Onde mora o coração

Capítulo 21

Rebecca não se acomodou perto da piscina. Os outros estavam relaxados. Richie entretinha Wendy com a cena das cinzas, e sua cunhada não parava de rir. No entanto, a mente de Rebecca estava em Freen. O que havia mudado desde esta manhã, desde que estava de joelhos na frente dela antes de saírem? Adoraria saber. Será que ela estava tendo dúvidas sobre tentar fazer o relacionamento funcionar? Será que Rebecca tinha ido longe demais? Estava desesperada para saber. Ela a deixou sozinha por uma hora, mas talvez agora Freen quisesse conversar. Escapou sem que sua família percebesse.

Quando entrou no chalé, a última coisa que esperava ver era Freen na sala, fechando a mala. Ela não deveria ir embora até o dia seguinte, quando seu amigo Heng a buscaria para fazer um tour pelas Terras Altas. Rebecca já tinha planos de surpreender Freen e encontrá-la em algum lugar. Tinha certeza de que poderia convencer Heng a ajudá-la. Mas agora, parecia improvável.

Nada disso fazia sentido.

- O que está acontecendo?

Freen olhou para cima. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Agora Rebecca estava realmente confusa. Será que levá-la para espalhar as cinzas foi demais? Será que isso era sobre elas, ou Freen tinha uma morte em seu passado com a qual ainda não havia lidado? Estava tão envolvida com Nadia que não parou para considerar isso. Só havia uma maneira de descobrir.

- Por que você está com as coisas arrumadas?

- Porque tudo isso foi um erro, e eu tenho que ir. - Freen se levantou e se aproximou dela. Torceu as mãos e deu um passo para trás. - Desculpe.

Rebecca piscou. Sentiu o pânico se espalhar por seu corpo. Certo, agora nada fazia sentido.

- Não entendo, o que mudou nas últimas horas? Estávamos falando sobre ver até onde isso poderia ir. - Ela encarou Freen e tentou dar um sorriso indiferente, mas a atriz não cedeu.

Nas últimas vinte e quatro horas, elas passaram a maior parte do tempo transando. Compartilharam coisas importantes. Momentos monumentais. Rebecca não tinha ideia do que estava acontecendo.

Freen respirou fundo e encontrou o olhar de Rebecca.

- O que vou dizer não é fácil, então me dê um momento. - Ela passou a mão pelos cabelos ainda úmidos. Rebecca queria fazer o mesmo, mas manteve as mãos nas laterais do corpo.  - Não te contei toda a história da minha infância. Eu te dei a versão leve e resumida, porque acabamos de nos conhecer e leva um tempo antes de eu deixar alguém entrar por completo. Além disso, eu estava aqui a trabalho e esse trabalho é sobre você e sua família. - A dor estava estampada em seu rosto. - No entanto, as coisas mudaram depois que espalhamos as cinzas de Nadia. Porque eu percebi algo. - Freen buscou o rosto de Rebecca. - Você viu minha cicatriz. Sabe que passei por uma grande cirurgia quando tinha dezessete anos. Eu tinha uma condição chamada cardiomiopatia hipertrófica. Precisava de um transplante de coração. Fiquei na lista de espera por seis meses e então consegui um. A cirurgia salvou minha vida.

Rebecca engoliu em seco.

- Assumi que era um transplante ou uma ponte de safena. - Ela franziu a testa.

- Isso é ótimo, não é? Você está vivendo uma vida boa e normal. Por que eu deveria me preocupar com isso?

- Eu não te contei que minha doadora de coração era da Escócia. E meu transplante aconteceu há vinte anos. - Ela fez uma pausa longa. - Sua irmã doou os órgãos há vinte anos.

Freen a encarou.

As palavras pairaram no ar como um mau cheiro. Rebecca tentou fechar a porta para evitá-las. Tentou borrifá-las com aerossol, mas não funcionou. Nadia era doadora. Freen fez um transplante de coração. O que ela estava dizendo?