No dia seguinte, eu estava presente no funeral do Rei, perto da familia real.
A Rainha não se preocupava em esconder sua tristeza, sua dor pela perda do marido. Leonard, do seu lado, permanecia direito, sem expressão alguma no seu rosto, como se, de repente, tivesse ficado vazio. Por outro lado, Jace, se mantinha na mesma posição do irmão, mas lágrimas silenciosas escapavam pelos seus olhos, descendo pelo seu rosto.
Minhas mãos tremiam do tanto que eu queria abraçá-lo, fazer o príncipe entender que ficaria tudo bem.
Mas não podia. Eu era apenas uma vencedora.
Depois do funeral, todos fomos na sala do trono, onde Leonard recebeu a coroa do seu pai, pelas mãos da sua mãe, fazendo dele, assim, o Rei de Elmswood. Um Rei coroado com tristeza.
E como sua primeira decisão, Leonard ordenou que o assassino do seu pai fosse descoberto, e levado até si, com vida.
Quando nos preparavamos para sair da sala, Leonard me chamou, me fazendo parar e olhar na sua direção.
Jace parou também, franzindo o cenho e olhando o irmão.
- Calma, irmão. - Disse Leonard. - Só quero falar com ela. Lê minha mente e veja por si mesmo.
Jace me olhou, assentiu e saiu da sala, me deixando com o irmão. Quase implorei que não o fizesse, não gostava dessa versão de Leonard.
Ergui o queixo e esperei.
Leonard passou a mão pelo rosto e depois me olhou.
- Jace continua sem achar um culpado, mesmo lendo cada mente das pessoas presentes. - Disse.
Assenti. - E se não for nenhum deles?
Leonard assentiu. - É possível. Mas queria te pedir uma coisa, algo que não tenho direito algum, mas que acho ser necessário.
Franzi o cenho.
- Preciso achar o assassino do meu pai, Nyra. - Continuou ele, me fazendo assentir. - E você, sendo uma Rara, poderia me ajudar com isso.
Mantive o cenho franzido e Leonard levantou, vindo em minha direção e parando na minha frente, olhando nos meus olhos.
- Trabalha comigo, Nyra. Minha Mute Rara. Do Reino. Ainda tem toda aquela questão em que teremos de reunir por conta de suas.... habilidades, mas... Seria um cargo oficial.
Abri a boca, mas fechei logo de seguida.
- O... O quê? - Falei.
- Preciso de você e do meu irmão, Nyra, não sei o que fazer. Isso... - Olhou para cima e depois para mim. - Eu não sei o que fazer.
Assenti, olhei o chão e depois de novo para ele. - Tá, calma. Tudo bem. Eu aceito.
Leonard me olhou. - Sério? Você aceita?
Sorri e assenti e foi nesse momento que senti os braços do Rei me rodeando, apertando forte, e seu queixo no meu ombro.
Sem saber como reagir, me mantive quieta, esperando e Leonard se afastou, rindo.
- Desculpa, sério, eu... Desculpa.
- Não tem problema. - Sorri. - Mas o que quer que eu faça?
Leonard passou a mão pelo cabelo.
- Vou pensar no próximo passo e depois te informo.
Num impulso idiota, toquei no seu ombro, chamando a atenção dele.
- Relaxa, Leonard, você será um ótimo Rei.
Ele sorriu, parecendo exausto. - Obrigado, Nyra.
Segurei o olhar dele e Leonard se aproximou de mim, parando a centímetros do meu corpo, olhando nos meus olhos.
Senti meu coração acelerar. Que raio ele estava fazendo? Eu não ia fazer aquilo. Leonard estava perturbado pela morte do pai, era isso. Só podia ser.
Ele segurou o meu queixo, levantando o meu rosto um pouco, e se aproximou de mim.
- Leonard.
- Hum?
- Você não quer fazer isso. - Respondi.
Ele parou, olhando minha boca e depois fechando os olhos. Riu baixinho.
- Droga. Querer, eu quero, mas esqueci que se a minha pele tocar a sua, você absorve parte do meu poder. - Abaixou a mão enluvada e me sorriu. - Obrigado por relembrar.
Dei de ombros. Eu nem pensara nessa parte, mas ele tinha razão. E eu não queria o poder dele.
- Meu irmão tem sorte até nessa parte. - Sorriu. - Como sempre.
Inclinei a cabeça. - Não e fácil para ele, Leonard.
O Rei riu. - Claro. Mas se ele fizer de você minha cunhada, eu vou ter de viver com isso para o resto da vida.
Franzi o cenho. - Quem disse que eu seria?
Leonard ergueu uma sobrancelha. - Recusaria?
Merda, recusaria? Sorri.
- Claro. Estou bem sozinha. - Dei as costas. - Até depois, Leonard.
- Até depois, Nyra.
Saí da sala do trono, fechei a porta, e parei. Fechando os olhos. Leonard estava perdendo o juízo? Porque parecia.
E depois senti a presença dele e abri os olhos.
Jace estava sentado no topo da escadaria, inclinado na frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, me olhando.
Indicou a porta. - Sabe que é complicado ignorar certos.... Pensamentos. Principalmente quando eu vejo você na minha mente, usando um vestido de noiva, mas não sou eu o noivo...
Percebi meu rosto mudar de cor, mas mantive meu olhar no dele. Subi as escadas, passando por Jace.
- Resolve com seu irmão.
Jace levantou e me seguiu, segurando meu braço.
Olhei ele, me sentindo esmagada pelo seu olhar.
- Ele tocou em você?
Sorri. - Você não lê mentes, Ward?
- Responde, Nyra.
Sacudi a sua mão do meu braço.
- Você não me dá ordens, Ward. - Dei as costas e marchei para o meu quarto, mas Jace me impediu de fechar a porta, entrando na força e fechando a porta atrás de si. - Escuta aqui, Jace....
Ele parou a centímetros de mim, me encurralando, já que eu dei vários passos atrás, minhas costas batendo na parede.
- Ele. Tocou. Em. Você? - Seu olhar prendendo o meu.
Suspirei. - Não. Não dessa forma.
Jace se manteve ali, prendendo o meu olhar.
- Eu sei que você dormiu na minha cama, mas isso não te dá o direito de se sentir meu dono. E também não me deve nada por ter salvo você nas Provas. - Falei. - E entendo que a morte do seu pai tenha baralhado sua mente mas...
- O quê?! - Jace balançou a cabeça. - Eu... Eu nunca me senti seu dono, nunca faria isso. De onde surgiu essa ideia?
Ergui as sobrancelhas, como se fosse demasiado óbvio, e pareceu resultar, porque Jace olhou para baixo, entendendo que estava me mantendo presa contra o seu corpo e a parede, e se afastou.
- Desculpa. - Falou, de costas voltadas para mim.
Suspirei e avancei na sua direção. Jace parecia um garoto perdido.
Sem querer saber das consequências, abracei ele por trás, encostando o rosto nas suas costas, meus braços em redor da sua cintura.
Senti Jace ficar tenso, mas depois relaxar sob o meu toque, sua mão sobre os meus braços.
E depois eu ri, pegando ele de surpresa.
- Qual a graça? - Perguntou.
- Eu nunca casaria com um Rei.
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Blood Proofs
General FictionO Reino de Elmswood não existiria sem a queda do mundo como o conhecemos. E nem as sangrentas "Provas de Sangue", combates entre pessoas, escolhidas do povo do Reino, que têm de lutar entre si pela vitória e a possibilidade de viverem no palácio...