Capítulo 21 - Acho que essa noite nós faremos um irmãozinho para Luna

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Louise


Luna ama o quarto.

E ama ainda mais brincar com as teclas do piano branco que Aren moveu para seu quarto. Nem consigo acreditar realmente que está perto de completar cinco anos. O tempo passou tão rápido. É quase como se a cada piscar de olhos um ano tivesse se passado. Totalmente diferente dos anos em que Aren e eu passamos longe da Casa do Fogo. Decidimos morar aqui definitivamente, ficou claro que não funcionamos bem sem o restante da família. E eu queria — quero — que nossa filha cresça em um ambiente cercado de demônios, não quero que sua infância seja igual à minha, ela terá tudo o que não tive.

Aren vem sendo cauteloso em relação a quem se aproxima dela, por medo é claro, mas a cada dia vem suavizando os olhares que dá às crianças que vêm brincar com Luna. Callen, mais especificamente.

— Tio Aren não gosta de mim — ele retruca, como se lesse meus pensamentos. Na verdade, ele costuma dizer isso toda vez que entra no quarto de Luna. — Acho que ele não gosta de ninguém.

A menção me faz rir. Ele não está tão errado assim, mas seria um exagero dizer que Aren não gosta... A quem queremos enganar, é óbvio que o diabo não simpatiza com ninguém além da filha e da Soulmate. Ele já deixou bem claro isso. A única para quem ele não rosna sempre que se aproxima de nossa filha é Ellie. Acho que termos a conhecido muito antes do restante das crianças dessa casa nascerem pode ser um fator decisivo para isso. Ou talvez ele só simpatize com a criança.

Luna, pelo contrário, não parece achar o comentário do garoto engraçado, porque sua expressão se fecha.

— Não fala assim do meu pai.

— Eu estou mentindo? — Ele ergue as sobrancelhas, se aproximando do banquinho onde ela está sentada. Os dois costumam brincar esse horário, e Luna sempre encontra uma forma de terminar em briga. Até parece que é filha do diabo. — Nunca vi ele sorrindo.

Callen já deve ter 9 anos, talvez 8, mas prefere passar seu tempo com a mais nova da turma do que com Ellie e os gêmeos. A irmã não parece se afeiçoar pela presença de Luna. Segundo Alec, ela tem ciúmes da proximidade do pai com a garota. Ellie tem prioridades maiores que brincadeiras. E Riley... a filha mais nova de Harper não costuma sair muito do quarto ou da Biblioteca da Magia, onde seus pais passam a maior parte do tempo. Então só resta minha filha para o filho mais velho de Alec passar o tempo. Pelo menos quando não está com os instrutores, assim como Luna.

— Eu já vi — Luna responde, erguendo os olhos azuis e cruzando os braços sobre o peito coberto pela roupinha preta, escolhida por ela mesma. Luna tem o estilo do pai, outra coisa previsível. E o temperamento. — Muitas vezes.

— Porque ele é seu pai. — Callen sinaliza para ela se afastar um pouco para que ele se sente ao seu lado. Ela afasta o rosto na minha direção, como se perguntasse se deve fazer isso, e quando aceno, ela o faz. — Todos os pais fazem isso, Luna.

Acabo estremecendo sem perceber. Meu pai sorria para mim. Mas era tudo farsa para encobrir sua verdadeira identidade. Há momentos, quando estou pegando no sono ao lado de Luna, em que as memórias dele retornam seletivamente à minha mente. E é sempre quando estou desprevenida. As vezes estou calçando as botas de Luna e um amontoado de gritos — gritos familiares, gritos que já escutei, embora fossem apenas uma ilusão — ecoam na minha cabeça. Então minha filha pergunta o houve, e eu respondo que nada aconteceu. Continuo sorrindo para ela como se Reagan, meu pai, não tivesse me feito ver filhos quem nem existiam morrer.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora