As mãos se chocaram contra o vidro do box do banheiro emitindo um barulho considerável. Não que aquele som fosse um problema para si no momento. Havia chegado em casa tão bêbado que o simples fato de conseguir chegar até o banheiro e entrar no banho era uma vitória. Além disso, seria melhor ser visto como barulhento do que aparecer machucado por uma queda boba no banheiro, tinha que admitir.
Aquelas bebedeiras nos finais de semana já haviam se tornado comuns para Lee Know. O problema é que já não faziam mais parte apenas dos finais de semana, já que decidira começar a beber todos os dias em menores doses, pois considerava necessário para dormir.
Se entrar no banho havia sido difícil, sair dele parecia impossível com o corpo tão relaxado após o banho quente. As poucas forças que conseguiu juntar apenas serviram para se arrastar até o quarto e se jogar na cama com os cabelos e o corpo ainda úmidos. A sensação estranha, porém, familiar de sentir o corpo todo rodar com os pensamentos distantes o acometeu, concentrou-se nas lembranças e vibrações que ainda sentia pela música alta que passara as últimas horas ouvindo antes de apagar de vez.
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Já de manhã, os raios de sol invadiram a janela, iluminando seus cabelos escuros e rosto. O que começou a incomodá-lo aos poucos, logo tornou-se insuportável e o expulsou da cama, mesmo que apenas para que fechasse as cortinas. O problema era conseguir voltar a dormir sem estar tão bêbado como de costume.
Acabou sendo obrigado a levantar-se, caminhar até a cozinha e ligar a cafeteira. O dia não começava antes de um cafezinho, isso era um fato.
Já com uma caneca cheia da bebida quente em suas mãos e seu maravilhoso cheiro preenchendo toda a casa, Minho sentou-se próximo a janela enquanto tentava organizar o turbilhão de pensamentos e lembrar se tinha algo importante para aquele dia. Todos os dias costumavam ser igualmente chatos, mas tinha a sensação de estar esquecendo algo, apesar de não se lembrar o quê. Após longos minutos e tentativas falhas de encontrar o motivo da sensação, Lee se convenceu de que não conseguiria lembrar, se é que realmente tinha algo para lembrar. Reuniu toda a coragem que mal tinha adquirido para caminhar pelo studio em que morava recolhendo as peças de roupa que havia espalhado por ali na noite anterior, já que nunca gostou de manter sua casa bagunçada. Reconhecia sua bagunça interna e preferia não permitir que isso se externasse desta forma.
Como não via necessidade de muito espaço, sua casa era pequena, mas suficiente. A decoração industrial e minimalista, nada colorido ou muito cheio de detalhes, além de um ou outro porta-retrato com algumas fotos de familiares e amigos. As paredes laterais, eram cinza chumbo e as demais brancas. Havia uma bancada alta com quatro baquetas que separavam a cozinha da sala, um sofá acompanhado de uma poltrona e uma estante com uma TV. O quarto possuía um pequeno desnível, dois degraus faziam com que a cama e o guarda-roupas ficassem num nível mais alto, permitindo que todos os outros espaços fossem vistos da cama, com exceção do banheiro, que era o único cômodo que possuía porta.
Terminando a arrumação da casa, ligou o robô aspirador para terminar o trabalho enquanto caminhava desnudo pela casa, separando as roupas que usaria no dia e os demais itens necessários para o banho. Ligou o chuveiro para que esquentasse enquanto olhava o próprio corpo no espelho procurando por qualquer marca que a noite anterior pudesse ter deixado. No corpo bem definido não encontrou nada além de alguns chupões próximo à clavícula esquerda e outros abaixo do umbigo. Não trariam problemas para serem escondidos já que nem precisaria de maquiagem, constatou antes de entrar no banho tentando manter-se dentro do horário planejado, pois não se permitia chegar atrasado.
Já vestido como de costume, com sua calça skinny preta, uma camisa social branca com as mangas dobradas até próximo ao antebraço, saiu assegurando-se de estar carregando todos os itens necessários e seguindo em direção ao café para mais um dia de trabalho.
