magoar o príncipe.
- Precisava de um tempo sozinha. - Respondi, lembrando da presença de Leonard. - Até sua mãe aparecer.
Ele sorriu. - Ela precisa se distrair. Obrigado por isso, Nyra.
Sorri fraco e assenti. - Gosto da Rainha.
Leonard ficou me olhando durante uma eternidade e depois inclinou a cabeça para o lado, o que me deixou nervosa.
- O que foi? - Perguntei.
- Nada. - Leonard sorriu e depois levantou. - Bom, tenho coisas para fazer. Até depois, Nyra.
Assenti, sorrindo, e fiquei vendo o Rei saíndo da sala. Sua figura possante andando, de cabeça baixa, parecendo cansado.
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Blood Proofs
General FictionO Reino de Elmswood não existiria sem a queda do mundo como o conhecemos. E nem as sangrentas "Provas de Sangue", combates entre pessoas, escolhidas do povo do Reino, que têm de lutar entre si pela vitória e a possibilidade de viverem no palácio...