Capítulo 11

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O churrasco estava suportável, principalmente por causa das três sobrinhas de Rebecca: Kay, Haley e Elise. Rebecca não conseguia se imaginar lidando com uma criança em tempo integral, quanto mais com três. Em um determinado momento da noite, duas delas tiveram um colapso porque não queriam manteiga na espiga de milho. Então começaram a chorar com toda a sutileza de uma sirene de ataque nuclear dos anos 1950. Normalmente, Rebecca estaria tentando fugir do barulho, mas esta noite, ela tinha um foco diferente. Passou pelas emoções farpadas da melhor maneira que pôde, mas no final, parecia ter rastejado na lama a noite toda.

Por fim, Richie e Wendy levaram as crianças de volta para o chalé deles, deixando Rebecca e Freen para limpar a mesa. Assim que terminaram, os pais dela as enxotaram, dizendo para irem relaxar no deck. Rebecca apostava que o ato altruísta era para que sua mãe não tivesse que lidar com mais perguntas de Freen sobre o passado. Embora, desde esta tarde, ela tivesse desistido do interrogatório. Rebecca tinha certeza de que a moça havia captado algo e chegado às próprias conclusões. Deveria contar a Freen a história completa? Imaginou que seria mais fácil e evitaria qualquer desconforto nos próximos dias. Ela não sabia de nada, então como poderia contornar a situação?

Rebecca aproveitou a oportunidade para pegar uma garrafa da coleção de uísque do pai. Escolheu uma que era sólida e confiável. Pegou dois copos e deixou os pais. Encontrou Freen no deck, olhando para o céu noturno, que era apenas ligeiramente diferente do dia.

- Eu me pergunto se as crianças dormem de maneira diferente no verão, já que ainda está tão claro. - Freen comentou enquanto Rebecca se sentava à sua frente.

- Acho que elas estão acostumadas. Crescem sabendo que os dias de inverno são muito curtos e os de verão, muito longos, e não há muito entre eles. É o jeito das Terras Altas. - Ela lançou um sorriso para Freen. - Depois do colapso das trigêmeas esta noite, o que acha de ter um filho, como minha mãe sugeriu? Vamos verificar alguns doadores de esperma?

- Vou pegar meu telefone. - O rosto de Freen se abriu com um sorriso. Ela olhou para a piscina. - Sua família usa a piscina no verão?

Rebecca assentiu.

- Ah, sim. Acho que as crianças estavam lá hoje. Devíamos dar um mergulho. Amanhã, depois da festa. Ou domingo.

- Não trouxe roupa de banho.

- Pode pegar uma das minhas emprestada. Ou vá sem. - Ergueu a garrafa. - Não perguntei se você bebe uísque, mas gostaria de um copo? - Rebecca sorriu.

- Seria rude não fazer isso na Escócia, certo?

- A menos que você seja meu irmão. Ele odeia uísque.

Freen fingiu choque.

- Isso é permitido?

- Ele vai comparecer ao tribunal na próxima semana. Acusado de ser antipatriótico. A defesa dele? Richie ama Irn Bru.

Freen inclinou a cabeça para trás e riu, como se estivesse se dando mais espaço para aproveitar a piada e Rebecca gostou da sua aparência e do som.

- Eu nunca tomei Irn Bru - ela falou, se referindo à bebida cafeinada muito popular na Escócia. - Esperava corrigir isso enquanto estou aqui.

- Vamos comprar uma para você amanhã quando estivermos na praia. - Rebecca serviu o uísque e ergueu o copo para Freen. - A nós, e por lidar com dias estressantes como o de hoje. - Ela fez uma pausa. - Obrigada por ser tão gentil com meus pais. Eles podem ser desafiadores quando querem. Assim como minhas sobrinhas e os gritos ensurdecedores.  Você está desempenhando esse papel muito bem, e eu sou grata.

Freen a olhou nos olhos.

- Não é apenas um papel. Gosto de você e deles. Quero que a festa corra bem. Sei que ser queer, embora seja aceita, pode te fazer não se sentir parte de sua própria família. Mesmo comigo, filha única de pais solos, minha mãe ainda ficou surpresa e demorou um pouco para entender. Sua família parece bem com a questão, mas sei que isso te marca como “diferente”.

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