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Uma coisa que não podia reclamar era falta de sucesso do café. O Lee Coffee (이커피 – lê-se “Lee Kopi”) estava sempre cheio e era super popular, apesar de nunca ter investido muito em publicidade. Talvez o motivo da popularidade fosse exatamente esse, aquele café maravilhoso acompanhado de doces, lanches e salgados impecáveis traziam uma sensação de exclusividade melhor que o poder de qualquer publicidade que poderia ter feito.
Faltando pouco menos de uma hora para fechar o café, Lee e sua equipe de 4 funcionários já executavam todos os procedimentos para finalização do dia quando vozes exaltadas foram ouvidas da cozinha:
- De novo não, de novo não... Estamos quase fechando... – Minho fala seguido de um suspirar profundo apertando os olhos enquanto seguia na direção da cozinha – o que está acontecendo aqui dessa vez?! – Perguntou firme entre dentes.
- Foi mal, Lee – Jun Ah começa enquanto coça a cabeça sem graça – é que não está mais dando certo, sabe? Estou com muitos problemas em casa, minha cabeça está lá, não está aqui. Estou cometendo erros bobos e o Seung já não está mais tendo paciência comigo.
- Depois de colocar sal no lugar do açúcar por cima dos donuts pela quarta vez no dia fica difícil pedir paciência, não acha? E olha que estou pegando leve e nem citando todas as vezes que chamei sua atenção para não cometer outros erros ao longo do dia. – Seungmin respira profundamente enquanto tenta amenizar o tom de raiva, mas sem sucesso em esconder o desapontamento - Se fosse só de hoje, Jun Ah, mas você não está com a gente faz tempo. Eu fiz tanta questão de trabalhar contigo na cozinha e agora não consigo me sentir nada menos que um idiota...
- Eu peço desculpas mais uma vez, Seung, de verdade. Olha, eu pensei muito essa noite e decidi que é melhor voltar a ficar em Donghae com meus pais, pelo menos por enquanto. Deveria ter trazido isso com mais calma ao invés de só jogar a bomba assim, mas já até comprei a passagem no impulso pra amanhã de manhã.
- Meu pai, Jun Ah! – A entonação agora era pura indignação – Essa definitivamente não é a melhor coisa pra se fazer agora. Minho, lembra da entrevista no restaurante em Bukchon que eu comentei contigo? Eu disse que o resultado sairia hoje. Esperamos quase 2 semanas por isso e o sim finalmente veio, começo lá em 1 semana. Você sabe que vai ficar mais próximo de casa e mais próximo dos meus objetivos de carreira também...
- Porra, então era isso que eu tava esquecendo! – Minho o interrompe – Seung, tá tudo bem, não precisa se preocupar em explicar tudo isso de novo. Nós somos amigos e claro que sua felicidade vai pesar pra mim, eu só preciso saber como caralhos vou arranjar duas pessoas novas pra colocar nessa cozinha em 1 semana já que eu não sou SÓ a porcaria do seu amigo.
- Foi mal, Lee... – Os dois respondem cabisbaixos.
- Eu vou dar um jeito nisso, relaxem. Eu sempre dou um jeito mesmo... Só arrumem tudo aí e vamos finalizar esse dia que pra mim já deu.
Assim que retornou ao caixa, Minho começou a elaborar os anúncios das vagas. Levou pouco mais de 3 horas após o fechamento, mas garantiu que estavam anunciadas em todas as plataformas possíveis. Para garantir que não esqueceria, enviou uma mensagem no grupo com seus 3 amigos e, até então, funcionários:
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Grupo: Quarteto Arcu Iru
Integrantes: Biribinha, Chan, Minniemo
-- Lee Know - 22h45
“Pessoal, como vocês já sabem, o @Minniemo vai finalmente parar de torrar minha paciência junto com o café todo dia e seguir o rumo da vida dele. Mas vou precisar da ajuda de vocês com as entrevistas já que vocês já sabem os padrões que espero e considerando que vou dividir umas atividades com vocês até os novatos chegarem. Fiz os anúncios agora e vou atualizando vocês dos horários assim que começarem a marcar. Se chegando em casa já tiver alguma pra amanhã em aviso.”
-- Chan - 22h46
“Porra, Minho, tá no café ainda, loco? Você podia fazer isso em casa”
-- Lee Know - 22h46
“Não fode, Chan, limite-se a dizer se vai me ajudar ou não.”
