Capítulo 33 - Nunca vou abandoná-los, linda

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Alec


Pisco para afastar as lágrimas pela milésima vez no dia. Preciso ser forte por Callen e Millie, era o que Eva queria. Seja forte por eles.

Não consigo, linda. Onde quer que ela esteja, espero que não escute. Mesmo em outro plano, quero que ela tenha a visão perfeita do macho que amou. Eu te amei mesmo quando negava para mim mesma. Sempre soube disso, enquanto todos zombavam de mim por ter me apaixonado daquela forma, sabia que ela sentia o mesmo. Sabia mesmo antes de tocar seus lábios pela primeira vez. E vou continuar amando em qualquer lugar que eu vá, Alec. Não se esqueça disso, nunca se esqueça.

Não consigo bloquear a lágrima que escorre abaixo de meus olhos dessa vez. Suas palavras se sobrepuseram a qualquer ruído. Era só ela que eu escutava, era só ela que eu via, mesmo através das chamas que consumiam a caverna. Usei meus poderes naquele momento. Não como eu gostaria, mas, pelo menos, consegui tirar sua dor enquanto sua vida se esvai. E então não os senti mais. Nenhum dos dois. Nem Eva nem meu poder.

Ele se foi junto com ela. Com a fêmea por qual meu coração batia. Com a mãe dos meus filhos.

Sou tomado por uma dor dilacerante. Uma dor que me destruiria se não fosse as duas crianças agarradas às minhas pernas enquanto todos trocam olhares de pena em nossa direção. E não deixe eles sozinhos, por favor. A última coisa que ela pediu. E aqui estou eu tentando cumprir minha promessa, tentando ser forte para eles, tentando não desmoronar diante de todos nesse enterro. Mas não sei por quanto tempo vou conseguir continuar fazendo isso. Há momentos em que fico aliviado por ver Luna com a Humana e Aren, mas em seguida sou jogado em direção à dor que despedaça meu coração.

— Por que ela tá aqui, papai? — a voz de Millie me tira dos meus devaneios.

Inclino o rosto, ainda sentindo os olhares em nossa direção.

— O que disse, meu amor? Não ouvi direito.

Seu dedo é erguido e apontado para o outro lado, não muito distante de onde estamos. A Humana, Aren e sua filha estão com os olhos pesados. O restante dos demônios estão por perto, todos vieram prestar uma última homenagem para a mãe dos meus filhos. Até Lion se dignou a vir. E Zion. Embora estivesse se recuperando do ferimento no peito, insistiu em estar com os outros nesse momento.

— Ela não devia estar aqui, matou a mamãe.

Recuo as lágrimas mais uma vez, erguendo Millie em meus braços.

— Não diga isso, meu amor, Luna não teve culpa de... — Sou um fracasso. Nem sequer consigo falar sobre isso, como conseguirei seguir em frente sem ela? — Escute, meu bem, a mamãe amava muito você. Amava os dois. — Escuto os soluços vindo de Callen. Meu peito aperta. — E sempre vai amar, não importa onde estiver.

Millie não discute. Mas se mantém todo o tempo em que permanecemos nas proximidades da Casa do Fogo encarando Luna com os olhos furiosos. Não a repreendo porque sei que está sofrendo e não consegue distinguir a verdade da realidade. Ela é só uma criança. Uma criança que perdeu a mãe. Diferente de Millie, Callen apenas chora. Não diz uma palavra sequer.

Minutos se passam enquanto mais demônios se aproximam. Rostos conhecidos como o da Bruxa-anciã e sua neta. As duas partiram depois que descobriram que Carrie havia, por fim, sido assassinada. Mas, pelo visto, também quiseram estar aqui hoje. Elas se aproximam lentamente, mas percebo como Royse hesita ao ver a pequena Luna. Tenho impressão de ver seus olhos se arregalando, mas minha atenção é tomada pela figura de Lion se aproximando do túmulo de Eva. Ele não diz nada, apenas observa com os olhos cheios de lágrimas o nome de Eva cravado na pedra. E se isso não é o bastante para te fazer voltar, escute o que estou dizendo. Ele, todos eles serão sua ruína. O macho não estava errado de todo modo, Eva se sacrificou para salvar Luna. Não sei por que fez aquilo, ou o que estava pensando quando se jogou, mas ela salvou uma criança inocente. Talvez estivesse pensando que poderia ser Callen ou Millie ali, ou talvez achou que poderia ser mais rápida. Nunca saberei. O questionamento vai se entrelaçar à lápide e retornar sempre que eu vier visitá-la.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora