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Horas antes do jantar

- Esse cidadão que vem visitar o Rio vocês já sabem quem é, não sabem? Só que vocês não sabem que ele vai dormir na casa do acerbispo, que fica no Morro do Turano. - Carvalho fala fazendo todos os homens naquela sala soltar uma risada irônica.
- Ah Carvalho, que porra é essa? - Falo do outro lado da mesa. - Você tá de sacanagem, o Turano em guerra e o Papa vai dormir em cima do morro?
- Tô falando sério Nascimento, vamos garantir o sono do Papa
- Porra coronel, eu pago um hotel pra ele em Copa Cabana. - Falo ainda não acreditando naquilo que estava ouvindo.
- Fiquei um mês tentando convencer o secretário de segurança mas nem Deus muda o cronograma do Papa. - Carvalho fala. - Ele vai dormir aí e ponto final.
- Puta que pariu. - Falo respirando fundo tentando me controlar
- E tem mais uma coisa, temos três meses para tentar apaziguar o Turano. Vamos fazer incursões diárias.

Só podia ser brincadeira com a minha cara, incursões diárias? Porra, o Papa já tinha vindo
no Rio de Janeiro duas vezes, será que não dava pra ele saber como a banda toca por aqui?

- Desculpa coronel, mas o senhor concorda com isso? - Falo me afastando da mesa. - Vamos subir à noite, sem efeito surpresa, de baixo de tiro?
- Nascimento - Carvalho chama a minha atenção.
- Vai morrer gente coronel. - Falo mais uma vez ignorando Carvalho
- Nacimento! - Carvalho fala mais alto. - É isso que vai ser feito e a operação começa amanhã. Fui claro?
- Sim senhor. - Falo acompanhado de todos os homens presentes naquela sala.
- Dispensados.

Eu estava puto pra caralho, é claro que político nenhum quer ver o Papa baleado em sua cidade. Se o papa quer ficar perto de uma favela, o que vocês acham que o governador vai fazer?
Correr o risco de uma bala perdida acertar a cabeça de sua santidade?
É claro que não parceiro. Ele vai ligar pro Bope.

...

Bato na porta da casa da Rosane e espero alguns minutos até ela atender segurando meu filho no colo.

- Não precisa bater Beto, você é de casa. - Rosane fala assim que abre a porta.
- Fala moleque do papai. - Falo com o meu filho ignorando completamente a fala de Rosane. - Você tá cada vez maior.
- Papai, aprendi um golpe novo do karatê. - Ouço a voz infantil do meu filho e de repente tudo lá fora não importava mais.

Rafael é a única pessoa que tem o poder de me fazer esquecer completamente o trabalho, quando eu estava com ele eu era apenas o Roberto. O Capitão Nascimento não existia, o Bope não existia, muito menos a missão suicida do Papa
Nada importava, nada me abalava, eu estava ali com ele e isso bastava.

- Vai ensinar para o papai? - Falo pegando ele do colo de Rosane.
- Vou. - Rafael fala e entramos em casa.

Fico com ele no quintal até Rosane o chamar para tomar café da tarde, Rafael me puxa pelas mãos até a cozinha e pede para se sentar em meu colo enquanto come.

- Que bom que você está aqui Beto. - Rosane fala me fazendo olhar em sua direção. - Ele fica mais feliz quando estamos juntos. Os três.
- Também estou feliz de estar aqui com ele. - Falo ajudando o Rafael a beber o suco.
- E comigo? - Rosane fala e eu respiro fundo. - Você não fica feliz de estar aqui comigo?
- Rosane não começa. - Falo encarando a mesma sério.
- Beto olha a sua volta, olha a família linda que você está abrindo mão.

Não queria entrar nesse assunto com a Rosane porque nunca termina bem. Eu queria ter uma relação amigável com ela por causa do meu filho, mas ela não facilitava.

- Rafa pode voltar para o quintal agora, a mamãe precisa conversar com o papai. - Rosane fala tirando o meu filho do meu colo.

Rafael vai para o quintal e Rosane se aproxima de mim colocando sua mão direita no meu rosto.

- Não faz isso Rosane. - Falo me levantando sentindo meus olhares sobre mim.
- Beto eu te amo, amo a nossa família. Sei que você também sente o mesmo. Você ainda me ama!
- Não faz ser mais difícil do que já é Rosane.
- Não precisa ser difícil Beto.

Rosane se aproxima novamente e dessa vez permaneço no mesmo lugar. Sinto seus braços em volta do meu pescoço e a encaro não tão sério quanto antes.
Rosane se aproxima cada vez mais e sinto sua boca próxima a minha.
Sem pensar muito bem, puxo ela para mais perto e agarro sua cintura.
Quando penso em iniciar um beijo meu celular toca e era o Mathias, afasto o corpo da Rosane do meu e pego o aparelho no meu bolso.
Mathias fica alguns minutos falando e assim que termina de passar as coordenadas da próxima operação finaliza a ligação.

- Vou me despedir do Rafa, tenho que trabalhar. - Falo não olhando em seu rosto e vou em direção ao quintal.
- Claro, sempre o trabalho. - Rosane fala mas não dou muita importância e continuo o trajeto até o quintal onde se encontrava meu filho.

Santo Mathia...

Com amor, Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora