Capítulo 10 - Scarlett está morta

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Aren


Acordar ao lado de Louise — e de meu filho — depois de dias longe é ainda mais familiar e relaxante do que eu previa. Seu cheiro me traz uma paz em meio a batalha que nossos poderes travam enquanto nossos corpos estão entrelaçados.

— Como ele está? — pergunto baixinho em seu ouvido, e se se incomoda com a voz rouca, não protesta.

Não quando acaricio sua barriga sem nenhuma barreira de tecido. Foi tão difícil e tão fácil descobrir o que tinha que fazer naquele templo. Olhava para aquelas pedras e destroços como se elas fossem me dar a resposta para meus problemas. E lá eu encontrei. Olhando para os restos da estátua de Dália. Foi algo que ela havia dito.

"Não me arrependo de nada do que fiz. Está vivo por isso. Tudo o que fiz foi para mantê-lo seguro. Meu menininho."

Não podia ser em vão. Tudo o que Louise e eu passamos para desistir quando a tempestade chega? Eu não podia desistir da gente. Não posso desistir. Não importa o que vier pela frente, ela é minha Soulmate, a mãe do meu filho, não vou desistir ou fugir do destino. Vou enfrentá-lo como sempre fiz. Agora não seria diferente.

— Ou ela — Louise brinca, me trazendo de volta ao nosso quarto.

Arregalando os olhos, largo um suspiro.

— Inferno, eu não saberia como lidar caso algum demônio tentasse beijar minha filha.

Um sorriso cresce em seu olhar, ele brilha como se o mundo atrás de nós não tivesse sangrado, como se só existisse isso para nós dois a partir de agora: sorrisos. E isso é tudo o que pretendo dar à minha Soulmate. Fui covarde por um momento, mas não deixarei se repetir outra vez.

— Eu ainda não... — Hesito. Louise nota, porque seus lábios vão perdendo a curvatura. Tentei fazer isso pelas semanas seguintes desde que voltei, mas nunca conseguia. Me fazia lembrar do por que fugi. — Pedi perdão por ter fugido naquele momento.

Ela já está levantando as costas do colchão. Não demonstra hesitação ao tocar meu maxilar com a mão direita.

— Quando eu fiz o mesmo, você desistiu de mim?

Dou apenas um leve movimento com a cabeça, contendo meus impulsos de tomarem um rumo diferente. Um rumo que não daria sorrisos a Louise.

— Esteve comigo em meus piores momentos, Aren — ela continua. Pisco algumas vezes. — Eu não poderia fazer diferente. E sei que vai ser difícil, sei que as lembranças...

— Juntos. — Beijo sua testa, engolindo o nó na garganta. — Vamos fazer isso juntos. — Para meu total alívio, o sorriso em seu rosto se abre novamente, ainda mais genuíno que antes. Me inclino no colchão, ganhando uma melhor visão de sua barriga. — Estou ansioso para te pegar nos braços, Meu Anjinho. Ou Anjinha, claro. Só, por favor, não seja uma pestinha como seus primos.

Gargalhando, minha Soulmate agarra meus ombros até estarmos rolando na cama.

— É claro que ela será uma pestinha, Aren. Será sua filha. E todas as crianças são assim. Tenho certeza que você era ainda pior na infância. — Não digo nada, apenas acaricio a curvatura da sua barriga. — Tem alguma lembrança da infância?

Uma pergunta entornada de tranquilidade, mas salpicada de espinhos.

— Não — minto, porque não quero falar sobre isso agora. Nunca, na verdade. E Louise entende isso, porque não insiste. Ainda bem. Não falamos muito sobre meu passado antes de conhecê-la. Ela tentou algumas vezes, mas não estava pronto. E está claro que nunca estarei. Dália e Scarlett são uma parte de mim que pretendo esquecer, apagar da minha alma.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora