Rebecca não conseguia lembrar de um dia como esse. Nenhum outro havia começado tão bem, cheio de emoção, e depois terminou com um fracasso tão espetacular. Um fracasso tão grande que ainda estava digRebeccado. Seus pais haviam limpado os restos do churrasco desta tarde e foram tomar banho. Seu irmão e sua esposa levaram as sobrinhas para se prepararem para dormir, e os vizinhos já haviam se despedido. Agora deveria ser a hora de estar deitada com Freen nessa rede, os membros entrelaçados, retomando de onde haviam parado. Ela ainda se lembrava da festa e de como Freen a abraçou neste mesmo lugar.
Mas estava deitada sozinha, olhando para o céu ainda brilhante, se perguntando onde tudo deu errado. Como o fato de ela ter dado um nome falso poderia levar a uma sequência de eventos tão desastrosa? Foi ruim. Muito ruim. Ruim a ponto de revirar o estômago, sem plano B, ruim ao extremo. Rebecca ainda estava tentando assimilar tudo.
Será que conseguiria lidar com o fato de Freen ter o coração de Nadia? Será que, em primeiro lugar, uma parte dela se ressentia por tê-lo em vez de sua irmã? Isso era ridículo e injusto, ela sabia, mas passou pela sua cabeça. Ela imaginou que isso a tornava humana. Imperfeita. Não era algo do qual se orgulhasse.
Quando o acidente aconteceu e seus pais decidiram doar os órgãos de Nadia, todos ficaram traumatizados. No final, a irmã ajudou algumas pessoas a viverem com suas doações. Na época, se sentiu consolada e, ocasionalmente, se perguntava quem eram essas pessoas. Ela já havia cruzado com elas na rua? Mas sua curiosidade nunca foi além disso. Estava satisfeita em ter os receptores como um conceito distante.
Até que conheceu um deles e dormiu com ela.
Rebecca estremeceu e a rede vermelha balançou. Segurou nas laterais e esperou até que se acalmasse. Se ao menos seus pensamentos pudessem fazer o mesmo. Era como se alguém tivesse pegado tudo o que ela sabia ser verdade, colocado no liquidificador, adicionado couve para dar um toque e ligado o aparelho. Um suco detox de verdades, por assim dizer. Tinha um gosto azedo. E verde.
Claro que nada disso era culpa de Freen. E, ainda assim, Rebecca sentia como se fosse. Como se a atriz estivesse escondendo algo. Ela fechou os olhos, mas imediatamente sentiu como se fosse cair. Então os abriu. Os nós dos dedos apertaram nas bordas do tecido. Quando pensava sobre o assunto, a culpa era principalmente de Irin. Droga de amiga que arranjou isso, dando esperança a ela.
Será que esse final de semana estava indicando que ela não estava destinada a ter um relacionamento? Mesmo quando pagava por uma parceira, de alguma forma, encontrava um jeito de estragar tudo. Irin enviou uma enxurrada de mensagens perguntando como foi a noite passada com Freen. A resposta foi que tinha sido bom. Maravilhoso. Se Rebecca pudesse esculpir as horas da meia-noite ao meio-dia e repeti-las várias vezes, faria isso em um piscar de olhos.
O tempo da batida de um coração, como costumava dizer. Era uma expressão que usava muitas vezes em sua vida, mas nunca parou para considerar o verdadeiro significado. A batida do coração sempre foi sua, nunca de outra pessoa.
A batida do coração de Freen já foi de Nadia um dia.
Como Freen chamou aquilo? Uma grande confusão? Ela estava certa. Se as duas tentassem ficar juntas, será que Rebecca ficaria ressentida por ela ter o coração de sua irmã? Ou ver Freen prosperando ajudaria, de alguma forma, a curar a própria Rebecca?
Fechou os olhos e soltou um suspiro de frustração. Era tudo muito novo. Muito cru. Muito real. Por que não poderia ter dormido com outra pessoa? Em todo o Reino Unido, por que teve que escolher Freen?
Passos se aproximando fizeram Rebecca se sentar. Muito depressa.
Tudo o que se fazia em uma rede, tinha que ser feito devagar. Nadia sabia disso. Ela nunca caiu. Rebecca, por outro lado...
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Onde mora o coração
أدب الهواةRebecca sabe que enfrentar a festa de aniversário de casamento de seus pais não será nada fácil. Ela sabe que vai se deparar com segredos doloridos e muita tensão familiar. É por isso que contrata Freen Sarocha, uma atriz linda de morrer, para fingi...