-- Biribinha - 22h47
“É claro que a gente vai, otário, só tenta ser menos babaca incluindo quando for pedir ajuda”
-- Lee Know - 22h48
“Não garanto, mas tento rs.”
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Se preparando para finalmente seguir para casa, Minho estava prestes a acionar o alarme e trancar as portas quando se lembrou da garrafa de whiskey guardada na cozinha e decidiu pegar uma dose para ir saboreando no caminho de casa.
A noite estava incrivelmente agradável. Minho a considerava o ponto alto do dia, uma espécie de recompensa pelo dia de tanto estresse e correria. Caminhava observando o céu ao som de Cold – Corbyn enquanto apreciava sua bebida, quando percebeu seu celular vibrar algumas vezes confirmando algumas entrevistas para o dia seguinte e decorrer da semana. Um pequeno sorriso de satisfação surgiu em seu rosto, o acompanhando pelo resto do caminho.
Em algum outro lugar próximo dali, em um apartamento pouco iluminado, o celular vibra e é prontamente pego e desbloqueado para checar a notificação. Apesar de não ser a atualização da entrega da pizza que esperava, a notificação ascendeu uma exclamação e gerou um sorrisinho cheio de intenções no rosto delicado do loiro:
- Hanjiii... – chamou arrastado – acho que acabei de conseguir mais uma entrevista pra gente e, adivinha, nessa podemos estar juntinhos na cozinha dessa vez, são duas vagas!
- Veja lá onde vai inscrever a gente dessa vez, Bokie, da última vez tive que arranjar qualquer desculpa maluca pra tirar a gente daquela espelunca depois que aquele velho nojento deu a entender que queria mesmo era fazer o teste do sofá com você.
- Eu ainda acho que foi um exagero seu, Hanji – deu um risinho meigo – e de qualquer forma ele nem era tão velho assim, muito menos nojento, estava super em forma.
- Sério que precisa mesmo começar a defender ele de novo? Estou te garantindo que não foi coisa da minha cabeça, acredite em mim, poxa!
- Eu acredito, Hanji, tá tudo bem, vem cá – falou estendendo os braços e abrindo as pernas para que o outro pudesse se deitar em seu peito e se encaixar melhor ali – vamos dar uma olhadinha prévia se achamos algo sobre o lugar pra ver se você fica mais tranquilo. Pelo que eu vi na descrição, é um tal de Lee Coffee...
- Acho que já ouvi esse nome antes, realmente não me é estranho.
- Você de novo com isso e no final nem conhece nada – deu uma gargalhada enquanto apertava o outro em um abraço tentando fazê-lo não ficar tão bravo com a brincadeira.
- Sinceramente, Fe...
Foi surpreendido pela pressão dos lábios contra os seus antes que pudesse terminar.
- Olha só, Hanji, nossa pizza chegou! Vou lá pegar pra gente, tá? Já venho.
Correu em direção à porta escapando dali da forma mais ligeira possível e descendo rápido as escadas para buscar sua pizza. O que infelizmente só percebeu quando estava do lado de fora é que havia saído apenas com sua cueca samba canção de ursinhos. Estava morrendo de vergonha, mas tentar sair dali agora tornaria tudo mais vergonhoso. Estava focado apenas em parecer confiante e torcer pra que não passasse ninguém na rua e o visse daquela forma. Para o seu desespero, viu um rapaz passar pela rua, além de 1 ou 2 carros. Não sabia que uma pizza poderia demorar tanto para ser tirada da bolsa de entregas e um pagamento para ser aprovado como naquele momento. Ao finalizar, pegou a pizza e subiu as escadas novamente ainda mais rápido do que havia descido. Abriu a porta com o rosto tão vermelho que chegava a queimar de vergonha. Apoiou as pizzas no primeiro lugar que encontrou e ao perceber o amigo pronto para fazer qualquer piada com a situação, apenas conseguiu suplicar:
- Por favor, Hanji, não fala nada agora, pode ser? Eu já tô morrendo aqui – Falou enquanto se escondia atrás da palma das mãos.
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Lee Coffee | Minsunglix
FanfictionAo ver a necessidade de contratar dois novos funcionários para o seu café, Lee Know acaba permitindo se aproximar de um jeito diferente dos dois novos funcionários, e entre brigas e borboletas na barriga, começam a entender que 2 pode até ser bom, m...