— EU NÃO VOU.
Rebecca tomou o resto do gim Sevilla da taça de boca larga e se recostou, fechando os olhos.
— Não vai? À festa de aniversário de quarenta anos de casamento dos seus pais? — A descrença estampava o rosto de Irin. — Eu vou, mesmo sozinha. Seus pais fazem festas incríveis. Lembra do aniversário de sessenta anos da sua mãe, que tinha a escultura de gelo com vodca e o karaokê com banda ao vivo? — Ela acenou e a manga do suéter rosa-claro prendeu no pacote aberto de salgadinhos, fazendo-os girar na mesa. Irin pegou antes que caíssem no chão e na boca do cachorro do pub, um labrador chocolate chamado Freddo.
Rebecca se lembrava. Bebeu vodca demais, ficou chateada, tropeçou e quase caiu do palco no meio de uma versão empolgante de The one and only, de Chesney Hawkes. Mas ela disfarçou como uma profissional e contornou a multidão com o microfone sem fio. Os parentes comentavam sobre isso até hoje.
— Também me lembro de pensar que foi um pouco trágico não ter uma parceira para me acompanhar.
Irin a olhou boquiaberta.
— Você tinha a mim! — A careta demonstrava sua indignação.
Rebecca franziu a testa e deu um tapinha no braço da melhor amiga.
— Eu sei, e você é a melhor. Naquela época, eu tinha vinte e sete anos. Se você está solteira na casa dos vinte, tudo bem, Mas nada mudou em dez anos. Não consigo enfrentar as perguntas da minha família sobre meu status de relacionamento. Fica pior a cada ano. Além disso, você sabe como são as coisas com meus pais. Eles são alegres demais e determinados a mostrar que está tudo bem. Então, sim, vou para outro lugar. — Para onde?, se perguntou, mas decidiu em um instante: — Vou para as Seychelles. Só eu, o sol e meu coração solitário. Não vou ser a aberração de trinta e sete anos na festa dos meus pais.
Irin inclinou a cabeça para trás e riu alto. O Falcon, lugar favorito delas, estava lotado. Duas mulheres na casa dos cinquenta anos, usando roupas de caminhada e sentadas na mesa ao lado, se viraram para olhar, e Irin acenou.
Rebecca cobriu o rosto. Irin sempre foi assim.
— Devo pegar outra bebida ou você vai ficar ainda mais piegas? — Irin colocou algumas mechas atrás da orelha direita. Ela se levantou, sem esperar por resposta e se virou para Rebecca antes de sair. — Gim-tônica com limão extra para a rainha do drama?
Rebecca bufou.
— Gim normal, por favor. Esse com sabor de laranja me fez desejar chá e torradas. — Os ombros dela caíram. — Sei que tenho que ir, mas não quero. Por que você não vem comigo e finge ser minha namorada?
Irin hesitou.
— Se a Patsy e o Duncan não me convidarem apenas por minha personalidade brilhante, vou ficar bem ofendida. — Ela fez uma pausa. — E embora seu plano seja ótimo, todos os seus amigos e familiares me conhecem. Eles também sabem que sou hétero. Dificilmente vou me sentir atraída depois de todos esses anos, não acha?
Rebecca iria para a festa. Estava apenas desabafando, e Irin sabia disso. Mas por que o status de seu relacionamento era algo tão essencial? Teve sucesso em todos os outros aspectos da vida, não era suficiente? Não de acordo com sua avó.
Meu último desejo é ver você estabelecida, foi o que ela disse na última vez que se encontraram. Se Irin queria drama, Rebecca aprendeu com a melhor. Sua avó estava em forma, longe de bater as botas.
Irin voltou com o gim para Rebecca e sauvignon blanc para ela. Arqueou a sobrancelha para a amiga enquanto se sentava.
O sexto sentido de Rebecca pareceu despertar.
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Onde mora o coração
FanfictionRebecca sabe que enfrentar a festa de aniversário de casamento de seus pais não será nada fácil. Ela sabe que vai se deparar com segredos doloridos e muita tensão familiar. É por isso que contrata Freen Sarocha, uma atriz linda de morrer, para fingi...