Capítulo 14 - Mas a violência é inevitável

29 0 0
                                    

Zion


Escoltando Louise de volta ao salão do trono, troco a posição das mãos entrecruzadas. Ela saiu há poucos minutos da sala porque estava com algumas dores. Aren foi bem claro quando disse que eu não deveria sair de seu lado por um segundo sequer. Ele tentou persuadir a Soulmate para vir ele mesmo, mas ela não permitiu, alegando que algum dos reis do inferno teria que estar presente no Ardens.

É claro que ele protestou. Não seria o diabo se não tivesse o feito. Mas Louise conseguiu convencê-lo. Alec e Ravena também se voluntariaram para acompanhar a Rainha, mas, diferente de mim, eles têm filhos para proteger em uma noite como essa, quando a Casa do Fogo está sitiada de demônios das Terras Sombrias, demônios que certamente estão sedentos para nos ver quebrando o acordo que Louise fez com eles. Duas semanas seguintes ao início do Ardens, já recebemos diversas provocações. Até Alec parece ter quase perdido a razão com o líder do Clã do Norte há alguns dias. Eles querem nos provocar, testar nossos limites. A guerra contra os deuses acabou, mas são demônios, seres que anseiam por violência e sangue a cada momento de sua existência. Não acreditei em Roe quando levantou a bandeira da paz, tenho certeza de que Louise também não, só o fez pela segurança dos filhos de nossos amigos — e o dela.

— Não falhou em me proteger — a voz dela ressoa entre os corredores, depois de alguns segundos de caminhada.

Sei exatamente sobre o que ela está falando. Tivemos uma breve conversa antes do meu retorno à Casa do Fogo, antes dos dois se mudarem. Ela alegou que os demônios precisavam de mim. Admito agora que precisava ouvir aquilo naquele momento, estava atolado no meu ressentimento pela morte — sacrifício — da Esfinge.

— Disse que tinha falhado em me proteger — ela continua, as costas curvadas devido o peso da barriga. — Não fez isso. Na verdade, eu falhei com você.

Estreito os olhos em sua direção. O que é um erro, porque estou distraído para perceber qualquer movimento à frente.

— Do que está falando? Por que teria falhado...

— Deixei que se afastasse. — Ela me encara por um breve momento até continuar, com dificuldade: — Achei que estava fazendo o certo te dando espaço, mas estava errada. Deveríamos ter conversado sobre a... Esfinge muito antes daquele dia.

Afasto o olhar. Falar sobre o quanto estava devastado por ter que odiá-la por meu filho e agradecido por seu sacrifício não iria ajudar. Palavras não são o suficiente para anular o que aconteceu com ela e comigo. Eu tentei salvá-lo. Mas não consegui. Todos os detalhes antes de sua morte estão gravados na minha mente. Eu deveria acreditar apenas porque ela se sacrificou? Ou porque realmente é verdade?

É difícil considerar isso, mas é ainda mais árduo aceitar que, se eu acreditasse em suas palavras, teria que admitir que tudo foi minha culpa. Que meu filho morreu por minha causa, que eu fui o único culpado.

A balança pesa mais para o lado onde sou o culpado. É até irônico que minha integridade funcione sempre, menos quando se trata da morte do meu filho.

— Não falhou. — Ergo os olhos, os de Louise nadando em pura preocupação. E ainda não sabe um terço de minhas dores. — Me deu Ellie naquele dia.

Seu sorriso é o mais sincero que já vi. E não estou dizendo isso apenas para a fazer se sentir melhor consigo mesma. Ellie conseguiu me tirar da lama em que estava. Uma criança de 3 anos fez muito mais por mim do que eu mesmo fiz durante anos da minha vida.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora