Capítulo 12 - Quer que ele nasça no meio de outra guerra?

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Louise


— Vai demorar muito?

Não que eu não aprecie a sensação de ter as mãos de Aren sobre meus olhos, mas a curiosidade está me dando ânsia de vômito outra vez. E se soubesse, Aren certamente cancelaria o presente que disse ter para me mostrar. Estamos andando somente há alguns minutos, mas não consigo conter a ansiedade. Já se passou tanto tempo, meu filho vem crescendo saudável em minha barriga, está me dando trabalho, claro, noites maldormidas, ânsia de vômito em qualquer hora do dia, mas nada que pudesse tirar a euforia em meu peito.

— Chegamos. — Aren afasta as mãos de meus olhos. Escuto seu suspiro que imagino também ser de ansiedade.

Não faço mistério para separar os cílios.

— O que... um quarto?

De relance, vejo seu meio sorriso crescendo, os cabelos preto-azulado deslizando sobre a testa.

— Não é o que eu estou pensando...? — insisto, hesitando.

Seu sorriso é minha única resposta. A maçaneta gira com um simples sopro de ar frio. Não há palavras em nenhum dos três mundos para explicar o que estou sentindo agora. Não sei se estou respirando ou sobrevoando através do ar que enche meus pulmões. É o quarto do nosso filho. Está totalmente mobiliado e decorado com contornos de chamas e flocos de gelo. O bercinho está posicionado em frente à janela em formato de arco, próximo a um divã gigante que suportaria três demônios deitados. E ele é lindo. No alto dele há uma madeira com dois entalhos perfeitamente alinhados. Um floco de neve envolvido por chamas. Fogo e gelo. Nossos poderes unidos. Há também um guarda-roupa feito de puro ouro, gravado com os mesmos símbolos.

— Isso é... — Me falta ar. — Perfeito. — Dobro o rosto, sentindo um aroma familiar. — Você... fez isso?

Aren dá apenas um pequeno aceno, caminhando até o bercinho, as botas não fazem ruído graças ao carpete cor de marfim que cobre o piso. Ele desliza os dedos sobre a madeira, inspirando o ar como se estivesse absorvendo algum aroma.

— Nosso filho vai abrir os olhos e olhar para o Hell. — Ele afasta o pescoço para a janela. — Vai acordar e ver tudo o que pertence a ele. — Aponta para o divã. — Você estará deitada ali, as mãos agarradas em meu peito, o corpo parcialmente sobre o meu. E quando ele acordar, nós dois vamos sorrir ao ver como ele é perfeito.

Lágrimas cobrem meus olhos, tento ao máximo bloqueá-las, mas não consigo. São todos esses hormônios de fêmea prestes a dar à luz.

Como se sentisse minhas emoções, nosso filho se agita na barriga. Acordou agitado essa manhã. Ele acorda todos os dias, na verdade. É como se mesmo antes de nascer soubesse de quem é filho e que não há calmaria no fogo e no gelo.

— Minhas lágrimas são culpa dos hormônios — brinco, limpando a umidade que escorre abaixo dos olhos. Sorrio para Aren. — Qual a sua desculpa?

Seu sorriso é tamanho do inferno inteiro.

— Não tenho desculpas, Minha Louise. Estou chorando porque te amo. Porque amo nosso filho. E ele ainda nem nasceu e...

Eu o beijo. E entre nós consigo sentir nossos poderes se unindo mais uma vez. São como estrelas explodindo no céu.

— E aqui estava eu pensando que não seria mais surpreendida pelo diabo.

— Não deveria estar tão impressionada assim...

— Porra, você já construiu o quarto do bebê inteiro. Como eu não estaria impressionada?

Seu corpo se afasta apenas um pouco do meu, os braços ainda envolvendo minha cintura. Daria qualquer coisa para congelar esse momento, a forma como seu olhar é apontado para minha barriga, como se visse o futuro através da escuridão que incendeia o brilho de seus olhos, como se apagasse o rio de lágrimas que enche nosso passado. Aren é meu lar, não importa onde esteja.

Burning In Hell: O Que Foi Roubado (Livro IV)Onde histórias criam vida. Descubra agora