Capítulo 26 - Tem algo que preciso fazer antes de ir

10 1 0
                                    

Eva


Olhando para tantos Demônios à minha frente, tento não estremecer. Sabia que governar um Clã apenas seria um desafio em tanto, mas dois... Quando Louise me contou sobre o sacrifício de Akira, senti que falhei com ela, que deveria ter a protegido mais. Então tinha que fazer isso por ela, liderar seu Clã. No começo, achei que Louise estava brincando, uma brincadeira de muito mal gosto. Ela não poderia estar falando sério. Por que Akira iria passar uma responsabilidade tão grande para mim?

Porque ela confiava em você. Foi o que Alec disse quando conseguimos conversar sobre isso, ainda nas Terras Sombrias. Aquilo me fez parar. Parar de tentar compreender as coisas e passar a agradecer seu sacrifício. Ela queria que vivêssemos. Akira se sacrificou para salvar não só nosso mundo, mas como todos os que existem. Louise me disse uma vez. E foi aí que conseguir aceitar sua morte e pedido.

Mas agora, de frente para tantos rostos desconhecidos, me pergunto se Akira pensou que eu poderia falhar, que poderia fraquejar diante dois povos totalmente diferentes. E se pensou, por que não escolheu outro demônio para fazer isso.

— Estou aqui — retruco, estufando o peito. — Era isso que queriam, não era?

A casa é grande, mas parece minúscula com tantos demônios tensos olhando de um lado para o outro. Ou melhor, para um rosto que nem deveria estar aqui. Além de ter reunidos os dois Clãs, Lion também se ofereceu para participar da pequena reunião que marquei com todos hoje pela manhã. A Casa do Fogo está tensa, Alec me contou por uma Fenda da Voz que uma fêmea confirmou o sequestro de Luna pela Monroe. E o que ele disse em seguida...

Afasto a memória. Preciso me concentrar em meus demônios nesse momento, não posso ir embora sem resolver isso. E sem saber mais informações sobre Carrie Haven. Irei fazer isso, mas tenho que fazê-los entender que não irei voltar, embora já tenha o feito.

Uma fêmea desconhecida, talvez do Clãs Ossos Dourados, se agita entre os demônios. Vejo-a dando um passo à frente.

— Nossas reinvindicações eram plausíveis, líder — ela murmura, ganhando a atenção de todos. Os cabelos são negros como obsidiana e os olhos arredondados e amarelados assim como sua pele. — Como sequer governar dois Clãs se não vive em nenhum deles?

Mantenho meu rosto inexpressivo. Não me permito estremecer com praticamente todos os olhares assentindo para o questionamento da fêmea.

— Isso já foi discutido há mais de 8 anos atrás. E todos ficaram de acordo quando apresentei meus dois representantes. — Desvio o olhar até Mirrian e Malick no canto direito do cômodo. Eles se mantêm em silêncio, apenas acenam.

— Talvez deva considerar que as coisas mudam, líder. — Novamente estou olhando para a fêmea revoltosa. E me controlo para não cerrar os punhos. — E talvez outro demônio deva assumir a liderança dos dois Clãs.

Pisco, surpresa. E rapidamente levo meus olhos até Lion, questionando se ele sabia que pretendiam me substituir. Ele me olha de volta, como se as palavras de sua missiva estivessem sendo ecoadas sobre as paredes de obsidiana. Demônios revoltosos estão exigindo sua presença nas Terras Sombrias, e prometeram agir caso não o faça. Tentei contê-los, mas não sei se consigo por mais tempo.

Dessa vez não consigo evitar de cerrar o maxilar conforme volto a encarar a fêmea que sugeriu substituir minha liderança. E uso meu tom mais firme para responder:

— Não é assim que funciona, sabe muito bem que a liderança é passada de pai para filho. Eu sou a líder dos Serpentes, e só estou liderando o Clã Ossos Dourados porque Akira pediu. — Akira não tinha familiares, e muito menos filhos. Vivia tão solitária quanto eu em suas Terras.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora