Capítulo 11 - Quer fazer parte de um grupo, Zion?

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Zion


Desvio de um golpe da pequena Ellie, suor escorrendo pelo meu rosto, minhas mãos quase cansadas de segurar a espada de madeira, diferente da filha de Beatrice e Ravena. Ela não cansa um segundo. Embora só tenha 6 anos, se assemelha a uma guerreira treinada. Quando me ofereci para ser seu instrutor de autodefesa, a garotinha entrou em pura euforia, e desde então parece ter energia para recarregar o inferno inteiro.

Ellie ataca pela direita, me obrigando a fazer um movimento rápido para não ser atingido pela espada de madeira. Não tão rápido assim, porque ela consegue se adiantar e imobilizar minhas pernas. Ela só tem 6 anos.

— Está ficando muito lento, Tio Zion — a pequena debocha, os fios retos do cabelo preto quase se soltando do elástico. — Ou está pegando leve comigo.

É claro que estou pegando leve com ela, é uma criança. Ainda assim, sinto que se estivéssemos usando espadas de metal, eu estaria com mais que alguns arranhões. Mas não digo isso a ela, ou talvez Ellie comece a implorar para usarmos as espadas de sua mãe.

— Nenhuma das duas opções. — Me afasto para beber um pouco de água. Ofereço a ela também. — Beba. Uma criança da sua idade precisa se hidratar.

— Eu não uma criança.

Minhas sobrancelhas se erguem em ceticismo e nostalgia.

— Tem 6 anos.

— Minha idade não define o que sou.

A garotinha não tem sangue de Ravena ou Beatrice, mas não nega ser sua filha. Ela tem a habilidade de Ravena para a espada e a garra da líder da Tríade para a persistência. É até estranho pensar que Ellie teve outros pais por um tempo.

— Na verdade — sorrio para a pequena, que obedece e toma um gole do líquido da garrafa — , define. — Ela faz menção em contestar, mas pergunto antes que consiga: — Como anda as aulas com os instrutores de física e matemática?

Um revirar de olhos genuíno cobre seu rosto.

— Odeio matemática. E odeio física também. Se pudesse, eu trocaria todas aquelas malditas aulas por essas.

— Olha a língua. — Quando percebe o que disse, ela tapa a boca, a pele marrom-escura ganhando um tom avermelhado no rosto. — Tudo bem, não vou contar para suas mães. Dessa vez. E só se prometer que vai se esforçar com os instrutores.

Tio Zion... — ela murmura meu nome quase como um clamor, se jogando no piso de pedra da construção dos Portões do Inferno, a calça que usa se enche de poeira com o movimento. — É chato.

— E essencial para a sua formação. — Me aproximo da mesa de armas, colocando a espada de madeira em seu devido lugar.

Ellie não parece convencida.

— Quando estiver em batalha, não vou precisar...

— Você não entrará em batalha, Ellie. — Me inclino em sua direção, seus olhos não acreditam muito nisso. — É apenas uma criança.

— Não agora, mas um dia...

— Não entraremos em guerra com ninguém. — Ofereço a mão para a levantar do chão. — E você irá se esforçar nas aulas de física e matemática. Me ouviu?

Como um suspiro de frustação, a garota dá um aceno breve e agarra as duas mãozinhas em meu braço para conseguir se levantar.

— Como conseguiu esse corte? — Ela aponta para o lado direita da minha cabeça. Não há maldade alguma em seu olhar, somente curiosidade pura.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora