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- O que? - Pergunto confusa olhando para Beto. - O que você tá fazendo?
- 02 leva o menino. - Beto fala e Mathias obedece. - Tá maluca porra? O que você tá fazendo aqui?
- Beto eu.... eu eu... - Beto me olha e respira fundo.
- Puta que pariu Clara, no meio da operação você faz uma merda dessa. - Beto fala segurando a arma. - Vou perguntar de novo, o que você tá fazendo aqui? - Ele fala mais alto dessa vez. - Conhece aquele menino?
- Trabalho da faculdade eu... eu não conheço ele me ajudou e...
- Fala logo porra, tá gaguejando pra caralho. - Beto fala e eu fico assustada e ele percebe isso. - Puta que pariu parceiro.
- Beto eu vou ser presa? Eu não fiz nada eu juro eu só...
- O que você está fazendo aqui? Eu só quero saber isso. - Beto repete mais uma vez.
- Eu estava indo pra ONG...
- Mathias. - Beto grita e vai em sua direção falando algo baixo. - Depois conversamos. - Beto fala se aproximando novamente.

Eu não estava entendo, Beto estava me prendendo?
Mathias segura meu braço e eu o olho assustada.

- Tá me levando pra onde? - Falo tentando me soltar.
- Se resistir vai ser pior. - Mathias fala me puxando e eu olho para trás assustada encarando Beto.

...

O carro para em frente ao batalhão e o policial ao meu lado desce e logo em seguida abre a porta do passageiro.

- Vamos! - Ele fala e eu obedeço.
- Posso te perguntar uma coisa? - Pergunto arrumando minha bolsa no ombro.
- Não. - Ele fala e abre a porta de vidro. - Entra!

Não falo mais nada e entro no batalhão olhando tudo. Tinha o símbolo do Bope para todos os lados e muitos retratos nas paredes.

- 03 não libera ela até o Capitão chegar. - Mathias fala e o homem à sua frente confirma com a cabeça assim que Mathias fala algo próximo ao seu ouvido.
- Vamos? - Ele fala se aproximando.
- Eu estou sendo presa por que? - Pergunto fazendo ele soltar uma risada baixa
- Você não está sendo presa. - Neto fala abrindo uma porta com o nome do Beto. - Daqui a pouco o Capitão chega! - Fala assim que eu entro e logo em seguida ele sai fechando a porta novamente.

Passo o olho naquela sala e observo a pilha de papel em cima da mesa. Me aproximo pegando uma das folhas mas não entendo quase nada do que estava escrito. Meus olhos batem em um porta retrato próximo á pilha e pego ele observando a foto. Era a foto do nascimento do filho do Beto. Ele, sua ex mulher e seu filho enrolado no cobertor do hospital.
Acharia fofo se não tivesse a ex mulher na foto.

...

Beto abre a porta e me olha sentada no sofá. Ele estava mais sério do que nunca, ele tira a arma que estava em volta do seu corpo e coloca em cima da mesa.

- Beto, tá tudo bem? - Falo ajeitando a postura no pequeno sofá daquela sala.
- Não. - Ele responde sério. - Você quase estragou a minha operação.
- Eu? - Falo surpresa. - Você tá maluco?
- Ah, voltou a ser corajosa agora? - Beto fala me olhando.
- Eu estava nervosa Beto. - Falo colocando o cabelo atrás das orelhas.
- O que você estava fazendo lá? - Beto pergunta ainda me encarando. - Virou marmita de vagabundo agora?
- O que? - Falo me levantando. - Não que seja da sua conta, mas eu estava indo pra ONG.
- ONG o caralho. - Beto fala e logo em seguida passa a mão no rosto. - Desculpa.

Olho para o Beto ainda tentando entender como alguém podia mudar tanto ao vestir uma farda. Normalmente sou eu quem explode e não deixa ele terminar de falar. Mas entendo seus motivos, eu no lugar dele faria e falaria coisas piores.

- O que você ia fazer na ONG, Clara? - Beto  fala com a voz baixa. - Você podia ter levado um tiro, você tem noção?
- Trabalho da faculdade. - Falo encarando o mesmo.
- Sozinha? - Beto me questiona
- Eu estava atrasada.
- E sua amiga? - Beto fala se aproximando e para em minha frente.
- Não quis me esperar. - Falo e Beto solta uma risada irônica.
- Ótima amiga que você tem. - Beto fala se afastando novamente. - Não quero você em favela, escutou?
- Você tá achando que me manda? - Pergunto não acreditando no que ele tinha acabo de falar. - Você bateu a cabeça nessa operação, só pode.
- Tô querendo cuidar de você. - Beto fala se aproximando mais uma vez. - Vou falar de novo, não quero você subindo favela!
- Eu sei me cuidar sozinha! - Falo séria.
- Com certeza, vi isso hoje. - Beto fala com ironia.

Fico em silêncio e Beto faz o mesmo, não sabia o que dizer e ainda estava muito assustada e com os pensamentos no menino que estava do meu lado na hora do ocorrido.

- Tá machucada? - Beto fala se sentando do sofá. - Deixa eu ver.
- Não estou. - Falo sentindo sua mão passar pelo meu braço.
- Você teve notícia dos meus amigos? - Pergunto ainda observando ele mexer no meu corpo procurando algum machucado.
- Seus amigos? - Beto fala me encarando. - Deixaram você para trás, sozinha na favela no meio de um tiroteio e você ainda  quer saber se eles estão bem? - Beto fala sério.
- Eu me preocupo com eles...
- Alguém te mandou uma mensagem perguntando se você está bem? - Beto fala olhando o celular em minha mão. - Abre aí pra gente vê.
- Não. - Falo baixo colocando o cabelo atrás das orelhas.
- Então pronto. - Beto fala colocando mão no meu queixo. - Única pessoa que me importa é você, que bom que está bem! - Fala logo em seguida beijando minha testa.
- Obrigada por hoje eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido. - Falo me aproximando e deitando em seu peito.
- Você pode me agradecer mais tarde! - Beto fala descendo suas mãos até minha bunda. - Você vai dormir comigo hoje!

Com amor, Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora