Final

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Rebecca reconheceu as linhas soltas e languidas de Freen assim que a viu. Seu couro cabeludo se arrepiou. Isso tinha que dar certo. Não podia estragar tudo como da última vez. Tinha que se lembrar o quanto sua vida se tornou vazia desde que a atriz saiu dela. Como ela viveu em câmera lenta. Irin disse isso antes de partir. Ela precisava colocar a vida de volta nos trilhos, e somente Freen poderia ajudar.

Enquanto a moça caminhava pelo bar, seu cabelo ondulado caía em tons outonais. Rebecca mal podia acreditar que a deixou ir embora da primeira vez. Essa mulher, essa forma esculpida de inteligência e beleza que só tinha olhos para ela. Será que ainda tinha? O tempo diria. Por que nenhuma produção ou companhia de teatro a descobriu e deu um papel principal em um sucesso de bilheteria? Ela era uma superestrela. Mas era grata por isso, porque caso contrário, não estaria aqui neste bar. O mesmo bar onde Freen interpretou o papel de seduzi-la quando se conheceram. Onde Rebecca gaguejou e corou. Tantas coisas aconteceram desde então. Será que Rebecca poderia desfazer o que foi dito? Esperava ter a chance.

Quando Freen se aproximou, seu ritmo diminuiu. A dúvida cobria seus traços. O coração de Rebecca se derreteu. Era culpa dela, então tinha que tomar a iniciativa. Se levantou do sofá e deu a Freen o sorriso mais caloroso que conseguiu.

- Bom te ver. Você está incrível. - E ela estava. Era tudo o que Rebecca podia fazer para manter as palavras calmas, apesar de estar inundada de nervosismo.

As pálpebras de Freen tremularam e suas bochechas coraram.

- Obrigada. - Ela se sentou no sofá. Rebecca se acomodou ao lado dela.

As duas pediram gim-tônica, avaliando uma à outra.

Se fosse uma entrevista, Rebecca já teria mapeado Freen toda. Os obstáculos que surgiram antes desapareceram assim que a atriz entrou pela porta. Rebecca precisava de tempo, e o tempo a curou. Agora, queria Freen: tudo nela. Sua pele perfeita, as sobrancelhas bonitas, a mente afiada. Acima de tudo, queria sua coragem e bondade. E sim, queria o seu coração. Rebecca nunca pensou que diria isso, mas era verdade. Quando Freen estava em um lugar, ela o iluminava. Será que todo mundo conseguia ver, ou era apenas Rebecca?

Sentiu o cheiro familiar da outra moça e se concentrou em tentar resistir. Pensou por muito tempo sobre o que vestir hoje, imaginando qual cor combinava melhor com ansiedade e pressão. Decidiu pelo macacão verde, porque se lembrava da reação de Freen a ele na primeira noite nas Terras Altas. Como os olhos da outra mulher a despiram assim que ela vestiu a peça.

- Obrigada por entrar em contato. Foi corajoso. Eu também ia te procurar. - Ela disse. Não ia contar para Freen que pensou nisso logo depois de ter vomitado na calçada em Portobello.

Freen franziu a testa.

- Para ser honesta, não fui eu quem enviou a mensagem.

- Não? - Aquilo parecia com o primeiro encontro delas, quando os melhores amigos as empurraram para o encontro de mentira.

Freen balançou a cabeça.

- Contei a nossa história para minha amiga, Jody. Ela disse que eu estava muito próxima para não te mandar uma mensagem quando ainda tinha sentimentos.

- Fico feliz que ela tenha feito isso. - Freen deu a ela um sorriso suave.

- Provavelmente eu não teria sido corajosa o suficiente, depois de como terminamos da última vez. Você deixou bem claro o que queria.

Rebecca suspirou.

- Eu sei.

- Foi uma viagem muito longa de volta para Londres.

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