Capítulo 24 - Preciso que proteja meus filhos

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Eva


Para meu azar, Alec me nota quando tento passar despercebida pela porta. Luna não está mais no quarto, Louise deve ter a levado. E Millie e Callen estão concentrados em outra coisa para ver o pai vindo até mim. Sem dúvidas já notou minha expressão assustada. E o papel entre meus dedos. Tentei lê-lo no caminho até o quarto, mas não consegui. Sei que Lion quer que eu volte para as Terras Sombrias, mas não sei até onde ele iria para que isso acontecesse. Na verdade, sei. Exigir ao diabo. Me humilhar na frente de todos como se eu não passasse de uma fêmea agindo por impulso. Ele não foi o maior fã da ideia quando contei, mas não pôde fazer nada, eu estava esperando um filho de Alec, não poderia ficar lá. E sabia que ele não conseguiria deixar sua família. Ele tinha — tem — uma família no Hell. Eu só tinha dois pedaços de terras, não faria diferença deixar aquele lugar. Não quando os demônios que realmente importava para mim não estão mais vivos. E foi difícil olhar para os olhos do macho que tirou suas vidas, mas decidi — decidimos todos — deixar o passado para trás. Estava claro que funcionávamos melhor juntos. Todos nós.

— O que é isso? — Alec estreita os olhos na direção da missiva de Lion, as tatuagens já se agitando antes mesmo da minha resposta.

Estendo o papel para ele.

— Lion mandou. — Rapidamente o macho toma a missiva de minhas mãos. Acrescento: — Ainda não li.

Seu olhar se suaviza à medida que me estuda por alguns segundos. Alec lembra do último Ardens, quando meu primo, sangue do meu sangue, me envergonhou na frente dos meus filhos, dias após tê-los conhecido. Não trocamos uma só palavra desde aquele dia, nem mesmo uma despedida quando o Ardens acabou e todos voltaram para as Terras Sombrias. Fiquei receosa por Aren concordar com Lion, sempre tivemos um impasse desde que nos conhecemos pessoalmente, e talvez, no fundo, ainda não me aceitasse em sua família.

Eva é a líder de dois Clãs agora. Ela é quem decide onde deve estar. Se quiser voltar para as Terras Sombrias, não a impedirei. Mas, caso queira ficar, essa casa é tão dela quanto de Alec ou Ravena.

Admito que estremeci no momento em que o diabo disse isso. E, de alguma forma, aquilo fez nascer em mim um pedaço muito pequeno de admiração pelo Rei do Inferno. Nunca esquecerei seus pecados em relação aos meus pais, mas talvez seja um começo de uma relação saudável entre nós.

Devagar, Alec abre o papel lacrado com a assinatura familiar de meu primo. Seus olhos se franzem enquanto lê. E ele faz isso com aversão.

Demônios revoltosos estão exigindo sua presença nas Terras Sombrias, e prometeram agir caso não o faça. Podem tentar se quiserem, filhos da puta. — A tatuagem em formato de rosa em seu pescoço se agita. Ele continua: — Tentei contê-los, mas não sei se consigo por mais tempo. — Uma risada de escárnio. Alec ergue o rosto. — É claro que tentou.

Ele me estende o papel. Um suspiro escapa da minha garganta conforme releio. No lado inverso da missiva, há algo escrito com a letra minúscula, talvez fosse somente para que eu conseguisse notar. Lion sempre foi cuidadoso e minuncioso com suas coisas.

Eles questionam como a líder de dois Clãs espera liderá-los sem sequer viver em suas próprias terras.

Amasso o papel, trincando o maxilar. Desgraçado. É claro que é ele o primeiro a questionar alguma coisa. Não entendo a insistência em me fazer voltar, embora nossos Clãs sejam próximos e sejamos primos, não vivíamos juntos. Ele tinha um Clã para liderar, se nos víamos ao decorrer do tempo, era por obrigação ou quando meus pais o requisitavam em nossas terras. É certo que ele não gosta de Mirrian e Malick, mas parece ter algo a mais nisso. E eu preciso descobrir.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora