Capítulo 3

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Rebecca se agachou e esfregou a lixa no rodapé. Decidiu que precisava trabalhar com as mãos para distrair a cabeça da festa que aconteceria neste fim de semana. A mulher que contratou para interpretar sua namorada chegaria a Edimburgo naquela noite, e elas se encontrariam para jantar. Rebecca passou as últimas vinte e quatro horas se preocupando com o que vestir e dizer. Não parou de lembrar a si mesma que isso não era um encontro. Muito pelo contrário, era um jantar de negócios. Ela podia fazer isso, negócios eram sua vida. Montou a própria empresa de sucesso e lidava com clientes todos os dias. Mas, desta vez, ela era a cliente. Rebecca só tinha que imaginar que sua namorada de mentira queria que toda a parte de baixo estivesse pintada, incluindo o rodapé. Ela sorriu. Estava de implicância ou isso parecia rude?

Quando Rebecca descobriu o nome da moça, pesquisou-a no Google, é claro. Verificou a página dela do IMDb. Freen Sarocha já havia participado de algumas peças e programas de TV, mas nunca teve uma grande chance. No entanto, era uma atriz adequada e com credenciais reais. Por que ela aceitou esse emprego? Suas escolhas deviam ser escassas, para a sorte de Rebecca. O fato de ela ser alta, morena e bonita também não passou despercebido. Mas isso não era importante. A relação era de negócios, e o resultado era que sua família veria que ela também poderia encontrar o amor. Mesmo que por pouco tempo. Rebecca se inclinou e soprou um pouco da poeira do braço, que também tinha um hematoma amarelo de duas semanas atrás.

Lutou com um martelo e a ferramenta venceu. Passou o dedo indicador ao longo da madeira. Mais uma esfregada e o rodapé estaria pronto para o primer.

Passos na escada a fizeram olhar para cima.

Irin vestia sua combinação habitual de camiseta branca e macacão azul. Ela tinha três conjuntos, o que, em suas palavras, evitava ter que se preocupar com o que usar para trabalhar. Usava um boné de beisebol azul-marinho com NYC na frente. Ela o comprou quando foi a Nova York dois anos antes. Parecia uma figurante de Glee.

— Chá? — Irin encheu a chaleira com a torneira flexível e elegante que costumava estar apenas em cozinhas industriais, mas agora estava em todas as outras casas que pintaram. Decoração era o estágio final da reforma desta casa, e então a família poderia voltar. Por enquanto, era apenas Irin e Rebecca, lixando e pintando uma casca vazia.

Rebecca assentiu.

— Por favor.

O som baixo do aquecimento da água encheu o ar. Irin caminhou até as portas com saída para o pátio e abriu uma delas. A chuva havia parado e o cheiro de terra molhada enchia o ar.

Ela inspirou.

— Assim é melhor. Por mais que eu ame o cheiro de tinta, prefiro esse. — Ela voltou para a cozinha e preparou o chá. Então ofereceu a Rebecca uma caneca laranja da Le Creuset e se inclinou no balcão enquanto a amiga se acomodava ao seu lado. Os balcões eram feitos de mármore italiano, o que indicava que a família Hayne tinha muito dinheiro.

— Como vai o pânico? — Irin deu a ela um sorriso astuto.

Rebecca se fez de boba.

— Pânico?

Irin franziu a testa.

— Você não pensou duas vezes sobre o seu primeiro encontro mais tarde? — O tom de sua voz disse a Rebecca que ela não acreditava nisso.

— Não é um primeiro encontro.

— Entendi. — Irin sorriu abertamente, tomou um gole de seu chá e o colocou sobre o balcão.

— Você disse a ela que meu nome era Rebecca Brown, certo? Não quero que ela saiba quem realmente sou, caso as coisas deem errado.

Sua amiga assentiu.

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